Portugal tem uma das maiores influencers de inteligência artificial do mundo
Inteligência Artificial. Duas palavras que já não nos surpreendem, mas cujas ramificações continuam a desafiar a nossa perceção do real.
Nos últimos anos, um novo fenómeno emergiu nas redes sociais que desafia a fronteira entre o humano e o digital. Já não são apenas pessoas reais a ditar tendências, a vender produtos ou a acumular milhões de seguidores. Agora, há rostos pixelados, vozes sintetizadas e personalidades meticulosamente programadas a ocupar o mesmo espaço. São os influenciadores virtuais — criaturas digitais criadas por IA que, em muitos casos, conseguem ser mais convincentes do que muitos de nós.
Mas o que está por trás desta revolução silenciosa? Serão estas figuras meras ferramentas de marketing ou o início de uma nova era na comunicação social? E, mais importante ainda: o que perdemos — ou ganhamos — quando deixamos que algoritmos nos influenciem?
Portugal tem uma influencer virtual no pódio
Sim, leste bem. Uma das figuras mais promissoras neste universo não é americana, nem japonesa, nem sequer foi criada por uma gigante tecnológica. Chama-se Olivia ou @Oliviaislinvinghigh no Instagram, é uma IA portuguesa, e conquistou o terceiro lugar no concurso Miss Avatar, um certame que celebra a beleza e influência digital. Com um visual impecável, um estilo de vida luxuoso e um feed cuidadosamente curado, Olivia é a prova de que Portugal também está no mapa desta revolução.
Mas quem está por trás dela? Ao contrário dos influenciadores tradicionais, Olivia não tem medos, inseguranças ou dias maus. A inteligência artificial não envelhece, não comete gaffes e nunca se envolve em polémicas — a não ser que Myriam Bessa, fundadora da agência Phoenix AI, assim o queira. E é precisamente aqui que reside o fascínio (e o perigo) destas figuras: são perfeitas porque foram concebidas para o ser.
Ainda assim, o sucesso de Olivia não é um caso isolado. Empresas como a Brud (responsável por Lil Miquela) ou a Dream Farm Agency (por trás de Shudu) já provaram que avatares digitais podem ser tão — ou mais — rentáveis do que influencers humanos. E, com a evolução da inteligência artificial generativa, estas entidades estão a tornar-se cada vez mais convincentes.
O impacto cultural da IA
Se há algo que os influenciadores humanos têm, mesmo nos seus momentos mais encenados, é imperfeição. Choram em stories, cometem erros, mudam de opinião. Já os avatares digitais são, por definição, curated personas (identidades tratadas) — versões ideais de algo que nunca existiu. E isso levanta questões incómodas: até que ponto estamos dispostos a seguir, admirar e até comprar produtos recomendados por alguém que, afinal, não é alguém?
Por outro lado, há vantagens inegáveis. Marcas como Balmain e Prada já contrataram modelos digitais IA para campanhas, argumentando que estes avatares oferecem consistência, flexibilidade criativa e isenção de escândalos. Enquanto um influencer humano pode cair em desgraça após um comentário infeliz, um avatar nunca se desvia do guião.
Mas será essa a direção que queremos? Como nota Jul Parke, investigadora da Universidade de Toronto, há um padrão preocupante: “É uma nova forma de comercializar identidades que não lhes pertencem”, alerta. E, num mundo onde a autenticidade já é uma moeda rara, será que queremos substituí-la por algoritmos?
E tu? Já segues alguém que não existe?
A linha entre o real e o virtual está a esbater-se, e não há volta a dar. Os influenciadores digitais vieram para ficar, e Portugal já tem o seu lugar nesta narrativa. Mas cabe-nos a nós decidir: aceitamos esta evolução como uma ferramenta criativa ou resistimos à ideia de que, um dia, as nossas referências culturais possam ser… ficção?
O que achas deste influencers artificiais? Deixa a tua opinião nos comentários. Afinal, esta conversa ainda é (por enquanto) entre humanos.