Quentin Tarantino adora este western considerado o mais devastador da história do cinema
Se há um filme que Quentin Tarantino desejaria ter feito seria um obscuro e sangrento western italiano que poucos ousaram terminar.
O cinema é um cemitério de influências. Algumas são óbvias, como os tributos descarados de Quentin Tarantino a “City on Fire” ou “Lady Snowblood“. Outras, porém, são mais subtis—como um faroeste esquecido dos anos 60 que moldou não só “The Hateful Eight“, mas toda a filosofia cinematográfica do realizador. Não falamos de Sergio Leone. Não falamos de Clint Eastwood. Falamos de Sergio Corbucci que tem um filme tão brutal que até Tarantino hesitou em copiá-lo por completo.
Porquê? Porque este não é um western sobre heróis. É um filme sobre fracasso, vingança e, acima de tudo, silêncio—um silêncio que ecoa em cada plano de “The Hateful Eight”. E se Quentin Tarantino o venera, talvez seja hora de perguntar: o que há neste filme que até um mestre da violência considera demais?
O faroeste que Quentin Tarantino não teve coragem de filmar
Em 1968, Sergio Corbucci—o “outro Sergio” do spaghetti western—lançou “Il Grande Silenzio” (O Grande Silêncio), um filme tão brutal quanto poeticamente desesperançado. Ao contrário dos heróis cínico-charros de Leone, aqui não há redenção. Só neve, sangue e um silêncio que corta como uma navalha.
Assim, Tarantino fala da sua inspiração à The New York Times e a influência vai além da narrativa. A fotografia gelada de “Hateful Eight”, com os seus close ups em rostos marcados pelo ódio, é um tributo direto a Corbucci. E aqui está o detalhe genial: enquanto Leone usava desertos, Corbucci escolheu a neve—um cenário que transforma a violência em algo quase elegíaco.
O final? Ah, o final. Sem spoilers, mas digamos que “Hateful Eight” é uma versão light do que Corbucci fez. Num género inegavelmente conhecido por duelos épicos, “Il Grande Silenzio” opta por um desfecho que desafia o próprio conceito de justiça. Quentin Tarantino, em “Kill Bill“, deixou Beatrix Kid vingada. Corbucci? Nem tanto.
Por que este filme ainda assombra o cinema moderno?
A resposta está no seu niilismo. Enquanto “The Good, the Bad and the Ugly” brinca com a moralidade, “Il Grande Silenzio” nega-a. Silenzio (Jean-Louis Trintignant), o protagonista mudo, é inegavelmente um anti-herói que falha. Loco (Kinski) é um vilão que vence. E a neve? A neve cobre tudo, como se a natureza risse da insignificância humana.
Assim, curiosamente, o filme foi um fracasso em 1968. Mas décadas depois, tornou-se culto—não só por Quentin Tarantino, mas por realizadores como Alejandro González Iñárritu (The Revenant) e os irmãos Coen (No Country for Old Men).
A lição? Às vezes, a arte precisa de tempo para ser entendida.
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