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Rob Reiner (1947–2025) | Morreu o homem que acreditava nas pessoas, mesmo quando o mundo não merecia

Rob Reiner foi encontrado morto este domingo na sua casa em Brentwood, Los Angeles, ao lado da mulher, a fotógrafa Michele Singer Reiner. A polícia investiga um aparente homicídio.

Torna-se estranho ver como Rob Reiner teve um final violento, abrupto e profundamente injusto — esfaqueado — para um cineasta que passou a vida a filmar empatia, amizade, amor e a estranha beleza de sermos falhados. Este é um obituário sem vénias solenes é antes demais um adeus com memória, ironia e respeito.

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Rob Reiner (à direita) em “O Lobo de Wall Street” | © 2013 Paramount Pictures

O realizador que nunca quis ser maior do que as histórias

Rob Reiner tinha 78 anos. Michele, 68. Casados desde 1989. O choque não vem só da violência da morte, vem do contraste brutal com a obra. Reiner foi efectivamente o grande cronista das nossas fragilidades colectivas e fê-lo sem cinismo gratuito, sem pose autoral, sem a necessidade infantil de provar genialidade a cada plano.

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VÊ TRAILER DE “ISTO É SPINAL TOP”

Fez “Isto é Spinal Tap”, sobre a banda de heavy metal mais absurda da história do cinema (e ainda hoje confundida com um documentário ou melhor com um mockumentary). Rob Reiner filmou quatro miúdos a caminhar sobre carris rumo ao fim da inocência em “Conta Comigo”. Deu-nos uma princesa, um espadachim mascarado e uma declaração de amor perfeita em “A Princesa Prometida”. Mostrou-nos o terror íntimo de “Misery — O Capítulo Final”. Perguntou se amizade e sexo podiam coexistir em “Um Amor Inevitável”, com Billy Cristal em frente a Meg Ryan, com esta no restaurante a simular o orgasmo. E colocou Jack Nicholson a gritar a frase mais citada da história dos tribunais em “Uma Questão de Honra”. Poucos realizadores atravessaram géneros com esta leveza. Reiner não reinventava a roda; afinava-a. Hoje isso parece quase subversivo.

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Antes do cinema, “Meathead” e o peso do apelido

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Antes de ser realizador Rob Reiner, foi actor: interpretou Michael “Meathead” Stivic em “Tudo em Família”, a sitcom que ajudou a redefinir a televisão americana dos anos 70. Ganhou Emmys, foi nomeado para os Golden Globes e carregou o rótulo clássico do “nepo baby”. Era filho do multifacetado Carl Reiner — também ator, cineasta, produtor, escritor, e comediante — e cresceu sob essa sombra pesada. Nunca a negou. Mas também nunca se escondeu atrás dela. O próprio dizia que “Conta Comigo” foi o primeiro filme verdadeiramente seu. Sente-se isso: ali não há ironia defensiva, só memória, perda e ternura.

VÊ TRAILER DE “UM AMOR INEVITÀVEL”

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Castle Rock, Hollywood e o fim dos filmes com alma

Rob Reiner foi também co-fundador da produtora Castle Rock Entertainment, a casa por trás do filme “Os Condenados de Shawshank”, da série “Seinfeld” e de outros pilares da cultura popular. Durante anos, foi possível em Hollywood fazer cinema médio, adulto, inteligente, sem super-heróis nem universos partilhados. Depois deixou de ser. Reiner dizia-o sem rodeios: Hollywood passou a querer apenas lucros obscenos e ideias recicladas. Os pequenos filmes ficaram sem casa. Ele vinha de outro tempo aquele em que contar boas histórias ainda bastava, para ter bons filmes e espectadores.

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Política, convicções e a utilidade de incomodar

Nunca foi neutro. Ativista, anti-Trump militante, defensor do casamento igualitário, dos direitos civis e da saúde pública. Irritou muita gente, pois um artista que não incomoda serve apenas de decoração.

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Um fim que parece um filme errado

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A ironia cruel é esta: um cineasta sempre associado ao conforto emocional do cinema termina a vida num cenário de violência ainda por explicar. Um final de film noir para alguém que acreditava obstinadamente na bondade possível das pessoas. Rob Reiner deixa quatro filhos e uma obra imensa que atravessa gerações. E deixa-nos uma pergunta incómoda: porque é que os que filmam a humanidade com mais delicadeza raramente têm direito a um final digno? Talvez a vida não respeite assim tanto os arcos narrativos como o cinema.

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