Sons e Tons de 2013. Mais um ano que passou na Era da Reciclagem

Sons e Tons de 2013

Parte I – Mais um ano que passou na Era da Reciclagem

Se musicalmente o ano de 2013 não trouxe nada de propriamente novo e revolucionário, não deixou de ser um ano interessante, marcado essencialmente por muitos regressos, algumas confirmações e poucas revelações. Um ano de reciclagem mais do que de ideias novas, como o ilustra a paradigmática capa de The Next Day de David Bowie, ela própria uma reciclagem da capa do histórico álbum “Heroes” de 1977. Assim, neste contexto de reciclagem, muitas vezes feita sobre o que já tinha sido reciclado, coube aos Vampire Weekend com o seu terceiro trabalho, Modern Vampires Of The City, assinarem o melhor disco do ano. Além de David Bowie, nomes como Nick Cave & The Bad Seeds, My Bloody Valentine, Daft Punk, Queens of The Stone Age, Devendra Banhart, The Yeah Yeah Yeahs, Pixies, Primal Scream e Depeche Mode, após ausências de pelo menos quatro anos, protagonizaram os grandes regressos do ano. Já menos inesperados, embora também importantes, foram os regressos dos Arcade Fire, MGMT, The National, Laura Marling, Jon Hopkins, Eleanor Friedberger, These New Puritans, James Blake, Fuck Buttons, Deerhunter, Pond, Foals, Jake Bugg, Arctic Monkeys, Janelle Monae e MIA, nomes que se têm mantido no activo (e bem) nos últimos anos e confirmaram uma vez mais a sua importância. Bowie and Tilda Swinton in The Stars Are Out Tonight Mas o ano trouxe também nomes novos (alguns até com ideias novas), cujos discos de estreia ficarão certamente na história da música popular e na memória de muitos melómanos: Hookworms, Jaguar Ma, Chvrges, Drenge, Savages e Bastille são disso exemplo. Na  música de dança houve também grandes estreias em disco, de que merecem especial destaque os Disclosure e os Factory Fall. Referência ainda para Earl Sweatshirt que com Swift fez o melhor álbum de hip-hop de 2013, área musical que assistiu também ao regresso da irreverente MIA com Matangi e de Kanye West com Yeezus, um dos melhores álbuns de toda a carreira deste rapper. Na cena main-stream, pois também são filhos de Deus (e muitas vezes até mais que os outros), destaque para Justin Timberlake, Beyoncé, Lady Gaga e a estreia dos MS.MR. Em Portugal o álbum Roma de JP Simões merece certamente a menção de melhor álbum do ano. A edição de 2013 do festival da Eurovisão foi ganha por Only Teardrops de Emmelie de Forest da Dinamarca, embora a melhor música fosse a da Hungria, Kedvesem,interpretada por Bye Alex. Portugal nem sequer esteve presente, ocupados que estávamos com a crise, embora a Grécia, pelo que pareceu bem mais livre de preocupações, tivesse participado e conseguido um dos melhores momentos da noite com o divertido Alcohol Is Free dos irreverentes Koza Mostra com Agathon Iakovidis. Nas Bandas Sonoras, de referir a do filme Great Gatsby (oiça aqui) que inclui nomes como Jay Z, Beyoncé, Jack White, Lana Del Rey, Bryan Ferry Orchestra, Florence & The Machine e The x-x, entre outros, e também a excelente banda sonora do documentário Searching For the Sugar Man, exclusivamente com música do genial Sixto Rodriguez, que embora em rigor seja ainda de 2012, ganhou visibilidade em 2013 após o documentário de que faz parte ter sido justamente premiado com um óscar da Academia em Fevereiro de 2013. great gatsby bso No Cinema dois filmes destacaram-se especialmente A Proposito de Lewin Davis  de Ethan e Joel Cohen, que conta a história não bem sucedida de um cantor de folk, e o Desconhecido do Lago do francês Alain Guiraudie, um  trhiller excepcional e bizarro, um pouco à maneira de Hitchcook, que cruza o ambiente sórdido de um espaço de relações fortuitas com o voyeurismo obsessivo de algumas personagens. Continuando a falar de 2013, merecem também uma menção especial o filme independente Afternoon Delight de Jill Soloway, a autora da saudosa série televisiva Sete palmos de Terra, e a obra de ficção científica Gravidade, do mexicano Alfonso Cuarón. Dignos de menção são também os filmes Kill Your Darlings de John Krokidas, que reconstitui momentos da juventude de três dos heróis da beat generation, Jack Kerouack, William Burroughs e Allen Ginsberg, e Five Dances de Alan Brown, que nos conta uma história nos bastidores do mundo do bailado contemporâneo em Nova Iorque, oferecendo-nos momentos inesquecíveis, em grande parte devido à magnífica performance do actor e bailarino Ryan Steele. insidellewyndavis_620_012413 Na produção cinematográfica americana de 2013 marcaram também presença nomes como Woody Allen, Sofia Copolla e Paul Schradder, ao mesmo tempo que, do outro lado do Atlântico, o cinema europeu continuava a dar provas de ser um rival à altura. Exemplo disso é o já referido filme de Alain Guiraudie, os de Lars von Trier, Paolo Sorrentino e Stephan Lacant ou mesmo o excelente resultado da co-produção germano-cazaquistanesa, Lições de Harmonia. Fora da América e da Europa chegaram-nos também filmes muito interessantes como Omar de Palestina ou A Imagem que Falta do Camboja, um filme sobre a guerra que mistura as técnicas de documentário com as do cinema de animação. De Portugal é impossível não referir o excelente filme-documentário, E Agora Lembra-me, de Joaquim Pinto, premiado no Doclisboa 13 e na Suiça, no Festival de Cinema de Locarno, um verdadeiro marco na produção cinematográfica nacional. Em 2013, Carlos Conceição assinou o filme Versailles, entretanto seleccionado para a edição de 2014 do Festival de Locarno e de Cannes. Inconnu-Bandeau TOP filmes de 2013  (lista do autor)

01- O Desconhecido do Lago, Alain Guiraudie

02 – A Propósito de Llewin Davis, Ethan & Joel Coen

03 – Afternoon Delight, Jill Soloway

04 – Gravidade, Alfonso Cuarón

05 – Kill Your Darlings, John Krokidas

06 – Five Dances, Alan Brown

07 – Blue Jasmine, Woody Allen

08 – O Clube de Dallas, Jean-Marc Vallée

09 – A Vida de Adéle, Abdellatif Kechiche

10 – Lições de Harmonia, Emir Baigazin

11 – Ninfomaníaca, Lars von Trier

12 – Freier Fall, Stephan Lacant

13 – O Grande Gatsby, Baz Luhmann

14 – A Grande Beleza, Paolo Sorrentino

15 – The Conjuring / A Evocação, James Wan

16 – Antes da Meia-Noite, Richard Linklater

17 –  The Hunger Games: Em Chamas, Francis Lawrence

18 – Her / Uma História de Amor, Spike Jonze

19 – A Imagem Que Falta / L’image manquante, Rithy Panh

20 – Omar, Hany Abu-Assad

21 – Nebraska, Alexander Payne

22 – The Canyons (adapt. de Brett Easton Ellis), Paul Schrader

23 – Drinking Buddies, Joe Swanberg

24 – Isto É o Fim / This Is The End, Evan Goldberg / Seth Rogen

25 – Bling Ring / O Gangue de Hollywood, Sofia Copolla

Em termos de Séries Televisivas 2013 foi também um ano muito interessante. Assim, Madmen (t.4), Breaking Bad (t.5), Downtown Abbey (t.4), A Guerra dos Tronos (t.3), Boardwalk Empire (t. 4), Lei & Ordem: Unidade Especial (t.14 e parte da t.15, pois ainda está a passar nos EUA), Californication (t.6), Uma Família Muito Moderna (t.5), True Blood (t.6), Os Bórgia (t.2), Segurança Nacional (t.3), The Walking Dead (t.3 e a 1ª parte da t.4) e, last but not least, a conclusão da já saudosa série Spartacus (t.3) foram algumas das produções que em 2013 confirmaram não só a sua alta qualidade, mas a importância sociológica das séries televisivas no mundo contemporâneo. Merecem ainda uma ovação muito especial, enquanto estreias de 2013, as séries televisivas Ripper Street, Vikings, The Bridge e Crossing Lines, que esperamos ansiosamente continuar a ver em 2014. madmen t4

TOP de séries televisivas  2013  (lista do autor)

01 – Madmen (t.4)

02 – Breaking Bad / Ruptura Total (t.5)

03 – Spartacus (t.3)

04 – Vikings (t.1)

05 – A Guerra dos Tronos (t.3)

06 – Ripper Street (t.1)

07 – Downtown Abbey (t.4)

08 – Boardwalk Empire (t. 4)

09 – The Bridge (t.1)

10 – Lei e Ordem: unidade Especial (t.14 / t.15)

11 – Californication (t.6)

12 – Uma Família Muito Moderna (t.5)

13 – Homeland / Segurança Nacional (t.3)

14 – The Walking Dead (t.3 / t.4)

15 – Os Bórgia (t.2)

16 – True Blood (t.6)

17 – As Aventuras de Merlin (t.5)

18 – Crossing Lines (t.1)

19 – Jornalistas (t.2)

20 – Mentes Criminosas (t.9)

21 – Diários do Vampiro (t.4 / t.5)

22 – Whitechapel (t.4)

23 – Shameless (t.8)

24 – Falling Skies (t.3)

25 – Southland (t.5)

 

Na Literatura, destaque a nível nacional para dois grandes livros, de dois grandes autores, A Desumanização, de Walter Hugo Mãe, e  A Liberdade de Pátio, de Mário de Carvalho, e ainda para duas grandes reedições, Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde, também de Mário de Carvalho, e os Emigrantes, de José Ferreira de Castro. Também as edições em português, feitas durante o ano de 2013, de A Luz é mais Antiga que o Amor de Ricardo Menéndez Salmón, 40 Histórias de Donald Barthelme e A Sentinela de Richard Zimler merecem uma referência especial. Num registo mais comercial, na área do romance histórico, destaque para mais uma aventura dos romanos Cato e Macro, na edição em português do Pretoriano de Simon Scarrow, enquanto se aguarda impacientemente que Steven Saylor prossiga a saga de Gordiano, o Descobridor na coleção Roma Sub Rosa, quando já se sabe que em 2014 sairá, pelo menos nos Estados Unidos, Raiders of the Nile, a sequela do excelente livro As Sete Maravilhas do Mundo, editado em Portugal ainda em 2012. liberdade do patio Por falar em romanos, isto é, em loucos, 2013 foi também o ano do regresso de Astérix, que na sua visita aos Pictos esteve, porém, muito longe do seu melhor. O mesmo aconteceu com o regresso da dupla Blake & Mortimer, com A Onda Septimus, que desta vez esteve mesmo muitíssimo aquém dos grandes livros assinados por E.P. Jacobs. Pouco impressionante foi também o novo livro de Alix, La Dernière Conquête, e o tomo 2 de Le Spartiate de Patrick Weber e Christophe Simon, ambos editados em 2013. No entanto, nem tudo foi decepcionante no mundo da Banda Desenhada no ano que passou. Pelo contrário, a série Murena, dos belgas Dufaux e Delaby, e as séries do suiço Marini, As Águias de Roma e Escorpião (esta ainda sem edição nacional dos últimos tomos), confirmaram em 2013, além do seu alto nível, serem das melhores séries de BD de sempre. O mesmo se poderia dizer da série XIII, a saga de um agente secreto que perdeu a memória, assinada pelos belgas William Vance e Jean Van Hamme, que teve o 21º álbum da coleção editado em 2013 e da série Barracuda de Dufaux e Jérémy de que foi editado Révoltes, o tomo 4. Para terminar esta incursão pela BD, referir apenas que entre as grandes séries contemporâneas se poderiam colocar também as do Gato do Rabino, de Joann Sfar, e de Socrate le demi-chien (ainda sem edição nacional), de Christophe Blain e Joann Sfar, de de que se esperam há anos as edições prometidas de álbuns novos – quem sabe para 2014? Falando agora de más notícias, a pior notícia musical do ano foi sem dúvida a morte de Lou Reed, eterno enigma, fundador dos Velvet Underground e autor de obras-primas como Transformer, Berlin, New York e Songs For Drella, esta última de pareceria com John Cale. Outros nomes importantes da história da música popular partiram também em 2013: o imortal George Moustaki, Kevin Ayers (Soft Machine), Ray Manzarek (The Doors), Richie Heavens, J. J. Cale, Peter Banks (Yes)  e Alvin Lee (Ten Years After). Já perto do final do ano, morreu o célebre assaltante de bancos britânico, Ronnald Biggs, que em 1978 editou o single No-One Is Innocent com os Sex Pistols, e serviu de inspiração ao célebre (e raro) máxi-single  Prisoner from Rio de Dave Ball (um dos membros dos Soft Cell) em 1988. No cinema chorou-se a morte do actor Peter O’Toole (Lawrence da Arábia, Calígula, Tróia, O Que Há de Novo, Gatinha?), do actor Paul Walker (Velocidade Furiosa) e do realizador Nagisa Oshima (Merry Xmas Mr. Lawrence, Império dos Sentidos, Império da Paixão). Por fim,o ano de 2013 ficou marcado não só pela morte de Nelson Mandela, mas também de Hugo Chávez, dois políticos diferentes, que transformaram as suas utopias em realidade. O mundo perdeu ainda o arquitecto e utopista Paolo Soleri, o fundador de Arcosanti, a cantora Petti Page, o modelo Dimitry Tanner e a actriz Jean Stapleton, celebrizada pelo papel de Edith na série televisiva Uma Família às Direitas. Enfim, mais um ano que passou. lou-reed site Um ano em que as pessoas andaram demasiado preocupadas com ajustamentos, défices e orçamentos, esquecendo o que é realmente importante: a música, o cinema, a poesia, numa palavra, a cultura. (Parte II deste artigo) – Top 30 Melhores Albuns de 2013)   João Peste Guerreiro