Stephen Graham revela a regra secreta por de trás do sucesso de Adolescence da Netflix
“Adolescence” aborda um território de sombras e luzes desconfortáveis que raramente é retratada com a crueza necessária.
A Netflix, plataforma conhecida por ousar em narrativas, trouxe-nos “Adolescence”, uma minissérie que não se contenta em ser mais um thriller policial ou um drama adolescente banal. Criada por Stephen Graham e Jack Thorne, a produção mergulha no perturbador caso de um jovem de 13 anos que comete um assassinato, mas, ao contrário do que se poderia esperar, não se trata de um whodunit convencional. O foco está no porquê – nas raízes da violência, na cultura incel e no fracasso coletivo que permite que tragédias assim aconteçam.
“Adolescence” destaca-se inegavelmente pela forma inovadora como constrói o seu mundo e ambiente. Graham revelou à IndieWire que, curiosamente, o processo seguiu uma política pouco comum: “No Dicks Allowed”. Não, não estamos a falar de anatomia, mas de atitudes. Num set onde a colaboração era essencial, não havia espaço para egos inflamados.
Adolescence: Um set sem “parvalhões”
Stephen Graham, conhecido pelo seu trabalho em “This Is England” e “Boiling Point“, não quis apenas contar uma história poderosa – quis fazê-lo de forma ética. Num mundo onde sets de filmagem podem ser campos de batalha de vaidades, a equipa de “Adolescence” optou por um ambiente de respeito mútuo. “Todos merecemos a oportunidade de estar aqui, e temos de tratar os outros como gostaríamos de ser tratados”, explicou Graham. “Por isso, uma das nossas regras foi garantir que não havia parvalhões no set.”
Assim, a abordagem colaborativa de “Adolescence” estendeu-se a todos os departamentos. Desde o realizador Phillip Barantini até à maquilhadora Clare Ramsey, cada pessoa teve voz. Um dos momentos mais marcantes da série – “Todos vão lembrar-se do Jamie. Ninguém se vai lembrar dela.” – nasceu, na verdade, de uma conversa casual entre Graham e Ramsey. A observação foi tão impactante que o guionista Jack Thorne a integrou no guião. “Não havia egos. Se uma ideia era boa, era usada, não importava de quem viesse”, contou Graham.
O casting de “Adolescence” também refletiu essa filosofia. Os produtores descobriram Owen Cooper, o jovem ator que interpreta Jamie, num pequeno clube de teatro em Manchester; apesar de não ter qualquer experiência profissional prévia, ele impressionou imediatamente. Assim, a equipa procurou intencionalmente talentos menos conhecidos, dando oportunidades a quem raramente as tem. Ashley Walters, que interpreta o detetive Bascombe, é outro exemplo. Graham sempre acreditou que o ator estava limitado pelos papéis que lhe ofereciam. No entanto, em “Adolescência”, ele finalmente pôde mostrar a sua amplitude.
Quando a arte imita a vida (e vice-versa)
“Adolescence” não é apenas uma série; é um espelho. Ao explorar a violência juvenil e a cultura online tóxica, a narrativa força-nos a confrontar perguntas incómodas: Como falhamos enquanto sociedade? Por que é que esquecemos as vítimas enquanto damos notoriedade aos agressores? A resposta, sugere a série, está na forma como construímos (ou destruímos) comunidades.
Assim, Graham compara o processo criativo de “Adolescence” a uma equipa de futebol: “Trazes pessoas com talentos específicos, crias um espaço onde podem brilhar, e depois confias no seu trabalho.” Essa mentalidade coletiva transparece inegavelmente em cada plano, cada diálogo, cada silêncio carregado de significado.
E se “Adolescence” nos deixa algo, é a certeza de que devemos contar histórias difíceis – mas nunca sacrificar a dignidade de quem as vive. Assim, a série prova que é possível abordar temas pesados sem sensacionalismo, com humanidade e, sim, até com gentileza.
Concordas que algumas histórias precisam de ser contadas sem egos a atrapalhar o processo? Deixe a tua opinião nos comentários.