Usar o telemóvel como despertador está a sabotar o teu sono, segundo especialistas
Dormir com o telemóvel ao lado da cama tornou-se um ritual quase universal. A cena é familiar, pousamos o aparelho na mesa de cabeceira, carregador ligado, e confiamos no alarme digital para nos arrancar dos lençóis. Conveniente? Sim. Inofensivo? Nem por isso.
Entre a luz azul que nos espreita, as notificações que piscam em plena madrugada e o maldito botão snooze que transforma o despertar numa batalha perdida, o telemóvel pode estar a sabotar silenciosamente a nossa noite e o nosso dia.
Porque usamos o telemóvel como despertador?
Parece uma pergunta retórica, mas a resposta é simples: é demasiado prático. O telemóvel está sempre por perto, acumula funções, ocupa menos espaço e ainda nos deixa escolher se queremos acordar com pássaros virtuais ou com aquela playlist dos anos 2000 que insiste em nos relembrar a adolescência.
Além disso, quem é que quer voltar a ter dois aparelhos na mesa de cabeceira? Um para marcar as horas e outro para navegar no Instagram antes de dormir? O smartphone condensou tudo, desde lanterna improvisada a rádio-relógio moderno. Mas esta ferramenta multifunções é também mestre em roubar horas de descanso.
O problema maior não está no alarme em si, mas no que o acompanha. A tentação de espreitar mensagens à meia-noite, a luz azul que engana o cérebro e a vibração insistente que interrompe o sono.
Quais são os riscos de dormir com o telemóvel ao lado?
Aqui entra a ciência e não apenas o drama. Assim, o que sabemos é que a luz azul emitida pelo ecrã (mesmo em repouso, quando notificações piscam discretamente) inibe a produção de melatonina, a hormona que nos ajuda a mergulhar no sono profundo. Resultado? Adormecer pode demorar até uma hora a mais, segundo estudos da Harvard Medical School.
Outro risco é a dependência digital. O cérebro associa o telemóvel ao estímulo constante: notificações, mensagens, redes sociais. Ter o aparelho ao lado da cama é quase como dormir com a televisão ligada, mas a poucos centímetros da cara.
E não nos podemos esquecer da questão da radiação. Embora os níveis estejam dentro dos limites legais, especialistas como os citados pela Environmental Health Trust recomendam não dormir com o telemóvel colado ao corpo durante oito horas seguidas. É uma exposição desnecessária que pode ser facilmente evitada.
Como quebrar o hábito sem perder o despertador?
Não precisas de voltar ao despertador de campainha dos anos 90, mas há soluções. A mais óbvia? Comprar um despertador digital simples, daqueles que não têm Instagram, notificações ou luz azul embutida. Existem até modelos com luz gradual, que simulam o nascer do sol e ajudam a acordar de forma mais natural.
Outra alternativa é usar o próprio telemóvel… mas longe. Pousá-lo numa prateleira afastada, com o modo “Não Incomodar” ativo, resolve dois problemas de uma só vez: evitas a tentação noturna e obrigas-te a sair da cama para desligar o alarme. É uma estratégia infalível contra o botão “snooze”.
E já agora, vale a pena investir em rotinas de sono que dispensem o ecrã: ler um livro físico, ouvir música calma ou simplesmente preparar o quarto com luzes quentes. Não é só “romântico”, é biológico: o corpo agradece.
Vale a pena trocar o telemóvel pelo despertador?
A longo prazo, sim. Assim, ao insistires em dormir com o telemóvel na mesa de cabeceira, arriscas insónias crónicas, menor produtividade no trabalho e até problemas de concentração e memória. É o preço escondido de algo que parecia apenas uma “comodidade moderna”.
Portanto, talvez esteja na hora de trazer de volta o velho despertador. Porque, no fim, o verdadeiro luxo não é acordar com Spotify Premium, é acordar com energia. Tens coragem de banir o telemóvel da tua mesa de cabeceira ou vais continuar a deixar que ele te roube o sono?