Tomb Raider, em análise
A famosa saqueadora de tumbas está de volta, mais jovem, mais fresca, mais humana. “Tomb Raider” é fiel ao videojogo que lhe deu nome, levando Lara por trilhos excitantes.
“Tomb Raider”, bem que poderia adotar o slogan “voltei a casa”, não estivéssemos a falar de um filme que é realizado por um realizador norueguês (Roar Uthaug) e uma atriz sueca (Alicia Vikander). De facto, de todas as parcerias possíveis e imaginárias, não estaríamos à espera de uma espécie de convenção audiovisual escandinava, mas a verdade é que a dupla do Báltico cumpre na promessa. É certo que um salmão seria mais conhecido que este Uthaug, mas Vikander já possui aquela tarimba hollywoodesca que não a deixa passar despercebida. Mas também ela não seria a escolha mais óbvia para um papel tão exigente e peculiar como o de Lara Croft, que requer um certo tipo de perfil com um conjunto de caraterísticas muito singulares à semelhança de James Bond. Não obstante a observação, aplaudimos, agora, a escolha por Vikander para este cargo de heroína suprema, na que será, muito provavelmente, a melhor adaptação cinematográfica baseada num jogo de consola. Bem, também não seria muito difícil ultrapassar esse marco, já que quase todas elas são desastrosas.
É Vikander quem rouba toda a atenção do espectador, não pelo flirt ou decote mais acentuado, mas pela ilusão de uma aparência frágil e singela, que logo se transforma num “animal de palco”.
O guião, de resto, apesar de não seguir escrupulosamente os segmentos narrativos do reboot digital de 2013, aproveita para recriar algumas das suas cenas mais memoráveis, como aquele salto impossível para o mar revolto, ou aquela dança no ar em queda livre agarrada a um paraquedas a caminho do precipício. Para os gamers, claro, são momentos assombrados por uma esquisita sensação de déjà vu, mas para os espectadores mais leigos, as espetaculares sequências de ação oferecem total satisfação visual, especialmente as que foram introduzidas posteriormente nesta nova história de Lady Croft. E começando por aí, o argumento leva-nos até Londres, aonde entramos no ringue com Lara a levar uma tareia da sua oponente. Pouco depois, apanhamo-la ao pedal de uma bicicleta de estrada numa dessas corridas ilegais. Uma Lara vulgar como tantas outras, até o seu apelido a chamar para reclamar a herança deixada por Lord Croft (Dominic West), até então desaparecido à quase uma década. Incitada pelo seu pai e mentor, através dos habituais quebra-cabeças, Lara decide embarcar numa jornada solitária na demanda por respostas sobre o seu paradeiro, seguindo as pistas deixadas pela sua pesquisa sobre o túmulo de uma imperatriz japonesa com poderes sobrenaturais. E de terras de sua Majestade, aterramos num ápice numa ex-colónia britânica (Hong Kong), aonde Vikander esvoaça por entre jangadas de madeira e cabos de gruas, num exercício marcial de atleticismo impressionante.
Vikander sofreu agruras para ser digna do apelido Croft. Imaginem o que é acordar às quatro e tal da manhã e começar logo a bombar com um treino corporal intensivo de artes marciais, escalada e tiro com arco. Imaginem o que é estar a gravar um set suspensa no ar e levar com autênticas bofetadas de água, ou ter de repetir um take pela palidez da cara não conseguir esconder a hipotermia. Não é pêra doce! E se vos dissermos que Vikander teve de ganhar dezasseis quilos de massa muscular para se tornar nesta Lara ágil, forte e destemida, tal como a Lara que é feita de polígonos e pixéis…O resultado é uma Lara Croft mais terrena e mais acrobata, que não exibe tanto aquele sex appeal inerente à personagem original. É Vikander quem rouba toda a atenção do espectador, não pelo flirt ou decote mais acentuado, mas pela ilusão de uma aparência frágil e singela, que logo se transforma num “animal de palco”.
(…) Vikander esvoaça por entre jangadas de madeira e cabos de gruas, num exercício marcial de atleticismo impressionante.
A câmara de Roar Uthaug assedia por completo a sua estrela, num estilo de filmagem deveras conservador, que procura extrair de cada cena aquela autenticidade ausente das rendições mais cartoonish de “Tomb Raider“. É, portanto, uma abordagem clean e honesta, que serve os propósitos de uma action flick ávida por montanhas de pipocas. Sim, porque “Tomb Raider” acelerou sempre para a experiência da aventura, nunca quis ser aquele tipo de brain movie. Aqui, vamos encontrar os típicos clichés de uma boa e velha fita de ação, as imemoráveis piadas secas, a mesma estrutura anti-vilão que crescemos a idolatrar. Mas sabem que mais? Surpreendentemente, até funciona! O mauzão da fita é Mathias Vogel (Walton Goggins), que regressa da série televisiva “Justified” com o mesmo ar de sacana desprezível e uma Beretta 92F à mão de semear. Ao serviço da “Trinity” e com um exército de mercenários ao seu dispor, só Lara poderá impedir que Vogel acorde “Himiko” do seu sono milenar e solte a sua ira.
“Tomb Raider” é uma expedição cinematográfica atraente e madura, que se afasta de toda aquela “gadgetaria”, monstros e curvas sexys, que Angelina Jolie sabia vender melhor que ninguém. Agora os tempos são outros, e apesar de possuir um enredo desinspirado, a boa noticia é que esta nova Lara Croft enche-nos as medidas. Por todas as falhas e omissões, “Tomb Raider” vale pela viagem alucinante e vertiginosa que proporciona, e vale por uma Alicia Vikander do outro mundo.
Tomb Raider
Movie title: Tomb Raider
Movie description: Lara Croft é a independente filha de um aventureiro excêntrico que desapareceu quando ela chegou à adolescência. No presente, já uma jovem de 21 anos, sem qualquer rumo ou objetivo real, Lara percorre as caóticas ruas da elegante East London como estafeta de bicicleta, mal ganhando para a renda. Também frequenta a universidade, mas raramente vai às aulas. Determinada a criar o seu próprio caminho, recusa-se a assumir as rédeas do império global do pai com a mesma firmeza com que rejeita a ideia de que ele realmente morreu. Aconselhada a enfrentar os factos e a seguir em frente após sete anos sem ele, nem a própria Lara consegue entender o que a motiva a finalmente resolver o enigma da misteriosa morte do pai. Deixando para trás tudo o que conhece, Lara parte em busca do último paradeiro conhecido do pai: um túmulo lendário numa ilha mítica que poderá ficar algures ao largo da costa do Japão.
Date published: 20 de March de 2018
Director(s): Roar Uthaug
Actor(s): Alicia Vikander, Dominic West, Walton Goggins
Genre: Ação, Aventura
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Miguel Simão - 75
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Rui Ribeiro - 75
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Luís Telles do Amaral - 60
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Daniel Rodrigues - 35
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Filipa Machado - 65
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Maria João Bilro - 60
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Catarina d'Oliveira - 65
CONCLUSÃO
Tomb Raider respeita as suas origens, apresentando-se de cara lavada relativamente ao seu antecessor. Não inova nem oferece nada dramaticamente diferente neste segmento, mas cumpre o objetivo de proporcionar ao espetador uma experiência cinematográfica gratificante.
O MELHOR – Mais sóbrio, terreno e sem artifícios abusivos; ação non-stop do princípio ao fim; execução irrepreensível dos set-pieces e coreografias convincentes; Alicia Vikander exibe-se a um nível inacreditável.
O PIOR – O guião é praticamente copy/paste do videojogo de 2013.
User Review
( votes)( review)
Gostei Bastante
Para mim o desempenho de Alicia Vikander e as suas parecenças à heroína Lara Croft, o pior do filme é ser bastante previsível. PS, acho que o enredo ser cópia foi mesmo para o filme ser fiel.
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