Um Filme Minecraft, a Crítica | Jason Momoa e Jack Black brilham na adaptação do videojogo
´”Um Filme Minecraft” não é um filme qualquer. Para quem não conhece o jogo pode ser estranho mas para os fãs está cheio de detalhes.
É fácil ser cínico perante a ideia de uma adaptação cinematográfica de “Minecraft” – um jogo conhecido por não ter uma história definida, uma estética minimalista e uma filosofia de criatividade pura e aberta. O que poderia um filme acrescentar a um universo onde os jogadores é que decidem as regras, os objetivos e as narrativas? A resposta, surpreendentemente, é: alguma coisa. “Um Filme Minecraft”, realizado por Jared Hess (“Napoleon Dynamite” e “Nacho Libre“), assume desde o início que não pode competir com o jogo em termos de liberdade, mas decide compensar isso com personalidade, humor e uma boa dose de maluqueira.
Transformar um dos jogos mais livres e criativos de sempre num filme de aventura com princípio, meio e fim parecia uma missão quase impossível. E no entanto, contra todas as probabilidades, “Um Filme Minecraft” consegue captar, com surpreendente leveza, a essência caótica e imaginativa que tornou o jogo da Mojang um fenómeno global.
Uma história digna dos belos tempos dos canais de YouTube sobre “Minecraft”
A história arranca com Steve (Jack Black, no seu registo habitual e sempre eficaz), um sonhador que, ainda criança, descobre um misterioso cubo que o transporta para o Overworld, o mundo do Minecraft. Aí, encontra a felicidade ao construir livremente com a ajuda do seu fiel cão-lobo, Dennis. No entanto, a tranquilidade é interrompida quando é sugado para o Nether, um inferno dominado por um ser mutante chamada Malgosha (voz de Rachel House).
A aventura recomeça anos depois, quando o cubo é encontrado por Garrett “The Garbage Man” Garrison (Jason Momoa), um ex-campeão de videojogos em declínio que se vê, de repente, a liderar um grupo de desajustados – incluindo dois irmãos adolescentes (Sebastian Hansen e Emma Myers) e uma agente imobiliária com múltiplos empregos (Danielle Brooks) – numa missão para salvar o Overworld.
É a energia que traz o melhor do filme
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Hess não tenta transformar Minecraft num épico à la Uncharted. Em vez disso, abraça o absurdo de adaptar algo tão livre e não-narrativo, optando por um tom cómico e desconcertante que lembra os primórdios da internet e os anúncios televisivos mais bizarros dos anos 2000 (olhem bem aquela loja do Garrett). A escolha pode parecer arriscada, mas funciona. “Um Filme Minecraft” nunca finge ser mais do que é: um espetáculo para miúdos, com camadas de nostalgia e referências para os graúdos.
Apesar do enredo algo previsível e da estrutura clássica em três atos, o filme mantém a energia graças ao seu elenco e ao ritmo frenético. Jack Black, como sempre, entrega uma performance carismática, mesmo que o seu papel se torne quase num tutorial ambulante. Mas a verdadeira surpresa é Jason Momoa. Conhecido por papéis musculados e sérios, aqui revela um lado cómico encantador e até comovente.
As dimensões cúbicas de “Minecraft” em live-action são qualquer coisa
Visualmente, o filme toma algumas liberdades que poderão dividir os fãs. O mundo do “Minecraft” é recriado com texturas realistas sobre formas cúbicas, o que resulta num visual simultaneamente fascinante e estranho. As paisagens são belíssimas, mas as personagens – especialmente os aldeões – podem parecer ligeiramente perturbadoras, com um ar demasiado “orgânico” para algo que nasce do digital. Ainda assim, há uma atenção ao detalhe que merece elogios: crafting tables, receitas, o ciclo dia-noite e até uma piada com tater tots fazem parte do menu.
Mas talvez o maior mérito de “Um Filme Minecraft” seja este: não se limita a ser um desfile de referências para agradar aos fãs. Há aqui uma tentativa real de capturar o espírito criativo do jogo, ainda que de forma limitada. Se não consegue replicar a total liberdade que Minecraft oferece, pelo menos acena-lhe com entusiasmo. Há uma clara mensagem sobre o poder da imaginação, sobre construir em vez de destruir – uma lição simples mas eficaz para os mais novos, e uma piscadela aos adultos que cresceram com o jogo ou que o redescobrem agora com os filhos.
Há referências para dar e para vender
“Um Filme Minecraft”, consegue, no seu âmbito geral, ser uma bela e bem conseguida adaptação de um videojogo, algo que costuma ser sempre difícil. E porque é que o filme resultou tão bem? Foi feito claramente para os fãs, para quem se diverte neste universo e para quem acompanha o jogo há 15 anos, quando foi lançado. Nesse sentido o jogo tem várias referências, começando por uma bela homenagem a um dos maiores YouTubers deste videojogo. Technoblade, ou Alex na vida real, foi um dos maiores criadores de conteúdos no universo “Minecraft”, acumulando mais de 18 milhões de subscritores. Infelizmente faleceu em 2022, vítima de cancro aos 23 anos. O filme não se esqueceu dos seus e, no determinado momento, quando Steve apresenta a sua aldeia à restante equipa, passa um porco com uma coroa (imagem e skin de Technoblade), ao qual Jack Black diz, “é uma lenda”.
Da mesma forma também podemos encontrar várias referências de outro universo muito especial – “O Senhor dos Anéis”. Para ser sincero, eu sou culpado, é a minha saga favorita, mas há referências ao longo de todo o filme – o globo (o Anel?), a torre dos piglins (Barad-Dûr?), as minas de redstone (uma clara referência às Minas de Moria) e por aí a fora.
“Um Filme Minecraft” não vai conseguir agradar a gregos e troianos mas…
No final, “Um Filme Minecraft” não será o filme perfeito para todos. Quem entrar sem conhecer o jogo poderá achar tudo demasiado louco e estranho, e quem esperar um épico cinematográfico saído de um estúdio como a Naughty Dog poderá sair desapontado. Mas quem aceitar a proposta como ela é – uma comédia orgulhosamente parva, cheia de boas intenções e com coração – encontrará aqui uma agradável surpresa. Pode não ser o filme que Minecraft “precisava”, mas é talvez o filme Minecraft que fazia sentido nesta altura: caótico, criativo, e, acima de tudo, divertido. E, por favor, vão ver o filme em 4DX, ainda mais divertido se torna (a não ser que tenham problemas de costas).
Já foste ver o filme? Quantas horas tens no jogo?
Um Filme Minecraft, a Crítica
Movie title: Um Filme Minecraft
Date published: 3 de April de 2025
Duration: 101 min.
Director(s): Jared Hess
Actor(s): Jack Black, Jason Momoa, Emma Myres, Jennifer Coolidge, Sebastian Hansen
Genre: Ação, Aventura, Cómedia, 2025
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David Passos - 80
Conclusão:
“Um Filme Minecraft” não será o filme perfeito para todos. Quem entrar sem conhecer o jogo poderá achar tudo demasiado louco e estranho, e quem esperar um épico cinematográfico saído de um estúdio como a Naughty Dog poderá sair desapontado. Mas quem aceitar a proposta como ela é – uma comédia orgulhosamente parva, cheia de boas intenções e com coração – encontrará aqui uma agradável surpresa. Pode não ser o filme que Minecraft “precisava”, mas é talvez o filme Minecraft que fazia sentido nesta altura: caótico, criativo, e, acima de tudo, divertido.