Tom Holland é o protagonista de "Uncharted" © Sony Pictures

Uncharted, em análise

“Uncharted” é mais uma tentativa de Hollywood em contrariar a famosa maldição das adaptações cinematográficas de videojogos. O passado recente demonstra melhorias, mas ainda não foi possível construir uma obra verdadeiramente aclamada por todo o tipo de espetadores. Conseguirão Tom Holland e companhia quebrar a malapata?

Lê Também:   Uncharted | Curiosidades sobre o novo filme de Tom Holland

Pessoalmente, considero que autores de artigos de opinião sobre adaptações para cinema a partir de videojogos devem esclarecer se realmente possuem conhecimento do conteúdo original. Como tal, confesso que, apesar de “Uncharted” estar constantemente na “lista” de jogos para experimentar, nunca joguei qualquer versão do mesmo. O que conheço da franchise provém muito do que amigos gamers me foram contando, logo tinha, pelo menos, uma ideia visual de como esta adaptação de Ruben Fleischer (“Zombieland: Tiro Duplo”) iria parecer. Sendo assim, a opinião que se segue não possui qualquer bias relativo aos videojogos, nem para o bem, nem para o mal.

Creio que abordar a tão debatida maldição é uma boa base para justificar muito daquilo que “Uncharted” tem de positivo e negativo. Porque é que Hollywood tem assim tantas dificuldades em adaptar um videojogo com um sucesso tremendo, aclamado por críticos e público geral de forma praticamente unânime? Existem várias razões para tal, mas a principal prende-se com a inconsistência nas decisões narrativas sobre o que traduzir diretamente para o grande ecrã e o que deixar de lado. Tal como numa adaptação proveniente de um livro, nem tudo é possível de simplesmente se transportar para o cinema como se fosse um mero copiar-colar.

No caso de “Uncharted”, o maior problema encontra-se na sensação de que o filme seria muito mais entusiasmante e interessante se os espetadores realmente estivessem a controlar as personagens e a decifrarem eles próprios as pistas deixadas pela história. Os dois primeiros atos são extremamente focados em exposição e “trabalho de detetive” que rapidamente se torna cansativo e repetitivo ao visualizar, ao passo que se existisse um comando e fosse o público a ter de pensar para avançar com o enredo, tudo seria muito mais cativante e envolvente. Assim, a falta de energia e de entretenimento desgasta a audiência que chega ao terceiro ato com pouca vontade de ver a resolução final.

Uncharted
©2022 Sony Pictures
Lê Também:   Uncharted | Quanto tempo demorou a adaptação cinematográfica?

Com isto, chega-se a outro ponto negativo: o argumento peca imenso pela falta de qualquer surpresa. Desde a narrativa em si aos arcos de personagem, tudo e todos seguem fórmulas já conhecidas em que nada possui um verdadeiro impacto, deixando os espetadores de boca aberta mais por bocejar do que por estupefação. Adicionando personagens secundárias inconsistentes sem sequer receberem um arco completo – Antonio Banderas (“Dor e Glória”) e Sophia Ali (“Verdade ou Consequência”) que o digam – só afasta ainda mais o público que tanto se quer deixar levar pelo mundo de “Uncharted”. Chega inclusive a ser frustrante e irritante as constantes trocas de vilão e o backstabbing incessante por parte destas personagens.

Uma razão mais divisiva sobre o insucesso deste tipo de adaptações está relacionada com os efeitos visuais. Por exemplo, “Uncharted” começa logo no meio de uma sequência de ação – que depois continua no terceiro ato, uma decisão artística que admito nunca ter sido grande fã – onde o aspeto visual vai trocando entre o CGI clássico e uma renderização mais “videogamy”. Aqui, existe sempre a dúvida sobre se a intenção de fazer os atores parecerem personagens de videojogos é uma escolha por parte dos cineastas e artistas VFX ou se realmente o orçamento não chegou para oferecer mais realismo. Tendo em conta a ação geral do filme, prefiro acreditar na primeira opção.

Sinceramente, penso ser algo injusto e demasiado superficial denegrir uma obra cinematográfica devido a pequenos momentos onde os visuais poderão falhar em comparação com outras sequências. Alguém entrar numa sala de cinema para ver “Uncharted” antecipando ação realista que cumpra com as leis da física e lógica é querer sair desiludido, com certeza. Existe imenso entretenimento no último ato, mas é pena que um filme de ação-aventura guarde praticamente toda a sua ação e aventura para os últimos trinta minutos. De facto, Fleischer reserva uma set piece simultaneamente extraordinária e absurda para o fim que, pelo menos, oferece uma sensação algo recompensadora, como se o tempo despendido tivesse valido o esforço. Infelizmente, não compensa tanto quanto deveria.

Uncharted
©2022 Sony Pictures

Lê Também:   Uncharted | As grandes diferenças entre o filme e jogos

Ainda assim, há que valorizar as stunts realizadas, sendo que a vasta maioria são mesmo feitas por Tom Holland (“Homem-Aranha: Sem Volta a Casa”). Obviamente, o ator traz imensos fãs do género de superheróis ao cinema, mas demonstra que é mais do que um simples aranhiço. Acredito que tem futuro para liderar uma nova saga de ação na próxima década. A sua química com Mark Wahlberg (“Todo o Dinheiro do Mundo”) é surpreendente e os arcos das suas personagens são os únicos em que vale a pena o investimento emocional por parte dos espetadores. Mais uma vez, repito que não possuo experiência prévia com os videojogos, mas as referências e toques visuais são tão claros que até cameos teoricamente desconhecidos passam a ser evidentes.

Uma última nota sobre este ponto. São mais as situações em que me encontro do lado em que as referências à fonte original tornam os visionamentos mais agradáveis do que do outro. Já aconteceu em “Tomb Raider” ou em “Sonic – O Filme”, mas por mero acaso, “Uncharted” não faz parte do meu conhecimento de gaming. Apreciei algumas adaptações mais do que outras, mas uma coisa é certa: não foram os tais pormenores que esboçam sorrisos aqui e ali que iluminaram as obras que desfrutei mais, da mesma maneira que também não são suficientes para salvar possíveis desastres.

UNCHARTED | DISPONÍVEL NOS CINEMAS A PARTIR DE 17 DE FEVEREIRO

Uncharted, em análise
uncharted

Movie title: Uncharted

Movie description: O perspicaz Nathan Drake (Tom Holland) é recrutado pelo experiente caçador de tesouros Victor “Sully” Sullivan (Mark Wahlberg) para recuperar a fortuna arrecadada por Fernão de Magalhães e perdida há 500 anos pela Casa de Moncada. O que começa como um golpe, rapidamente se torna numa corrida pelo mundo para encontrar este tesouro antes do implacável Santiago Moncada (Antonio Banderas), que acredita que ele e a sua família são os seus legítimos herdeiros. Se Nate e Sully conseguirem decifrar as pistas e resolver um dos mais antigos mistérios do mundo, irão alcançar o tesouro de 5 mil milhões e talvez até o irmão desaparecido de Nate... isto se aprenderem a trabalhar em equipa.

Date published: 17 de February de 2022

Country: EUA

Duration: 116'

Director(s): Ruben Fleischer

Actor(s): Tom Holland, Mark Wahlberg, Sophia Ali, Tati Gabrielle, Antonio Banderas

Genre: Ação, Aventura

[ More ]

  • Manuel São Bento - 40
40

CONCLUSÃO

“Uncharted” é um filme de ação-aventura, mas apesar de um último ato com mais entretenimento, não consegue quebrar a maldição das adaptações cinematográficas de videojogos devido precisamente à falta de ação e aventura. Apesar de boas prestações por parte de Tom Holland e Mark Wahlberg, assim como arcos convincentes dos dois protagonistas, Ruben Fleischer entrega uma narrativa extremamente genérica e formulaica, baseada em exposição constante. Adicionalmente, as personagens secundárias acabam por se tornar irrelevantes devido às traições irritantemente repetitivas e às trocas constantes do verdadeiro antagonista. No fundo, a sensação geral é de que seria muito mais interessante estar a controlar as personagens através de um comando do que simplesmente assistir às mesmas. Para fãs da franchise, poderá ser suficiente, mas para o espetador comum será “mais um”.

Pros

  • Prestações de Tom Holland e Mark Wahlberg.
  • Arcos de personagem dos dois protagonistas.
  • Último ato e respetiva sequência de ação principal.
  • Visuais melhores do que o esperado.

Cons

  • Pouca ação e aventura para um filme do género.
  • Enredo formulaico extremamente focado em exposição direta.
  • Componente narrativa sobre decifrar pistas torna-se repetitiva e cansativa.
  • Personagens secundárias com arcos incompletos e inconsistentes.
  • Antagonista variável chega a ser algo incomodativo.
Sending
User Review
0 (0 votes)
Comments Rating 0 (0 reviews)

Leave a Reply

Sending