Winter’s Tale – Uma História de Amor, em análise

  • Título Original: Winter’s Tale
  • Realizador: Akiva Goldsman
  • Atores: Colin Farrell, Jessica Brown Findlay, Russell Crowe
  • Warner Bros | EUA | 2014 | Drama, Fantasia, Mistério

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Adaptar um livro muito amado para o grande ecrã é uma tarefa arriscada. É frequente fazerem-se pequenos ajustes dado que há elementos que funcionam bem no papel e não visualmente. Não se pode agradar a toda a gente, mas a versão cinematográfica de “Winter’s Tale”, de Mark Helprin, provavelmente não irá agradar a ninguém: nem aos fãs do livro, nem aos que nunca o leram.

Havia uma razão pela qual a brilhante obra de Helprin esteve quase trinta anos na prateleira à espera de ser adaptada. O grande Martin Scorsese chegou a ponderá-lo, mas até ele o considerou “inadaptável”. Era um projeto ambicioso que necessitava de um realizador capaz de captar o realismo mágico de Helprin de forma encantadora.

“Winter’s Tale” é o filme de estreia na realização do argumentista Akiva Goldsman (premiado pela Academia pelo seu trabalho em “A Beautiful Mind”) e falha em tantos níveis que se torna díficil de descobrir por onde começar. Vamos lá: no inicio do século XX Peter Lake (Colin Farrell) é um ladrão que faz parte de um gang liderado por Pearly Soames (Russell Crowe), um demónio que o persegue para o matar. Numa dessas perseguições Peter encontra um cavalo branco, Athansor, que tem a capacidade miraculosa de ganhar asas e voar. O cavalo leva Peter para junto da mansão do magnata da imprensa Isaac Penn (William Hurt). Lake tenta realizar um assalto à casa dos Penn, mas depara-se com Beverly (Jessica Brown Findlay), a lindíssima herdeira que rouba o coração ao ladrão. Beverly é a chave para Lake encontrar o seu destino, mas padece de tuberculose e restam-lhe poucos meses de vida.

winter's tale

A partir deste momento a história começa a ser um “mix” de milagres, magia e saltos completamente incompreensíveis de lógica de tal forma que no último ato do filme muito pouco de “Winter’s Tale” fazia sentido (a ponto de nos questionarmos se perdemos 20 minutos de imagens cruciais).

O filme é pretensioso: tenta demasiado ser várias coisas ao mesmo tempo, mas acaba por se perder e falhar miseravelmente em cada uma delas. “Winter’s Tale” não consegue em parte alguma decidir o tipo de história que quer contar: É fantasia? É romance? É ficção científica? Miraculosamente (ou infelizmente) é tudo isso. O que nos leva a um dos grandes problemas do filme (péssimos sotaques à parte): o quão pouco convincente o realismo mágico é. Para contar uma história com elementos fantásticos como deve ser, o argumentista necessita de explicar de forma simples as regras e principios do mundo fantástico que criou. No entanto, o argumento de Goldsman não explica a logistica deste novo universo mítico, na esperança que sejam os espetadores a perceber por si mesmos. Goldsman vai apresentando (mal) os elementos deste mundo mas não põe à disposição do espetador uma porta de entrada. Sem este “gancho” de fantasia que faz encantar e prender os espetadores,  o filme torna-se confuso.

A falta de compreensão da forma como o mundo mágico e dos milagres se intersecta com o romance de Beverly e Peter faz com que os momentos de fantasia se tornem perturbadores em vez de imersivos. Na primeira vez que o cavalo alado voa com Peter e Beverly às costas a única reação possível do espetador é a confusão e não o deslumbramento pretendido. A ajudar à “festa” está o embaraçoso CGI utilizado na película.

russell crowe

O filme de Goldsman vê-se a braços com outro problema: a falta de profundidade emocional na representação dos atores. A maior parte do cast secundário parece não ter feito o “trabalho de casa”e demonstra pouco esforço em transmitir emoções genuínas. As personagens são aborrecidas e sem qualquer vida. Russell Crowe, enquanto vilão da trama, utiliza trejeitos claramente exagerados e olhares nada ameaçadores. Cenas que deveriam ser comoventes ou tocar o espetador de alguma forma, tornam-se facilmente alvo de risota por transpirarem falsidade.

“Winter’s Tale” apresenta também alguns erros bizarros de continuidade e de história (como cenas de luta agressivas sem uma única pinga de sangue derramada). Goldsman explora temas existenciais com a destreza de um “pés de chumbo” e não explica partes importantes da plot. Em parte alguma do filme o espectador consegue perceber a raiz das motivações de Pearly . Incompreensível é, também, a origem da relação conflituosa de Pearly com Lucifer (interpretado pelo erro de casting ator Will Smith).

O romance entre Beverly e Peter é a única plot line do filme que funciona (ainda que a “meio gás”). O mérito é todo de Colin Farrell e Jessica Brown Findlay, donos de interpretações sinceras na pele do casal apaixonado que sofre com a fugacidade do tempo e a doença da protagonista. Kudos para Findlay – surpreendentemente! – a única fonte de carisma e pureza do filme.

jessica brown findlay

O cameo da atriz Eva Marie Saint é outro dos pontos positivos. É incrível como a sua curta presença em ecrã apresenta mais verdade e intensidade do que a dos restantes durante os noventa minutos de filme.

De destacar também a lindissima banda sonora de Hans Zimmer em colaboração om Rupert Gregson-Williams que, sem surpresas, fez o melhor que pode conforme o que tinha. A realidade é que nem isso conseguiu trazer alguma verdade à emoção (não) transmitida no filme de Goldsmann.

No fim de contas,  “Winter’s Tale” é desastroso e vazio. Não deixa de ser irónico que um filme sobre magia não a consiga transmitir de forma alguma.

 

2/10

Catarina Porfírio Oliveira

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