Top 10 cinema italiano | 3. A Batalha de Argel

A Batalha de Argel é um doloroso retrato do custo da revolução, da violência e desumanidade necessárias para o implacável e impiedoso avanço da história se manifestar e para uma população subjugada conseguir reclamar um semblante de dignidade humana face à injustiça do colonialismo europeu.

 

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Título Original: La battaglia di Algeri
Realizador:  Gillo Pontecorvo
Elenco:  Brahim Hadjadj, Jean Martin, Yacef Saadi
1966 | 121 min


 

A Batalha de Argel retrata a revolução que ocorreu entre 1954 e 1962 na Argélia, cuja final vitória foi a independência da nação em relação ao domínio francês que estava imposto desde a invasão do território no século XIX. Mesmo passados 50 anos, esta obra-prima de Gillo Pontecorvo continua a ser o mais formidável e agressivo filme alguma vez concebido em volta da premissa do anticolonialismo, sendo, por consequência, uma das mais essenciais obras no cânone do cinema político. Este é um projeto com um imenso poder galvanizante, de tal modo poderoso que o seu legado, mais do que se verificar no cinema, manifestou-se no modo como grupos políticos, revolucionários e terroristas se basearam no seu minucioso retrato de um conflito de guerrilhas urbanas para desenvolverem os seus planos de ação.

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A Batalha de Argel

Neste seu retrato da selvageria da guerra e das injustiças intrínsecas a um regime colonialista, A Batalha de Argel em simplificar ou atenuar a brutalidade daquilo que se propõe a examinar. Para conseguir este efeito, Pontecorvo aperfeiçoou neste filme o uso de técnicas de documentário em cinema narrativo, transpondo linguagens do cinema verité para um épico retrato coletivo de uma nação em estado de guerra, capturando momentos de caótica e cortante violência que, mesmo assim, fazem parte daquela que é a mais extraordinária obra de cinema humanista na história da sétima arte em Itália. Esse aspeto empático raramente se verifica de modo mais doloroso que no leitmotiv que Ennio Morricone emprega em duas semelhantes cenas de destruição, uma tragédia para os colonialistas e outra para os revoltosos, construindo o equivalente musical a um desesperado lamento por uma humanidade perdida e em procura de justiça, tão indignada como enlutada pela sua perda.

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Todo o projeto representa a mais gloriosa simbiose alguma vez construída entre o cinema do terceiro e do primeiro mundo, mesclando um ardente realismo e fúria política com uma distância crítica que impede a obra de se tornar num simples epíteto de propagandismo cego. Para chegar a tal perfeição e surpreendente união de antagónicas ideias, o filme passou por um difícil processo de pré-produção em que duas correntes cinematográficas colidiram violentamente, resultando, contudo, num meticuloso retrato coletivo de uma nação em processo revolucionário e não numa narrativa de herói individual, como esteve em perigo de se tornar. A experiência final de A Batalha de Argel é a de um enfurecido grito de raiva humana em forma de filme que se revolta contra as injustiças do mundo, assumindo uma natureza política de uma complexidade invulgar mesmo nos mais eruditos filmes de interesse sociopolítico.

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De revoltosos argelinos a Jesus Cristo, passa para a seguinte página para descobrires aquele que, para além de ser um dos melhores filmes italianos de sempre, é possivelmente a mais extraordinária obra de cinema religioso.

 

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