A Juventude (Youth), em análise

 

Depois de ‘A Grande Beleza’, o realizador italiano Paolo Sorrentino continua a perseguir os fantasmas e traumas do envelhecimento e da decadência, nos meios intelectuais e elites sociais. ‘A Juventude’, Youth no original é, sobretudo, uma excelente reflexão sobre a vaidade e a criação artística.

FICHA TÉCNICAyouth A Juventude poster nacional

Título Original: ‘Youth’

Realizador: Paolo Sorrentino

Elenco: Michael Caine, Harvey Keitel, Rachel Weisz.

Género: Comédia, Drama
NOS Audivisuias | 2015 | 118 min[starreviewmulti id=18 tpl=20 style=’oxygen_gif’ average_stars=’oxygen_gif’] 

 

Paolo Sorrentino costuma filmar a vida como um fábula, através de um caledoscópio ficcional, que transforma a realidade em algo radicalmente delirante. Em ‘A Juventude’ (Youth), e desta vez em inglês, Sorrentino mais uma vez oscila entre os dois campos que se fundem ao sabor das ironias de um grupo de extravagantes personagens, que integram esta comédia agridoce, marcada por uma irónica crítica social.

youth A Juventude

‘…a história de Youth centra-se num filosófico diálogo (à boa maneira ateniense) entre duas figuras muito particulares…

Esta insistência na desmistificação dos padrões de beleza instituídos, vai-se desenvolver desta vez num sofisticado hotel-spa localizado na Suíça, onde se faz o culto da juventude ou antes do rejuvenescimento. Trata-se de um lugar idílico, povoado da mais diversa fauna (animal e humana), que vale a pena explorar. No entanto, a história centra-se num filosófico diálogo (à boa maneira ateniense) entre duas figuras muito particulares: um brilhante maestro britânico, (Michael Caine), impostamente retirado e um veterano realizador americano (Harvey Keitel), decidido fazer a sua obra-prima derradeira ou o seu filme testamento, que pelos seus trejeitos poderia bem ser uma caricatura de Martin Scorsese.

VÊ TAMBÉM: A Juventude | Trailer Oficial

Michael Caine, tem uma certa semelhança como Jep Gambardella (Toni Servillo) de ‘A Grande Beleza’, mas aos poucos torna-se mais irónico, ácido e sarcástico; quanto a Harvey Keitel, (se a ideia era que fosse um secundário de luxo) tornou-se na verdade na personagem fundamental, que tenta encontrar uma resposta para a premissa do filme: Afinal o que é a juventude? A procura incessante do belo e sublime foi comum aos dois artistas algo que sempre os persegui, mesmo nas suas vidas acomodadas entre as elites dos seus países. O grande dilema dos dois está no facto de que há jovens que se comportam como velhos e velhos que transbordam de juventude, esse precioso tesouro que é muito difícil de preservar, quer seja rico ou pobre, culto ou ignorante.

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‘…cada vez mais cedo os indivíduos são afastadas da vida activa ou dos centros de decisão e criação.’

‘A Juventude’ é efectivamente uma deliciosa parábola que explora muitas coisas importantes para todos os seres humanos: como o passar dos anos, as decisões que se tomam e como o resultado delas pode influenciar as nossas vidas. No fundo a lógica de viver num mundo que parece agora quase perfeito. Um mundo das selfies, dos corpos retocados a photoshop, dos cinco minutos de fama, da explosão dos média e das redes sociais, que por vezes também se torna agressivo e destrutivo para a auto-estima das pessoas. Já que cada vez mais cedo os indivíduos são afastadas da vida activa ou dos centros de decisão e criação.

O filme Sorrentino também não faz a apologia do saudosismo do passado ou da tradição, nem defende a lógica do conflito de gerações. Procura antes analisar o presente e o futuro dos seres humanos e da Arte nas suas mais diversas expressões, (da música ao cinema), numa sociedade hedonista e quase vazia de valores.

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‘…aparição de uma ex-estrela do futebol mundial, que acentua as ideia da juventude e glória perdidas…’

Ao lado de Michael Caine e Harvey Keitel, desfilam um excelente lote de actores (Rachel Weisz, Paul Dano e Jane Fonda), em papéis pequenos, mas em grandes interpretações. Afinal são eles que acabam por ajudar os protagonistas a responderem às suas obsessões. Recorde-se ainda a brilhante banda sonora de David Lang e a surpreendente aparição de uma ex-estrela do futebol mundial, que acentua mais as ideias da juventude e glória perdidas, no fundo a chave de mais uma louca comédia do premiado realizador italiano.

O melhor: A contraditória e imprevisível personagem interpretada por Harvey Keitel.

O pior: A visão sempre demasiado elitista dos personagens em relação ao pobres mortais.

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