Anime da Semana: Plastic Memories

Plastic Memories é uma série anime que surpreende pela premissa que apresenta e que pretende explorar. Mas é também uma série que desilude por não se concentrar devidamente na sua proposta inicial.

Plastic Memories (disponível no Crunchyroll) é uma série anime de ficção científica, romance e drama. A sua história decorre num mundo futurista, onde humanos e androids vivem lado a lado. Acontece que estes androids não são apenas robôs. Têm a aparência humana, têm uma alma e a capacidade de ganhar memórias. Neste mundo, estes androids são conhecidos por Giftia. Porém, cada Giftia tem um tempo limite de vida, que ronda no máximo 9 anos. Quando este tempo se aproxima do fim, os Giftia são recolhidos por uma equipa especializada, os serviços terminais, que se encarregam de desligar o android e apagar as suas memórias. Se não o fizer, os Giftia começam a perder a sua personalidade e memórias, e tornam-se extremamente violentos e irracionais. Esta recolha é sempre feita por uma dupla constituída por um humano, e por um Giftia.

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Tsukasa é o protagonista de Plastic Memories. A série começa no momento em que lhe é atribuído um lugar numa das equipas de serviços terminais e fica a formar dupla com a Giftia veterana, Isla. Apesar desta Giftia ter trabalhado no ramo durante vários anos, atualmente parece estar em baixo de forma e com alguns problemas pessoais que acabam por dificultar a dinâmica de trabalho com Tsukasa. Eventualmente, com a ajuda dos restantes membros da equipa, o protagonista começa a perceber melhor a sua parceira. Conforme Isla se dá a conhecer, Tsukasa percebe que os sentimentos que nutre por ela não se tratam apenas da boa camaradagem entre colegas de trabalho. E assim, o protagonista depara-se com o mesmo dilema dos seus clientes. O que fazer quando se ama alguém, e sabe-se que o tempo de vida deles está a terminar?

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Plastic Memories é uma série anime que surpreende pela premissa que apresenta e que pretende explorar. Mas é também uma série que desilude por não se concentrar devidamente na sua proposta inicial. Se esquecermos todo o contexto de ficção científica, Plastic Memories é essencialmente uma história sobre doentes terminais e tudo o que uma doença terminal envolve. Como é que o doente é afetado? E as pessoas que lhe são mais próximas? De que maneira é que ele e os seus entes queridos vão querer aproveitar o tempo que lhes resta? Vão querer desfrutar ao máximo? Ou preferem viver o dia-a-dia normalmente, como se não existisse qualquer doença terminal?

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Inicialmente, Plastic Memories explora de facto estas perguntas, focando-se na tarefa da recolha dos Giftia. Acompanhamos as difíceis e dolorosas despedidas, ganhamos noção dos fortes laços criados entre o humano e o Giftia e vemos até momentos de desespero, onde os donos dos androids tentam fugir e evitar que estes sejam recolhidos. Quando a série se concentra neste dilema em concreto, ela atinge o seu auge. Contudo, um dos grandes problemas de Plastic Memories é tentar ser muita coisa, em pouquíssimos episódios.

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A série é um pouco inconstante no ambiente que pretende explorar. Por vezes é dramática, outras vezes é romântica, e noutras alturas apresenta cenas que parecem ter sido de uma típica comédia slapstick. Para a história que pretende contar, esta alternância não joga muito a ser favor. Para piorar, em torno do enredo principal, surgem enredos secundários que, para além de serem desnecessários, não são minimamente desenvolvidos. Como por exemplo quando Plastic Memories procura mostrar um lado mais criminal, introduzindo na história um mercado negro de Giftias. Ou ainda quando tenta incorporar no drama um conflito entre os serviços terminais e a empresa que produz os Giftias, explorando um pouco mais a faceta de ficção científica.

Não queremos com isto dizer que a série não tivesse liberdade para explorar estes géneros. Um pouco de comédia ajuda a aliviar momentos mais tensos e até podia ser interessante desenvolver mais o carácter científico da narrativa. Desde que este trabalho enriqueça o enredo principal. Se não é minimamente útil para o foco da série, então não passa de uma perda de tempo, que podia ter sido utilizado no que era mais importante.

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E o mais importante em Plastic Memories é o desenvolvimento da premissa inicial, o dilema que surge com as doenças terminais, mascarado na série pela vida limitada dos Giftia. Nos episódios finais, a série concentra-se mais neste conflito. Acompanhamos a relação de Tsukasa e Isla à medida que tentam lidar com o facto de saberem que o tempo de vida de Isla está prestes a expirar. Esta é a melhor fase da série. É muito emotivo ver o conflito interior de Isla. Ao saber que a sua vida está a chegar ao fim, ela perde a vontade de criar memórias ou de se querer relacionar com alguém. Tudo para que a outra pessoa não sofra quando ela desaparecer. No entanto, Tsukusa não a deixa isolar-se e mostra-lhe como há sempre um lado bom e positivo na vida que não deve ser desperdiçado.

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Nos últimos dias de Isla, o casal desfruta dos mais singelos e felizes momentos da vida. Desde cozinharem a primeira refeição juntos ou divertirem-se num parque temático. Tsukasa demonstra nestas ocasiões um grande altruísmo. Ele esforça-se ao máximo para que Isla tenha dias plenos, com novas experiências, e quer criar memórias com ela, sabendo à partida que só ele se irá recordar mais tarde. Porque o que importa é o presente. O que importa é vivê-lo e saborear tudo o que ele tem para oferecer. Mesmo que a seguir venha a dor da perda, a saudade, a angústia, na memória ficam os momentos felizes que os personagens viveram.

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Plastic Memories é uma série com um enorme potencial. Levanta questões pertinentes, a moral da história é muito clara e é facilmente esquecida pelas pessoas. A vida são dois dias. Por isso, devemos aproveitar cada momento, bom ou mau. Viver cada dia ao máximo, criar memórias. Devemos valorizar quem nos rodeia e as relações que partilhamos. E acima de tudo, nunca deixar que o medo nos impeça de usufruir tudo o que a vida tem para nos dar. Infelizmente a forma como a história é contada impede que Plastic Memories alcance as suas verdadeiras capacidades. Plastic Memories é uma boa série, mas ficamos com a sensação de que podia ter chegado mais longe.


plastic memoriesTítulo Original: Plastic Memories
Realizador:  Yoshiyuki Fujiwara 
Doga Kobo | Drama, Romance, Ficção Científica | 2015 | 13 episódios

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Filipa Machado

 

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