Missão: Impossível - Fallout | © Paramount Pictures

Missão: Impossível – Fallout, em análise

“Missão: Impossível – Fallout” é um hino de ação visceral, com um Tom Cruise que desafia todas as leis da gravidade e mais algumas.

Missão Impossível - Fallout
Tom Cruise, Ving Rhames, Rebecca Ferguson e Simon Pegg em M:I – Fallout (2018)

Já vamos na sexta “Missão Impossível”, mas nem por isso o mega franchise de espionagem popcorn dá mostras de qualquer fadiga ou de querer abrandar. Antes pelo contrário, a fita de McQuarrie em tandem com Cruise, perfilar-se-á não só como um dos melhores filmes de ação em muitos anos, quiçá de sempre, como define um novo marco para a indústria em termos de realismo prático. Bem sabemos como Cruise rejubila por ser o duplo de si mesmo, granjeando a prerrogativa de assumir um risco exibicional incomparável; e em “Fallout”, a sua meia idade parece viver uma segunda juventude com o mesmo fulgor e tenacidade daquele destemido Maverick. E muito por culpa de McQuarrie, que depois de ter levado uma “Nação Secreta” a bom porto, voltou a alinhar nos caprichos arrojados da sua vedeta máxima.

(…) Tom Cruise coloca a própria vida em risco em prol do entretenimento, e não será a primeira nem a última vez que o fará no decorrer do filme.

A turma IMF da última missão, agora nas mãos do Secretário Alan Hunley (Alec Baldwin), é também ela repetente, nem a conseguiríamos conceber sem as patetices desajeitadas de Benji (Simon Pegg) ou a nerdice finória de Luther (Ving Rahmes). O vilão Solomon Lane (Sean Harris) e a agente independente Ilsa Faust (Rebecca Ferguson) completam o figurino de caras conhecidas, mas há ainda três adições de peso ao elenco multifacetado: a nova mulher forte da CIA, Erica Sloane (Angela Bassett); o seu lacaio mercenário, August Walker (Henry Cavill); e a traficante mafiosa White Widow (Vanessa Kirby). Todos, sem qualquer exceção, concorrem por entranhar o seu perfume no grande ecrã, num novelo de intriga tricotado por McQuarrie com tantas cambalhotas quanto aquelas que Hunt terá de executar. Desta feita, Ethan e a sua Task Force têm de cronometrar 72h nos seus relógios para impedir que três núcleos de plutónio sejam adquiridos pelos “Apóstolos” – a célula terrorista chefiada por Lane.

Missão: Impossível - Fallout
Tom Cruise e Henry Cavill em M:I – Fallout (2018)

E, de repente, Cruise e Cavill atiram-se de um avião militar de carga C-17 a vinte e cinco mil pés de altitude sob o crepúsculo de Abu Dabhi, só para chegarem pontualmente a um evento de angariação de fundos no icónico Grande Palais, em Paris. É uma cena inacreditável, já que dispensou o envolvimento de duplos e requereu cerca de cem saltos em queda livre para acertar uma coreografia treinada no maior túnel de ar alguma vez construído para o efeito. Leram bem, Tom Cruise coloca a própria vida em risco em prol do entretenimento, e não será a primeira nem a última vez que o fará no decorrer do filme.

(…) A fita de McQuarrie em tandem com Cruise, perfilar-se-á não só como um dos melhores filmes de ação em muitos anos, quiçá de sempre, como define um novo marco para a indústria em termos de realismo prático.

O enredo, segue assim, naquela toada eletrizante e vertiginosa de suster qualquer respiração, enquanto o invólucro das intensões intervenientes vai-se desfolhando numa colisão de forças brutas e máquinas aceleradas. E se noutras missões impossíveis, a mesma ação exibicionista teimava em postular um obsoletismo do conteúdo moral e sentimental das suas personagens, tidas como fantoches infalíveis para atingir um fim supremo, aqui, Ethan Hunt é coagido a valorar uma vida em detrimento de várias. É assim que McQuarrie vai caçando as emoções de Hunt, injetando-lhe breves sonhos premonitórios com Julia (Michelle Monaghan), ao mesmo tempo que faz o “super herói” descer ao nível dos mortais, não como parte integrante de uma engrenagem maniqueísta superficial, mas como móbil impulsionador capaz de modificar as peças que maquinam o seu destino e dos que o rodeiam.

Missão: Impossível - Fallout
Simon Pegg e Henry Cavill em M:I – Fallout (2018)

Em Paris, as negociações sobem de tom pela posse das cúpulas de urânio, conduzindo Ethan ao seu eterno arqui-inimigo, com todo o espalhafato que tal reencontro possa requerer. Sem capacete e plataforma de segurança, Cruise serpenteia a superbike de Hunt pela paisagem de veículos quase parados na calçada do Arco do Triunfo, para prosseguir a fuga pelas ruelas parisienses num BMW clássico ao bom estilo Bourne. São cenas infundidas de uma adrenalina estonteante, num tipo de filmagem despojado de zooms e trepidações, que traduzem uma imagem mais nítida e realista proveniente da velha escola de Brian Singer. Mas McQuarrie não se limita a sugar dos takes a sua essência, sem necessitar de elevar o tom da sua atmosfera emocional, fazendo com que a fotografia de Rob Hardy (Ex-Machina, Aniquilação) imponha uma mood mais sombria e gananciosa.

O enredo, segue (…) naquela toada eletrizante e vertiginosa de suster qualquer respiração, enquanto o invólucro das intensões intervenientes vai-se desfolhando numa colisão de forças brutas e máquinas aceleradas.

Mas apesar de este ser o derradeiro show de Cruise, em todo o seu esplendor e glória, as suas intervenções não seriam tão impactantes sem um elenco carismático com estofo e pernas para o acompanhar. É certo que “Missão Impossível” terá sempre mais pólvora para queimar do que polpa de sumo para espremer, mas, ainda assim, McQuarrie esforça-se por inserir alguma dimensão psicológica às suas personagens. Se recuarmos aquela versão de um Benji numa bolha de conforto agrafado a uma secretária, agora vislumbramos como McQuarrie o deixou sair da sua casca para se tornar num operativo de terreno proficiente. Mas é Walker quem mais se destaca pelo fator Schwarzenegger, abastecendo o argumento com punhos de aço e uma inteligência em esteróides. As mulheres, puxam da frente toda a testosterona abundante, com Ilsa e Widow a recorrerem às armas da sedução para flirtarem as suas agendas ocultas. É tudo ao molho e fé em Deus, uma fórmula antiga que ainda consegue colher os seus frutos.

Missão: Impossível - Fallout
Tom Cruise em M:I – Fallout (2018)

“Missão: Impossível – Fallout” é a consagração de uma verdadeira estrela de cinema, que não se deixou formatar pela digitalização da norma cinematográfica. E a sua mensagem não poderia embasbacar com maior estrondo, seja pela valentia de pilotar sozinho um helicóptero pelas chicanas montanhosas da Nova Zelândia ou por engolir a dor de um tornozelo fraturado por saltar telhados em Londres; Cruise agiganta-se como nunca o conseguiu fazer na sua já vasta carreira como ator. A partir de agora, este será o novo standard dos filmes de ação, porque alguém uma vez disse que isto não era a missão difícil, mas sim, a Missão Impossível.

Missão: Impossível - Fallout
Missão Impossível: Fallout

Movie title: Mission: Impossible - Fallout

Movie description: As melhores intenções voltam muitas vezes para te assombrar. Em Missão: Impossível – Fallout, Ethan Hunt (Tom Cruise) e a sua equipa IMF (Alec Baldwin, Simon Pegg, Ving Rhames) encontram-se com alguns conhecidos aliados (Rebecca Ferguson, Michelle Monaghan) numa corrida contra o tempo, depois de uma missão mal sucedida. Henry Cavill, Angela Bassett e Vanessa Kirby também se juntam ao fantástico elenco deste filme, realizado pelo cineasta Christopher McQuarrie.

Date published: 6 de August de 2018

Director(s): Christopher McQuarrie.

Actor(s): Tom Cruise, Simon Pegg, Ving Rhames, Alec Baldwin, Henry Cavill, Rebecca Ferguson

Genre: Ação, Aventura, Thriller

  • Miguel Simão - 100
  • Catarina d'Oliveira - 85
  • Maria João Bilro - 80
  • Daniel Rodrigues - 65
  • José Vieira Mendes - 60
  • Luís Telles do Amaral - 50
73

CONCLUSÂO

Missão: Impossível – Fallout é, por larga margem, a sua melhor rendição cinematográfica até à data, e poderá considerar-se já como um clássico instantâneo. De facto, Cruise elevou tanto a fasquia do que é humanamente plausível, que é praticamente impossível alguém conseguir superar os seus feitos inacreditáveis. Só nos resta agradecer a Tom Cruise pela coragem e ousadia de ainda nos querer oferecer uma visão honesta e honrada do cinema, cada vez mais raro nos dias de hoje.

O Melhor: Tom Cruise arrebenta com a escala em matéria de stunts, brindando a audiência com uma panóplia de números impressionantes; ritmo alucinante do princípio ao fim; narrativa bem trabalhada com múltiplas reviravoltas; personagens icónicas com performances de alto gabarito; fotografia fantástica; banda sonora poderosa.

O Pior: Enredo ainda continua ao serviço da ação com pouca densidade pessoal.

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