13º IndieLisboa (2): as memórias turcas

O programação de hoje não é inocente ao combinar as memórias literárias do escritor Orhan Pamuk, no documentário ‘Innocence of Memories’, do britânico Grant Gee; e o filme ‘Turks Fruts’, de Paul Verhoeven, um erótico dos anos 70 sobre o amor livre, também baseado num romance de Jan Wolkers. Espaço ainda para as memórias do peronismo na Argentina com a ficção ‘Eva, no dorme’, de Pablo Aguero.

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O romance ‘Museu da Inocência’, foi o primeiro livro que o escritor turco Orhan Pamuk publicou depois de ter recebido o Prémio Nobel da Literatura em 2006. E há cerca de três anos foi inaugurado no centro de Istambul, a cidade natal do escritor, e onde se passa o romance, uma curiosa versão museográfica deste romance que é uma das mais belas histórias de amor da literatura contemporânea. O ‘Museu da Inocência’ conta a história de Kemal e do seu relacionamento amoroso (e no início escaldante) com a bela Füsun, uma prima afastada. Uma relação que dura anos, passada na Istambul dos anos 60 e 70 e que sobrevive sobretudo através de uma série de objetos que Kemal vai coleccionado. É este misto de realidade e ficção, que constituem o acervo deste Museu vivo, localizado no tradicional e boémio bairro de Cukurcuma.

Vê trailer Innocence of Memories

O documentário Innocence of Memories, de Grant Gee, que passa hoje (repete no sábado às 17h no Cinema São Jorge, e que os admiradores do escritor não podem perder), foi escrito pelo próprio Pamuk. Trata-se de uma viagem ao romance, ao museu e sobretudo ao universo do grande escritor, que escreveu igualmente Istambul, Memórias de Uma Cidade, onde o se refere muitas vezes a hüzün, um sentimento semelhante à nossa saudade. Innocence of Memories, é constituído por uma colagem de imagens de arquivo, entrevistas com o escritor, representações da aventura erótica dos protagonistas do romance, pormenores dos objectos que evocam este Museu, e locais como as ruas escuras, húmidas e vento  vindo do Bósforo. E toda esta combinação serviu para criar uma elegante, imaginativa e sensual representação cinematográfica da memória, saudade, paixão, ilusão, amor e perda, que estão no romance, no museu e em Istambul.

Turks Fruit

A segunda longa-metragem de Paul Verhoeven, foi inspirada num romance, intitulado ‘Turks Fruit’ (1969), de Jan Wolkers. Não é um erótico qualquer já que foi rodado em estúdio, com precisão nos exteriores de Amsterdão e Alkmaar. Já na altura teve um orçamento de 1M de dólares. Além de um sucesso de público, foi nomeado para o Óscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira em 1973.  O filme Turks Fruit conta a história de um escultor (Rutger Hauer), que mantêm atormentado e erótico romance com uma rapariga muito mais nova. Em tempos, o artista fora um libertino que coleccionava num álbum as suas conquistas amorosas como se fossem troféus de caça, mas entra em decadência.

Vê trailer Turks Fruit

A acção decorre num período de três anos, incluído em flashback que narra o encontro, a história de amor e a ruptura de Erik (Rutger Hauer) e Olga (Monique van de Ven). Turks Fruit é um filme exalta a liberdade sexual e o amor sem tabus, que proliferou na Europa e EUA durante as décadas 60 e início dos 70, marcadas pela prosperidade económica, desencanto juvenil associado ao consumo como o valor central das sociedades ocidentais e à libertação da mulher. O filme de uma grande força narrativa, oscila entre o ferozmente realista (com cenas de sexo explícito e o expressionismo, que marca a obra do artista. No entanto, é ao mesmo um filme de uma frescura e um sentido de provocação inexoráveis, complementados por cenas e diálogos de um humor surrealista e absurdo. A fotografia de grande força visual, está muito bem associada à música que mistura exotismo e lirismo em torno de uma sugestiva melodia central, que é um fragmento da Marcha Radetzky, de Johann Strauss. O filme é de uma espantosa actualidade já que constitui um interessante ensaio sobre a sociedade europeia dos anos 70, exactamente nos anos anteriores à crise do petróleo de 1973.

Eva no duerme

O filme Eva no duerme, mais um filme da programação de hoje, trata-se de uma versão pessoal e ficcional do realizador Pablo Agüero, baseada em factos verídicos, que tenta acompanhar o destino do corpo de Eva Perón, desde o seu embalsamamento em 1952 até à sua trasladação definitiva para o cemitério La Recoleta, em 1976. Eva no duerme, do realizador e argumentista Pablo Agüero, com Gael García Bernal e Denis Lavant nos principais papéis, divide-se em três capítulos ou personagens: O Embalsamador, O Transportador e O Ditador, procurando narrar um período após a vigília a Eva Péron, falecida em 1952, vítima de cancro, contando os factos do desaparecimento do seu corpo, a recuperação quase vinte anos depois, por Emilio Massera, um dos cabecilhas que operou o golpe de 1976. E que se refere a Eva Peron, uma figura convertida em mártir, como ‘cabra’ ou às ‘putas’ peronistas que por ela gritaram. Trata-se de mais um olhar sobre o que foi a turbulenta história da Argentina ao longo da segunda metade do século XX.

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