MOTELX 2025 | Her Will Be Done – Análise
Foi entre os títulos da Competição de Melhor Longa Europeia, a mais nobre do MOTELX, em 2025 e como dita a tradição, que encontrámos “Her Will Be Done”, um drama psicológico sobre a figura da mulher e a experiência de imigração contemporânea.
Com direito à presença da realizadora na sala, na sua primeira visita a este festival, e enriquecendo assim a experiência de visualização da obra, “Her Will Be Done” foi exibida na nobre sala Manoel de Oliveira, e apresentada como uma criação que mergulha de certa forma na própria vivência da realizadora – os paralelismos estão lá, mesmo que ténues e não diretamente transponíveis.
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Ora, com um título tão sugestivo como “Her Will Be Done”, ninguém ficará surpreendido com a revelação de que esta longa-metragem casa temas como a representação da mulher e a sua alegada “loucura”, a figura da bruxa, as maleitas e virtudes da ruralidade e ainda o paganismo versus religião. Nalgumas frentes a obra de Julia Kowalski é muito bem-sucedida, nomeadamente na sua representação das expectativas comportamentais irrealistas que ainda afetam as mulheres. Noutros aspectos, contudo, fica aquém, nomeadamente na sua ilustração do desejo feminino e progressão narrativa.
Esta é a história de Nawojka, uma jovem no início da casa dos 20, filha de pais polacos, que vive numa pequena vila francesa com o seu pai e os dois irmãs. O seu sonho, no fundo, é sair da quinta onde vive e explorar o mundo, mas apenas o regresso de uma vizinha ligeiramente mais velha é capaz de acordar a nossa protagonista – acordá-la para o seu desejo sexual latente e ignorado ou ainda para a sede incrível de descoberta que fervilha dentro de si.
Mas eis que nem o pai, nem os irmãos mais velhos, nem tão pouco a vila onde vive é fã de mudanças, regressos ou de alterações na sua rotina. Ao tentar suprimir os seus desejos, Naw é cada vez mais dominada pelos mesmos. A atriz Maria Wróbel é muito eficaz na sua representação de terror físico, à medida que vemos a protagonista a debater-se com os seus demónios. Todavia, a montagem de som e a edição não ajudam e não são capazes de elevar o body horror, que fica sempre aquém do que poderia ser.
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A montagem de “Her Will Be Done” também não é a mais interessante ou inovadora, roçando por vezes os lugares-comuns e bem…a falta de gosto, em falta de uma palavra melhor. E se o argumento e progressão da obra nos parecem demasiado comuns, evocativos de outros filmes de “female rage” e “coming of age” que vimos antes, há que reconhecer que o final do filme é bastante interessante – o confronto com uma caça às bruxas feroz e a um puritanismo que não devia sequer ter lugar no século XXI.
Em suma, “Her Will Be Done” é um filme imperfeito, mas capaz de expressar uma versão de feminismo que grita e arranha e se manifesta ferozmente contra o patriarcado que persiste no aqui e agora dos dias de hoje.
Conclusão
Longe de ser perfeito, “Her Will Be Done” é um filme reflexo do seu tempo: um conto de advertência do século XXI, que nos alerta para os perigos das mais fechadas das comunidades e para a forma como a figura da mulher é ainda imaginada no aqui e agora.