MOTELX 2025 | The Run – Análise
Porque os festivais de cinema se fazem também da exposição a outras formas de compreender e consumir a 7.ª arte, eis que destacamos uma proposta bem distinta oferecida ao público do 19.º MOTELX. Falamos do filme interativo “The Run”, uma aventura coletiva bem humorada e que coloca a nu o sadismo coletivo que afeta a humanidade – e que acabamos precisamente a purgar com experiências como um filme de terror.
Uma experiência coletiva no MOTELX 2025
Parte video jogo, parte obra cinematográfica, e até com direito a um menu interactivo e a um separador de contagem de mortes, “The Run” vale, acima de tudo, pela experiência coletiva de sala.
A sessão especial “The Run”, um filme de Paul Raschid, aconteceu no sábado, 13 de setembro, pelas 21h00, e na sala 2 do Cinema São Jorge. Numa exibição muito bem composta, os participantes ergueram glowsticks entregues à entrada para votar nas muitas opções interativas que foram sendo apresentadas ao longo do filme (ou jogo). Umas mais inofensivas, outras capazes de determinar entre a vida e a morte da personagem central e do seu aliado.
Antes do filme, tempo para que o muito eficaz mestre de cerimónias apresentasse a história completa, ou pelo menos a versão resumida daquela que é a história do filme interactivo, que em tempos foi inclusive apresentado como uma grande inovação na indústria do audiovisual antes de cair em desuso.
Mas há sempre um mercado para cada nicho, e eis que o realizador de “The Run”, Paul Raschid, tem dedicado precisamente a sua carreira à criação de filmes interativos.
Quanto a esta criação em particular, fomos presenteados com uma manifestação bastante comum de uma narrativa de terror. Aqui, a nossa protagonista Zanna (Roxanne McKee) é uma influencer de fitness seguida por milhões de pessoas. Depois de uma passagem pela Tailândia para um desafio especial, Zanna decide descomprimir numa pequena e idílica povoação italiana.
Nesta pequena vila, onde a população é extremamente envelhecida e onde nada de mau parece alguma vez acontecer, Zanna decide partir para uma corrida numa floresta belíssima e muito remota. O seu parceiro sexual, Matteo, um agricultor local que conheceu na noite passada, ficou para trás, na sua casa, e a jovem influencer parte à descoberta de um lindo trilho de corrida.
Vemos Zanna a percorrer paisagens deslumbrantes, com uma fotografia suficientemente agradável para conseguirmos apreciar a componente visual de “The Run”. O enredo pode ser bastante simples, como esperamos aliás no caso de um filme interativo, mas eis que somos recompensados com um cenário natural capaz de tirar o fôlego.
Durante esta longa corrida matinal, na qual passa por um castelo abandonado e por cascatas pitorescas, Zanna acaba por ser inesperadamente confrontada por um grupo de assassinos impiedosos que usam máscaras com caveiras. Sem compreender as suas motivações, Zanna começa uma luta pela sobrevivência e conta apenas com o jovem italiano que conheceu há pouco como seu único aliado.
Surpreendentemente, “The Run” termina com uma gigante reviravolta narrativa. Se pensarmos muito sobre o enredo, tudo o que se passou parece algo inverossímil, mas realmente o que aqui conta não é o destino, mas sim a viagem. E que viagem foi esta.
A purga bem-vinda em The Run
Coletivamente, o público na sala tende a escolher as opções que colocam a nossa protagonista em maiores sarilhos e nas situações mais embaraçosas. Ao votar desta forma, todos purgamos os nossos sentimentos negativos e pensamentos mais obscuros, projetando-os na morte repetida e variada de uma protagonista que não existe e que, portanto, não pode sofrer como pessoas de carne e osso. Há um certo sadismo inerente que não deixa de ser divertido de observar.
Uma purga imaginária, através de uma votação sem consequências reais mas com muito divertimento. Que venham mais experiências assim noutras edições do MOTELX, não fosse o terror o veículo perfeito para este exercício coletivo!
Conclusão
A experiência colectiva de sala de “The Run” é o maior trunfo deste filme interactivo onde, em conjunto, podemos expurgar os nossos demónios de uma forma divertida e atípica.