Speak no Evil, a Crítica: James McAvoy abriu o MOTELx com uma das melhores prestações do ano
Terror, ficção científica, dramas intensos e personagens que escapem à norma, tudo isto são reinos perfeitos para vermos James McAvoy (“Fragmentado”, “Lixo”) a brilhar no seu ambiente mais natural. Na abertura do MOTELx acrescenta-se um novo título às suas performances imperdíveis: “Speak No Evil” ou “Não Fales do Mal”.
Marcámos presença na primeira exibição em Portugal de “Speak No Evil”, ou “Não Fales do Mal”, obra protagonizada por dois versados no terror – James McAvoy (“It”, “Glass”) e MacKenzie Davis (“The Turning”, “Black Mirror”). Recupera-se aqui o enredo do filme dinamarquês do mesmo nome, estreado em Portugal também no MOTELx, no ano de 2022, onde venceu a competição Europeia de Longas-Metragens.
Uma versão americana, escrita “entre” os Estados Unidos e a Dinamarca
Neste remake americano, a equipa dinamarquesa, Christian Tafdrup e Mads Tafdrup, dá lugar à realização de James Watkins (“The Woman in Black”). Todavia, no argumento, o casal Tafdrup mantém-se nessa mesma função, a par de Watkins, o que resulta numa fidelidade grande no que diz respeito aos cenários e progressão .
Reforçando a naturalidade desta colaboração, os argumentistas da versão original de “Speak no Evil” já se haviam referido previamente a “Speak No Evil” (de 2024) como a anunciada “versão mais soft” da sua obra essencial.
E é isso que entregam – nem mais nem menos. Este “Não Fales do Mal”, produzido pela casa de clássicos do terror norte-americano mainstream no século XXI, como “The Conjuring” e “Paranormal Activity”, a famosa Blumhouse, explora exatamente o mesmo enredo mas dá-nos uma resolução distinta em todos os aspetos.
A história de dois casais com filhos, que se conhecem em férias; com um deles a convidar o outro para um fim de semana em família, numa casa remota e noutro país, é o prelúdio para uma tenebrosa representação do que pode acontecer a qualquer pessoa a qualquer altura – conhecer as pessoas erradas.
Parte tratado sobre masculinidade tóxica, parte sátira acerca das exigências absurdas da educação e boas maneiras levadas ao limite; em particular adaptadas à realidade nórdica e dinamarquesa, o “Speak No Evil” original injeta verdadeiro terror social numa história onde os monstros são bem humanos.
O terror dos atos vis de “Speak No Evil” não se dissipa neste remake. Ao fim de contas, o enredo é o mesmo, os cenários incrivelmente semelhantes e a grande revelação tenebrosa (da qual não falaremos, naturalmente) não sofre alterações.
Todavia, onde Speak No Evil” original era dominado por um atroz desconforto responsável por parte da tensão galopante, a versão americanizada perde com um tom bem mais suave e irónico. Aqui, a sátira torna-se dominante, talvez demasiado dominante, com um desequilíbrio palpável entre a comédia e o terror.
Nos últimos 30 a 40 minutos, o argumento diverge a 100% do “Speak no Evil” original, oferecendo uma lufada de ar fresco a quem já conhecia a obra, que até aqui havia sido uma cópia quase ipsis verbis.
Não Fales do Mal: Mudar ou Não Mudar…eis a questão
Mas eis que não há bela sem senão, e o “Speak no Evil” que abriu o MOTELx em 2024 perde (e muito) por se comprometer com um final tipicamente “à americana” e que dissipa, por completo, a sensação de pavor existencial que “Speak No Evil” (2022) havia deixado, durante muito tempo, nos seus espectadores.
De forma muito simples, a obra original europeia tem uma aura própria e uma brutalidade que fere, que nos deixa alerta e mergulha na mais profunda das tenebrosas realizações acerca dos perigos existentes nas relações humanas. “Speak no Evil” (2024) é quase fan fair, um filme facilmente digerível, que não nos machuca e não é particularmente difícil de ver. Tudo o que o torna único já não está aqui, mas quem nunca tenha assistido à versão original poderá ainda assim esperar uma experiência de sala com muito entretenimento.
As sequências finais, rápidas e com tanto a acontecer, não dão tréguas e, perante uma Sala Manoel de Oliveira repleta, a vibração da audiência fez-se sentir e serve como recompensa. Para o entretenimento válido do novo “Não Fales do Mal” contribuiu – muito – a prestação central do grande James McAvoy, que está aqui em casa. Poucos atores têm a sua versatilidade.
Como carinha laroca fez muito romance antes de chegarem os papéis mais drásticos e ancorados na transformação e total entrega à personagem. Os vilões já não são raros no seu repertório e assentam-lhe que nem uma luva. Aqui temos um vilão que emana sensualidade e que nos convida até ao seu covil, inebriando os novos “amigos” e a audiência por extensão, como não podia deixar de ser.
A versão americana de “Speak No Evil”, estreada no MOTELx 2024, já chegou às salas de cinema portuguesas com o título “Não Fales do Mal”, e pode ser vista de norte a sul. Merece a descoberta – preferencialmente antes do original!
Speak no Evil, a Crítica
Movie title: Speak no Evil
Movie description: Uma família americana é convidada para passar um fim de semana no idílico cenário rural de uma família britânica, que conheceu num período de férias e cuja amizade se consolidou. Mas ninguém suspeitava que um tempo de lazer se transformaria num pesadelo psicológico.
Date published: 23 de September de 2024
Country: EUA
Duration: 110'
Director(s): James Watkins
Actor(s): James McAvoy, Mackenzie Davis, Scoot McNairy
Genre: Terror, Suspense,
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Maggie Silva - 55
Conclusão
James McAvoy é o coração pulsante da versão americana de “Speak no Evil”, uma interpretação menos brutal do filme dinamarquês que há dois anos saiu vitorioso da Competição Europeia de Longas-Metragens do MOTELx. Menos marcante se comparado com o original, “Não Fales do Mal” não deixa de se apresentar como sólido entretenimento, muito bem acolhido num Cinema São Jorge repleto.