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Springsteen: Deliver Me From Nowhere | Era uma vez um homem que fugiu do sucesso para se encontrar no silêncio


Jeremy Allen White encarna o Bruce Springsteen, o rocker que um dia trocou o êxito pela solidão em “Springsteen: Deliver Me From Nowhere” e fez do colapso depressivo, a sua maior canção. Estreia esta semana nos cinemas portugueses.

Há filmes sobre músicos e há filmes sobre música. E depois há “Springsteen: Deliver Me From Nowhere”, de Scott Cooper, um mergulho melancólico num quarto de gravação e num abismo interior. Não é um biopic, é uma sessão de terapia filmada. Um retrato cru e íntimo do momento em que Bruce Springsteen percebeu que a fama não cura nada e que o verdadeiro rock pode ser apenas um homem, uma guitarra e um gravador barato.

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Jeremy Allen White surpreende na nova biopic de Bruce Springsteen
© 2024, FX Networks. / Crédito editorial: Jack Fordycyde/ Shutterstock.com (ID: 482774647) / (Editado por Vitor Carvalho, © MHD)

“Springsteen: Deliver Me From Nowhere” passa-se em 1981, aos 32 anos, o “Boss” acabara de conquistar o mundo com The River. Estava no topo. E farto. “Cheguei a um muro pessoal que nem sabia que existia”, confessou. Desse muro nasceu “Nebraska”, um álbum gravado sozinho, em casa, sem truques nem refrões radiofónicos. Um disco que a editora achou “demasiado deprimente” e que Bruce lançou mesmo assim, sem o seu retrato na capa, sem singles, sem promoção. Um gesto de coragem e de desespero.

O homem que apagou as luzes

Scott Cooper filma esse apagão com a precisão de quem sabe que há mais verdade no silêncio do que num palco. Nada de clichés biográficos, nem palcos cheios de luz. Só um quarto desarrumado, uma guitarra desafinada e um homem a tentar sobreviver ao eco da própria voz. Jeremy Allen White, o ator que já dominou o colapso em “The Bear”, faz aqui uma das interpretações do ano. Não imita Springsteen, mas habita-o. Mostra-o vulnerável, confuso, cansado, mas vivo. A fotografia, granulada e triste, parece saída do próprio vinil de “Nebraska”. Cooper filma o som, o ranger do soalho, o chiado da fita, o respirar entre versos. Tudo é físico, palpável, e no meio dessa solidão há uma estranha ternura.

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O lado B da América

Springsteen: Deliver Me from Nowhere
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“Springsteen: Deliver Me From Nowhere” é o filme que mostra o reverso do sonho americano: a América dos motéis, dos desempregados, dos homens que já não acreditam em nada. Bruce lê Flannery O’Connor, vê “Noivos Sangrentos” (“Badlands”) de Terrence Malick e transforma assassinos e fantasmas em canções. A certa altura grava My Father’s House e parece falar com o próprio pai, um homem violento e triste que o moldou a golpes de silêncio.

Cooper filma essa cena como um exorcismo, com uma luz fraca e uma guitarra que soa a confissão. Jeremy Strong (o Kendall Roy de “Succession”) surge como Jon Landau, o manager que tenta apenas não o deixar afundar-se. É o único que o escuta sem o tentar salvar. E isso basta.

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“Nebraska”: o álbum que não queria existir

Springsteen: Deliver Me from Nowhere
© NOS Audiovisuais

O filme é o making of de um milagre improvável: um artista no auge a decidir desaparecer. “Nebraska” é a prova de que, às vezes, o silêncio grita mais alto que qualquer refrão. Bruce recusou tudo, a fama, o marketing, a capa com o rosto. E Cooper transforma essa recusa no coração do filme: o direito de parar, de falhar, de ser humano.

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A música como redenção

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© Adam McCullough via ShutterStock (ID: 2358172179)

“Springsteen: Deliver Me From Nowhere” é cinema como o álbum que o inspirou: cru, melancólico e sem truques. Um hino à vulnerabilidade e à arte como cura. Jeremy Allen White confirma-se como um ator raro e Scott Cooper como o realizador que melhor filma o vazio. Num tempo em que tudo é ruído e evasão, este é um filme sobre o poder de calar e sobre a coragem de fazer do colapso uma canção que ainda hoje nos salva e nos dá esperança.

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