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Tribeca Festival Lisboa ’25 | If I Had Legs, I’d Kick You – a Crítica

“If I Had Legs, I’d Kick You” é um filme que chegou ao Tribeca Festival Lisboa para a sua estreia absoluta em Portugal, já com credenciais impressionantes a suportar esta longa-metragem. Cinema no feminino, com Rose Byrne numa prestação central monstruosa (no bom sentido), “If I Had Legs, I’d Kick You”, já com distribuição NOS garantida em solo nacional, é nos EUA distribuído pela famosa A24 e tem tido uma rota de festival bastante bem-sucedida.

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Do Festival de Berlim para o Tribeca Festival Lisboa

Rose Byrne and A$AP Rocky in If I Had Legs I'd Kick You (2025)
Rose Byrne e A$AP Rocky em “If I Had Legs I’d Kick You” (2025) |©A24

O filme, com Byrne no papel central e um surpreendente Conan O’Brien na pele do terapeuta da nossa protagonista, também ela uma terapeuta, estreou inicialmente no Festival de Berlim. Por lá, Rose Byrne venceu o Urso de Prata para Melhor Performance, bem merecido, há que dizer, e embora não seja um dos nomes mais ouvidos na corrida aos Óscares, não fosse este um filme com um cunho mais indie, a verdade é que não a podemos descartar totalmente. Além disso, a realizadora Mary Bronstein também foi justamente nomeada ao Urso de Ouro para Melhor Filme neste mesmo festival.

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Para além da estreia num dos mais prestigiados festivais de cinema da Europa e do mundo, “If I Had Legs, I’d Kick You” passou por Melbourne, Estocolmo, Atenas ou ainda em Espanha, por Stiges. Nos importantes Gotham Independent Film Awards, um dos primeiros indicadores da temporada de prémios, a obra de Mary Bronstein foi recentemente nomeada a quatro categorias fulcrais: Melhor Filme, Melhor Realização, Melhor Argumento Original e Melhor Performance Central para Rose Byrne (“Bridesmaids”).

Nesta comédia negra casada com drama psicológico, com co-produção por Josh Safdie (que em breve nos entregará “Marty Supreme“, com Timothée Chalamet), Rose Byrne prova que é muito mais do que um mero sidekick de comédias românticas, desempenhando um papel definidor de carreira (e há que não gastar o termo, o ênfase é mesmo merecido neste caso).

If I Had Legs I’d Kick You e um “fever dream” da maternidade

 

“If I Had Legs I’d Kick You”, escrito e realizado por  Mary Bronstein, é um filme que retrata, com gigantesca nuance e com um estilo muito próprio, uma situação limite na vida de uma mãe. A nossa protagonista, Linda, encontra-se à beira do colapso, à medida que a sua vida ameaça desmoronar. O seu marido está a trabalhar, sempre longe, em parte incerta, o seu teto acabou de desabar e a sua casa está repleta de bolor e inabitável, e eis que se encontra a dormir num motel mal amanhado com a sua filha, que tem uma doença misteriosa que nunca nos é dada a conhecer, mas que sabemos que a leva a perder peso, a não conseguir comer e a ser alimentada por uma intrusiva sonda.

“Este não é um filme sobre uma família, é sobre esta pessoa”

A vida de Linda é tudo menos fácil e no filme vemos todas as situações incrivelmente a partir do seu ponto de vista, de uma forma quase sufocante, mas muito intencional. A sua jovem filha, cujo nome nunca é identificado, encontra-se em claro sofrimento, mas vemos como a mãe desesperada se dissocia cada vez mais da sua menina. Aliás, nunca a vemos por pleno, nunca vemos sequer o seu rosto e nunca sabemos o seu nome. Só a vemos sorrir de forma convidativa e descobrimos o seu rosto no último plano do filme, depois de Linda passar por uma complicada jornada de revelação.

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Antes disso, o caos reina de forma gloriosa neste “If I Had Legs I’d Kick You”. Linda é terapeuta e já mal suporta os seus pacientes e o seu maior suporte é mesmo o seu próprio terapeuta, outra personagem sem nome que opera a partir do mesmo consultório, ao fundo do corredor. A relação com os seus pacientes e o seu terapeuta tornam-se cada vez mais tensas ao longo do filme, e a espiral decadente faz-se sentir e bem, nos nossos ossos, à medida que “If I Had Legs I’d Kick You” sucede em tornar-se cada vez mais claustrofóbico.

Aqui, ser mãe não define a nossa protagonista: mesmo estando sozinha, mesmo estando a sua filha doente. Como defendem a realizadora e a atriz protagonista, é fulcral não ver a “mãe” apenas como tal, vê-la através de um prisma feminino e sem funcionar como um apêndice da sua filha. Daí a mudança extrema de olhar, de ponto de vista, de perspectiva, que torna este filme único e distinto.

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Rose Byrne no topo da sua carreira

 

Há muito que não via um filme capaz de representar tão bem as ansiedades e culpas associadas à maternidade, mas a personagem de Rose Byrne, embora muitas vezes reprovável, clama pela nossa empatia. E, não estivesse o filme de Bronstein tão bem montado e ritmado, claro que sentimos as emoções de Linda de forma clara, inequívoca, plena, colectiva.

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Esperemos que a jornada deste filme seja bem-sucedida ao longo desta temporada de prémios, pois todos os ingredientes estão lá. Tudo nos garante uma experiência cinematográfica repleta, onde os efeitos visuais são simples mas impactantes, e onde o baixo orçamento não é de todo uma inibição de qualidade, quiçá antes pelo contrário. Por mais que este seja um filme independente, “If I Had Legs I’d Kick You” é tão particular quanto universal e uma vitória tremenda para Bryne, uma atriz que merece muito mais respeito.

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If I Had Legs I'd Kick You - Análise

Conclusão

  • “If I Had Legs I’d Kick You” é tão particular quanto universal e uma vitória tremenda para Rose Bryne, uma atriz que merece muito mais respeito.
Overall
8.5/10
8.5/10
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