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LEFFEST ’25 | Urchin – a Crítica

Conhecemos Harris Dickinson de papéis dramáticos tais como “Triângulo da Tristeza” (2022) ou “Babygirl” (2024), mas com “Urchin” este ator britânico de 29 anos dá um novo salto. Agora, é um intérprete que virou realizador e assinou um drama pertinente sobre vício, centrado num protagonista empático, o qual acompanhamos ao longo de cerca de 1h40.

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“Urchin”, uma estreia firme para Dickinson, teve primeira exibição mundial no Festival de Cannes, mais precisamente na secção Un Certain Regard, dedicada ao reconhecimento dos maiores talentos emergentes. Por lá, o filme foi, justamente, distinguido com o prémio FIPRESCI (entregue pela Federação Internacional de Críticos) e levou ainda o prémio de Melhor Ator para Frank Dillane (“Fear the Walking Dead”), que esteve presente no LEFFEST em 2025 para apresentar “Urchin” a nível nacional (integrado na Seleção Oficial, Descobertas).

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Urchin: um olhar empático sobre quem vive na rua

Esta estreia de Harris Dickinson na realização revela um olhar empático sobre as pessoas em situação de sem abrigo, acompanhando de perto o ciclo vicioso de toxicodependência e vida na rua vivida pelo nosso protagonista Mike (Frank Dillane). Diz-nos a distribuidora que o filme nasceu da própria experiência de Dickinson no apoio a estas comunidades. Com Mike vivemos uma vida plena e simpatizamos de forma inequívoca com a personagem central, destituída em todos os sentidos, mas ainda assim repleta de vida, de vontade de inverter a sua situação: de recuperar, encontrar um novo lugar na sociedade, deixar de viver às suas margens.

Além disso, “Urchin” oscila entre planos mais realistas e mais surreais, apresentando uma banda sonora repleta de ritmo e alguns momentos em que entramos em sequências de sonho, fruto da entrada a pés juntos no subconsciente do protagonista. Sendo “Urchin” um filme de muito baixo orçamento, nem sempre estes instantes são assim tão bem conseguidos do ponto de vista visual. Todavia, são sempre honestos e pertinentes do ponto de vista narrativo.

Frank Dillane destaca-se na estreia de Harris Dickinson na realização

Temos também de elogiar Frank Dillane, ator inglês que desaparece por completo no papel de Mike. A autenticidade salta à vista, sem que o papel nunca pareça exagerado ou forçado. Vêmo-lo simplesmente a viver: da concentração nas cassetes de auto-ajuda à redescoberta do amor, passando pela tentativa falhada de “ficar limpo”, passamos por tudo com o nosso protagonista. Mesmo quando Mike comete erros reprováveis, continuamos ao seu lado, um testemunho à representação de Dillane e também ao próprio argumento, capaz de nos fazer torcer pelo nosso “herói” muito imperfeito do início ao fim.

Existe uma vulnerabilidade imensa inerente a representar este papel, a tornar-se este “ouriço”. Ao pensarmos no título do filme, que significa “ouriço”, encontramos também uma metáfora rica, repleta de camadas de significação.

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Primeiro somos confrontados com Mike como um “street urchin”, um vagabundo, que vive à margem da sociedade, em situação de sem abrigo. Mas eis que Harris Dickinson vê uma enorme fragilidade para lá deste “street urchin”, vendo antes o nosso Mike como um belo ouriço-do-mar, adquirindo o termo uma dupla significação. O ouriço-do-mar é uma criatura repleta de espinhos, que parece hostil, mas que na realidade tem um interior verdadeiramente delicado. Assim é também o nosso Mike, com toda a sua vulnerabilidade, ternura e sensibilidade.

Urchin
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E embora o fim seja inevitavelmente triste e afeto a um ciclo vicioso, há pequenos momentos de beleza, de amor, de confraternização que tornam tudo mais precioso, mais valioso, mais difícil de roubar.

Acima de tudo, “Urchin” é um belo estudo de personagem e uma viagem de qualidade para quem vê. Apenas criticamos o filme devido à geral previsibilidade do enredo, que começa e acaba exatamente como esperaríamos no início. Num ciclo vicioso feito de avanços e recuos. Mas não nos podemos queixar em demasia, pois assim a vida, e assim é a vida dos que vivem na rua, assim é a vida dos que se vêm presos a vícios. “Urchin” não julga, longe disso, retrata uma experiência que merece ser narrada e fá-lo com grande estilo, particularmente para uma estreia.

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“Urchin” conta já com planos de exibição comercial em Portugal, precisamente no presente mês de novembro. Chega a 27 de novembro às salas, com distribuição pela “No Comboio”. Por cá, será intitulado “Urchin – Pelas Ruas de Londres”, um título algo imperfeito e que não captura a natureza pouco melodramática da história que nos é apresentada.

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Urchin - a Crítica

Conclusão

  • “Urchin” é um filme rico, uma estreia inegável para Harris Dickinson e um retrato profundamente humanitário de pessoas em situação de sem abrigo.
Overall
7/10
7/10
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