LEFFEST ’25 | Where to Land – a Crítica
Hal Hartley, cineasta independente norte-americano, teve direito a uma retrospectiva do seu trabalho nesta 19.ª edição do LEFFEST. Esta é a primeira grande retrospectiva europeia da sua carreira. “Where to Land”, a sua longa-metragem mais recente, insere-se nesta retrospectiva mas integra também a Selecção Oficial – Em Competição do festival. Nesta terceira exibição do filme, o cineasta homenageado voltou a marcar presença para uma sessão de perguntas e respostas.
Uma obra auto-reflexiva no LEFFEST ’25

O norte-americano Hal Hartley defendeu, no Q&A deste seu “Where to Land”, não ser particularmente fã de teatro, quando uma questão do público abordou a sua proximidade ao formato com esta peça fílmica. E embora a resposta peremptória, um não categórico, a verdade é que encontramos muito de teatral neste seu mais recente filme, das personagens secundárias que entram e vão saindo de cena, à repetição da presença do seu pequeno apartamento como centro de toda a ação. E a sua teatralidade não é, de longe, uma das piores características do filme.
Vemos “Where to Land” como o reflexo de um realizador que pensa a sua própria existência. Hal Hartley não realizava uma longa há mais de uma década, desde “Ned Riffle”, em 2014, co-protagonizado por Aubrey Plaza. Também o protagonista do filme é um realizador recém-aposentado ou “semi-aposentado”, o qual se dedica ao campo das comédias românticas. O nosso cineasta fictício, Joseph Fulton, depara-se com grandes questões sobre o significado da vida. Encontra-se numa encruzilhada, em busca de nova significação.
Como é que o faz? Procura em locais inesperados. Decide que quer tratar do seu testamento, porque há décadas que os seus advogados insistem que assim o faça. Por outro lado, em busca de uma vida com maior tranquilidade, proximidade com a natureza e com o trabalho manual, Joseph decide candidatar-se a um trabalho no cemitério local perto da sua casa.
O seu objectivo é manter-se ocupado, encontrar novos propósitos e não de todo colocar uma vida na reta final em perspectiva. Mas eis que os seus amigos, namorada e familiares compreendem mal as suas intenções, assumindo que ele está a morrer e que se prepara para a derradeira despedida. Esta comédia de erros, esta série de desencontros e mal entendidos, a premissa básica do argumento, é sem dúvida a maior graça e salvação de “Where to Land”, um filme que infelizmente se faz um pouco esquecível.
Where to Land (2025) e a força de uma premissa
Para além da grande premissa inicial, que nos permite assistir a alguns dos melhores momentos da trama, o novo filme de Hal Hartley é filmado quase como se de um trabalho documental se tratasse. A edição é algo tosca, e parece ser assim feita de forma intencional. Corta-se de forma muito abrupta, uma e outra vez, sem que exista grande intenção narrativa adjacente a estes atos.
Por outro lado, “Where to Land”, com apenas 74 minutos de duração, por vezes coloca as suas personagens a divagar e acaba por parecer bem mais longo do que é na realidade, não obstante a quantidade simpática de personagens carismáticas e caricaturais que se fazem representar na fita.
O argumento tem os seus momentos de brilhantismo, em particular quando todas as personagens se reúnem no apartamento do protagonista, mas também é deambulante, sem margem para dúvida, e não num sentido particularmente positivo.
Algumas escolhas estéticas deixa-nos também desarmados: o porquê da música, composta pelo próprio Hal Hartley, que também escreve, produz e realiza, ser tão alta e intromissiva, subjugando os diálogos ao seu som incessante e exagerado. Qual a intenção narrativa de tal decisão? É difícil compreender. Talvez em vão se tentasse algum meio de disrupção. Mas a verdade é que “Where to Land” é uma comédia indie norte-americana bastante clássica, sem muito que a eleve entre as restantes. Não fosse, claro está, a tal iluminada premissa que nos cativou em primeiro lugar.
“Where to Land” garantiu já distribuição comercial em Portugal, pela Leopardo Filmes, distribuidora da mesma empresa afeta à organização do LEFFEST. Por cá, toma o nome português de “Onde Aterrar”.
Where to Land - a Crítica
Conclusão
- “Where to Land”, não sendo uma obra genial, suporta-se numa premissa deliciosa e que é executada com o humor que lhe é devido. Hal Hartley é homenageado pela sua natureza verdadeiramente independente como cineasta, a qual sem dúvida transparece aqui.

