Sydney Sweeney: Celebridade de 2025 | O Ano Foi Dela, 2026 Está Escancarado
Amada, atacada, projectada e discutida, Sydney Sweeney passou 2025 inteira a ser interpretada por todos, menos por ela própria. 2026 começa com “A Criada” e com todas as portas abertas em Hollywood. Esta de volta os ecrãs a 1 de janeiro.
Há uma frase antiga, atribuída a John Ray, naturalista inglês do século XVII — e citada por uma das personagens de “A Criada” — que parece escrita a pensar em Sydney Sweeney: “Beleza é poder; um sorriso é a sua espada.” No caso dela, convém acrescentar um detalhe: o sorriso raramente é conciliador. É defensivo, irónico, por vezes até hostil. E talvez seja isso que tenha tornado Sydney Sweeney a figura mais discutida — e mais reveladora — do cinema e da cultura pop em 2025. Este foi o ano em que deixou definitivamente de ser apenas uma actriz promissora para se tornar um verdadeiro ícone e um campo de batalha simbólico: um rosto onde se projectaram desejos, ressentimentos, guerras culturais, fantasias reaccionárias e pânicos progressistas. Tudo menos indiferença. Num tempo em que o entretenimento vive de ruído constante, isso não é coisa pequena, nem para brincadeiras.

Um romance improvável
Comecemos pelo romance mais improvável do ano 2025. Sweeney envolveu-se com Scooter Braun, o arqui-inimigo emocional dos Swifties, os devotos fervorosos de Taylor Swift que reagiram ao namoro como se tivessem visto Darth Vader a beijar a Pequena Sereia. Hollywood engasgou-se, a internet implodiu e a própria Taylor Swift terá, algures, escrito mentalmente um verso amargo para uma canção de um futuro álbum. Quanto a Sydney Sweeney? Beijou Scooter numa pedra do Central Park, em Nova Iorque, em plena luz do dia, como quem declara: cancelamentos só se for no cabeleireiro. Quanto “A Criada” chega agora às salas portuguesas, a 1 de Janeiro de 2026, traz consigo mais do que um thriller eficaz: confirma que, goste-se ou não, Sydney Sweeney é hoje uma das poucas figuras capazes de gerar conversa, polémica e curiosidade real em torno de um filme mediano. Confirme-me se não é verdade!

Um corpo em disputa, uma carreira em construção
Hollywood sempre produziu mulheres bonitas ou melhor estrelas de cinema na sua dimensão mediática. O que já não produz com a mesma frequência são figuras capazes de gerir o peso simbólico dessa beleza sem se deixarem reduzir a ela. O percurso de Sydney Sweeney tem sido precisamente esse exercício de equilíbrio instável, entre a beleza e o talento. Desde a série “Euphoria”, onde transformou Cassie num retrato quase cruel da dependência emocional e da humilhação afectiva, ficou claro que havia ali mais do que simples fotogenia. Cassie não é simpática, nem exemplar, nem confortável. É excessiva, carente, errática e Sweeney interpreta-a sem pedir absolvições morais ao espectador. Esse desconforto têm acompanhado fora e dentro do ecrã. Tentaram encaixá-la numa narrativa simples: a loira conservadora, a “MAGA Barbie”, a actriz silenciosa demais para os padrões do activismo contemporâneo. A insistência dessas leituras revela sobretudo a dificuldade em lidar com uma actriz que não se explica à velocidade exigida pelas redes sociais.

O anúncio, o silêncio e o barulho
A polémica em torno do anúncio da American Eagle foi menos sobre jeans e mais sobre projecções. Um slogan ambíguo, um belo corpo altamente legível no imaginário ocidental e uma reacção em cadeia que passou pela eugenia, pela supremacia branca, pelo marketing irresponsável e pelo oportunismo político. Houve críticas à esquerda, aplausos à direita, Donald Trump a comentar e as acções da marca a subir. Sydney Sweeney ficou em silêncio. Mais tarde reconheceu que esse silêncio “ampliou a divisão”. Não pediu desculpa, não renegou a campanha, não reescreveu a sua imagem pública. Exausta, respondeu com humor seco: “Eu fiz um anúncio de jeans. Eu gosto de jeans. Uso jeans todos os dias.”. Afinal a rapariga só queria ganhar umas “massas”. Mas a máquina da polémica não perdoou. A esquerda acusou-a de frivolidade; a direita hasteou-a como bandeira anti-woke. O senador republicano Ted Cruz elogiou-a (!), Trump fez-lhe publicidade gratuita (!!) e Sweeney, no meio disto tudo, só queria vender umas calças e ir à vida dela.

Sweeney a republicana?
A situação piorou quando se descobriu que Sydney Sweeney estava inscrita como republicana. A partir daí, foi promovida a mascote involuntária da direita cultural americana, um fardo que não pediu, não quer e que está a pagar caro nos corredores de Hollywood. Aimee Lou Wood e Christina Ricci distribuíram likes maldosos; Ruby Rose acusou-a de arruinar “Christy: A Força de Uma Campeã” (embora o filme não precisasse de grande ajuda nesse departamento). E Hollywood, sempre tão orgulhosa da sua liberdade política, continua a reagir mal sempre que alguém se desvia um milímetro do cardápio ideológico do dia. Assumiu o erro táctico e seguiu em frente. Num ecossistema onde a contrição performativa é quase obrigatória, essa atitude foi lida como provocação.

Uma mulher de negócios em potência
Talvez seja pragmatismo. Talvez instinto de sobrevivência. Em qualquer dos casos, tornou Sydney Sweeney ainda mais observada. Enquanto isso, Sweeney constrói um pequeno império pessoal: produz filmes, assina campanhas milionárias, lança linhas de lingerie, investe em marcas e promove até sabonetes “com um toque da sua água do banho”. Se isto não é capitalismo tardio em modo influencer, não sei o que será. A verdade é simples: em Hollywood, ser actriz já não paga a renda. É preciso desdobrar-se em marca, empresa, aroma e estado de espírito. E Sydney vende tudo. Vende sempre. E vende com eficácia. O público compra, mesmo quando jura que não gosta dela.

“A Criada”: ecos do noir erótico dos anos 90
Realizado por Paul Feig e adaptado do best-seller de Freida McFadden, “A Criada” assume sem complexos a herança do thriller doméstico e do noir erótico dos anos 90. Sweeney interpreta Millie, uma jovem com um passado opaco que aceita trabalhar como empregada numa mansão suburbana onde a perfeição é apenas fachada. Amanda Seyfried surge como a patroa de sorriso impecável e crueldade intermitente. Entre ambas instala-se uma relação feita de humilhação, desejo, manipulação e sobrevivência. O filme começa como drama doméstico, desliza para o suspense psicológico e termina numa fantasia de vingança que sabe exactamente quando exagerar. No último acto, Sydney Sweeney abandona a contenção e entrega-se a uma raiva física, quase catártica. Não é subtil. É eficaz. E funciona especialmente bem numa sala cheia. Não é cinema de prestígio. É cinema que sabe para quem se dirige.

Mulheres encurraladas, papéis sem conforto
O mais interessante no percurso recente de Sydney Sweeney é a coerência temática dos seus papéis, mesmo quando os filmes falham. Em “Imaculada”, é uma freira grávida contra a sua vontade. Em “Reality”, sustenta um filme inteiro com silêncio e nervos à flor da pele. Em “Christy: A Força de Uma Campeã”, encarna a pugilista Christy Martin, explorando repressão, abuso doméstico e identidade sexual num filme desigual, mas ambicioso. O padrão é claro e recorrente: mulheres sob pressão extrema, corpos controlados, vidas vigiadas, explosões adiadas. Sweeney não procura personagens “fortes” no sentido clássico; procura personagens limitadas, esmagadas por sistemas. É aí que encontra tensão dramática. Quando erra, erra por excesso de ambição e nunca por cobardia.
Estrelas num tempo sem estrelas
Enquanto a indústria começa a fantasiar com a possibilidade de criar actores gerados por IA e narrativas personalizadas até à exaustão, Sydney Sweeney insiste numa ideia quase fora de moda: o carisma de uma pessoa real ainda importa. Com contradições, falhas públicas, ambiguidades políticas e escolhas discutíveis. Ela não é consensual. Não é confortável. Não é bem-comportada. E talvez por isso funcione. O cinema pode estar em crise. As salas podem estar a perder centralidade. Os filmes podem já não ocupar o centro da cultura dos espectadores por causa das séries de televisão. Mas enquanto existirem figuras capazes de gerar identificação, rejeição, desejo e curiosidade genuína — enquanto houver quem vá às salas para ver se é verdade — o cinema continua a respirar.

A celebridade de 2025
Porque foi Sydney Sweeney uma das grandes figuras de 2025? Porque é o reflexo perfeito do nosso tempo: talentosa o suficiente para ser levada a sério; bonita o suficiente para ser objecto de obsessão; polémica o suficiente para ser símbolo; ambígua o suficiente para ser moldada por qualquer tribo digital; omnipresente, mas compreendida por poucos. É a celebridade pós-moderna por excelência: simultaneamente vítima e culpada, musa e vilã, conservadora e progressista, ingénua e estratega. Uma actriz com talento genuíno num mundo onde a verdadeira interpretação já não acontece apenas nos filmes, mas sobretudo nas redes sociais. Hollywood queria uma estrela. A internet transformou-a num campo de batalha. E Sydney Sweeney continuará no centro: visível, rentável e impossível de ignorar. Talvez não seja a última estrela do cinema. Mas é, sem dúvida, a figura que melhor explicou 2025 e que entra em 2026 com o jogo todo aberto e a jogar a ponta de lança.
JVM

