Golpada Americana, em análise
“A Golpada Americana” perde um pouco por toda a publicidade e relevo que lhe foi dado, acabando por ser uma ligeira desilusão devido às altas expectativas. É verdade que é um filme envolvente, em que se exploram complexas emoções humanas, onde nada é preto no branco, mas acaba por não ter uma grande mensagem, momentos de reflexão ou uma conclusão grandiosa.
Irving Rosenfeld (Christian Bale) é um homem casado, com um filho, que acaba por se envolver com outra mulher, Sidney Prosser (Amy Adams). Aquilo que diferencia esta história de tantas outras é que Irving não se envolve em actividades ditas legais, e Sidney torna-se a sua parceira no crime, até que ambos são apanhados pelo agente do FBI Richie DiMaso (Bradley Cooper), que os força a colaborar consigo na sua busca para acabar com diversos criminosos, em troca de imunidade pelos seus crimes anteriores.
Apesar de que o possa parecer nesta simples sinopse, “A Golpada Americana” não é um filme típico sobre golpes e fraudes. Os diversos monólogos durante a progressão do enredo conferem uma nova dimensão à história, oferecendo diferentes pontos de vista das várias personagens sobre a sucessão de acontecimentos, e mesmo a própria forma como tudo se desenrola é interessante e nada comum em filmes com esta temática.
Em certo ponto, Irving começa a questionar-se acerca das suas escolhas e a entender o impacto que as fraudes que comete tem na vida das pessoas afectadas. O facto do novo golpe orquestrado por Richie ter tomado dimensões tão grandes assusta-o, e o público começa a conhecer uma nova faceta de Irving, a de um homem assustado e não tão confiante como demonstra ser ao ínicio.
A tensão sexual entre as personagens de Amy Adams e Bradley Cooper é palpável através do ecrã, mas a relação entre ambos acaba por se tornar apenas confusa e estranha, não sendo muito credível toda a intensidade nos momentos de vulnerabilidade entre eles. Isto talvez seja propositado no sentido de preparar para a conclusão do enredo, mas acaba por lhe retirar qualidade.
Amy Adams entrega uma performance convincente e sentida, e Christian Bale revela-se mais uma vez um autêntico camaleão, transformando-se numa pessoa completamente diferente, também fisicamente, para interpretar Irving. Chega a ser tão credível que é quase inevitável sentir empatia por um homem que sabemos ter valores morais no mínimo questionáveis. Jennifer Lawrence também se entrega completamente ao papel de Rosalyn, a mulher de Irving, interpretando uma personagem única e especial de uma forma bastante interessante e peculiar. O único actor com grande relevância cuja performance não deslumbra é Bradley Cooper, mas a sua própria personagem é contraditória de uma forma confusa e nada apelativa, o que torna o seu trabalho especialmente difícil.
Em relação à caracterização, todas as personagens são únicas e isso reflecte-se no guarda-roupa, especialmente no que diz respeito a Sidney e Rosalyn que estão ambas deslumbrantes durante toda a duração do filme.
No geral, “A Golpada Americana” consegue entreter, e não é de todo um mau filme, mas fica um pouco aquém das expectativas. As suas maiores qualidades residem, sem qualquer dúvida, no elenco de excelência e na forma como foi conduzido pelo realizador David O. Russel, mas dificilmente vai ser um filme completamente inesquecível ou a resposta à pergunta “Qual foi o melhor filme que viste na tua vida?”.
SL