A Invenção de Hugo – Análise

 

Titulo Original:HugoRealizador: Martin Scorsese

Atores: Asa Butterfield, Chloë Grace Moretz, Ben Kingsley

Paramount | 2012 | Aventura | 126 min

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Acredito piamente que do outro lado do ecrã, existe um leitor que se interroga constantemente sobre como seria a sua vida sem cinema, o quão ténue seria… O mesmo pergunto a mim mesmo. Quase sempre, sem uma resposta verdadeiramente segura. Mas mais do que divagar sobre como seria a vida sem a 7ª Arte, a questão fulcral é tentar perceber o porquê de ela ser tão primária. “A Invenção de Hugo” tem uma clara resposta para isso: “Os filmes têm o poder de capturar sonhos”. É verdade… é fundamentalmente por isso que adoramos o cinema, porque somos seres sonhadores, porque acreditamos que um dia a nossa vida se irá assemelhar a uma grande história cinematográfica, porque acreditamos nos poderes da magia, porque, porque, porque… “A Invenção de Hugo” percorre os primórdios do cinema, a origem desse sonho, o início da magia.

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Toca a música. Abre-se o pano. De repente, somos confrontados com engrenagens que subitamente se transformam nos Campos Elísios. Sobrevoamos Paris. A neve bate-nos na cara (fenomenal 3D, do melhor que já foi feito). Somos arrastados para uma estação de comboios. Os movimentos da câmara são unidireccionais. Hugo espera-nos. Brian Selznick (o autor de “A Invenção de Hugo Cabret”) nunca deve ter imaginado o quão espantoso poderia ser pelas mãos do mestre Martin Scorsese, a sua cena inicial que a qualifica prontamente de cinematográfica. A viagem continua. Conhecemos o órfão Hugo Cabret, um rapaz que vive na estação de comboios e que trata de dar corda a todos os relógios da mesma estação. Um solitário rapaz cujo único propósito em viver é conhecer um segredo. Um segredo que lhe tira o sono, que o faz sonhar e que crê ser uma mensagem do seu pai.

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Hugo conhece Isabelle, com quem partilha o segredo, e que decide abarcar a aventura. O que não sabíamos ainda era que esse segredo seria uma verdadeira e apaixonada homenagem ao cinema e, principalmente, ao génio por detrás de George Miélés (um dos primeiros cineastas de sempre que conta com uma obra de mais de 500 filmes). Mas “A Invenção de Hugo” não se limita a criar momentos nostálgicos que ataquem por completo o coração cinéfilo de cada um de nós. Mostra-nos também que todos somos uma parte de um todo, que todos somos importantes, que todos temos um papel a desempenhar, que todos temos o direito e dever de sonhar, que todos deveremos ter esperança numa vida melhor, e que a real relevância de cada ser humano se traduz naquilo que somos e podemos fazer e não naquilo que fizemos de mal no passado.

A certa altura Hugo Cabret diz para Isabelle: “Eu gosto de imaginar que o mundo é uma grande máquina. Tu sabes, as máquinas não têm peças sobressalentes. Elas têm o exato número e tipo de partes que precisam. Então acho que se todo o mundo é uma grande máquina, eu tenho de estar aqui por alguma razão também.” A verdade é que Hugo foi o motor do filme, o herói, a personificação da descoberta, o… inventor de sonhos (essa sim, foi a sua invenção!).

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A grande mensagem não está, como muitos reclamam, explícita na obra. Mas se pensarmos um pouco, chegamos à conclusão que o que o pai de Hugo queria era que o filho seguisse o seu caminho. Porque só isso bastaria para que a sua mente carregasse os sonhos, porque só isso bastaria para que ele gostasse de cinema, porque só isso bastaria para que ele sobrevivesse à nostalgia e agarrasse a esperança.

Martin Scorsese sempre conseguiu arrebatar audiências. Seja com filmes de gangsters arrepiantes, policiais frenéticos, dramas clássicos, ou até thrillers hipnotizantes. E, para muitos, esta obra nada acrescenta à sua magnífica filmografia. A meu ver, este é o filme que lhe faltava fazer, o filme mais divergente, o mais familiar, o mais cinematográfico. E são realizadores como este que nos fazem acreditar que o mundo pode realmente ser uma grande máquina.

Há quem diga ainda que o cinema não necessita de homenagens. A mim parece-me irrefutável que necessita, sim! Porque tudo o que amamos necessita de ser louvado, para que não se perca na história, para que não se repita a crónica de George Miélés (quando virem o filme, perceberão!). “A Invenção de Hugo” é sem sombra de dúvida um dos melhores e mais belos filmes dos últimos anos. Um justo candidato a 11 Óscares e que mesmo que nada ganhe, tem a garantia de, no futuro, se assumir como um dos maiores clássicos que o cinema alguma vez nos ofereceu.

DR