Fernanda Torres (Ainda Estou Aqui) © TIFF

Ainda Estou Aqui: Como o filme com Fernanda Torres se tornou um dos filmes favoritos aos Óscares 2025?

Arrisco o prognóstico: a equipa de “Ainda Estou Aqui”, correu o mundo numa verdadeira campanha para conseguir chegar aos Óscar 2025. Não é por da cá aquela palha, que um filme falado em português consegue fazer uma carreira brilhante na corrida para as nomeações e até ter possibilidades de ganhar pelo menos um Óscar.

Primeiro foram os Golden Globes, mas a equipa de “Ainda Estou Aqui” tem estado numa verdadeira roda-viva por esse mundo desde a estreia em Veneza, numa verdadeira corrida aos Óscares 2025. Tem-lhe rendido vários carimbos no passaporte, mas também uma maratona de encontros, conversas, sessões especiais, entrevistas e junkets. A vida é dura!

Fernanda Torres a protagonista diz que o filme tem de ir buscar votos de qualquer jeito. “Ainda Estou Aqui” recebeu convites para mais de 50 festivais internacionais e a equipa teve mesmo de se desdobrar. Mas após o foco nos festivais a atenção centrou-se agora nas sessões especiais, por esse mundo fora tentando aliciar os votantes internacionais da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.

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Organizadas pelas distribuidoras internacionais estas sessões contam com muitas personalidades, como o ator Sean Penn, que mediou em Los Angeles uma conversa sobre o filme, ao passo que o realizador francês Olivier Assayas apresentou o filme em Paris. O realizador mexicano Alfonso Cuaron, vencedor de quatro estatuetas dos Óscares (“Roma” [2018] e “Gravidade” [2013]), conversou com Walter Salles e Fernanda Torres a seguir à exibição em Londres.

“Ainda Estou Aqui”: Uma poderosa campanha promocional

A campanha é organizada pelos distribuidores locais, mas com o apoio dos produtores do filme — um deles o experiente Rodrigo Teixeira, responsável por “Chama-me Pelo Meu Nome” (2017) — porque cada mercado tem a sua particularidade.

Todos os esforços se centram numa possível nomeação a Melhor Filme Internacional, embora para a Hollywood Reporter “Ainda Estou Aqui” seja até agora o terceiro filme mais cotado atrás do francês “Emilia Pérez” e de “The Seed of the Sacred Fig” do realizador iraniano Mohammad Rasoulof, curiosamente indicado pela Alemanha. Só depois de Veneza a Sony Classics tornou-se a distribuidora internacional do filme, que decerto é uma grande ajuda para a promoção do filme também nas categorias de Melhor Filme, Realização, Argumento e Atriz.

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Em 1999, “Central do Brasil” de Walter Salles, concorreu a Melhor Filme Estrangeiro e a Melhor Atriz (Fernanda Montenegro). Em 2004, “Diários de Che Guevara” ganhou na categoria de Melhor Canção Original e foi nomeado a Melhor Argumento Adaptado.

Entretanto, pode ter sorte porque a Academia de Hollywood tornou-se mais internacional e polifônica, mas a verdade é que a maioria dos votantes continuam a fazer parte da grande indústria de Hollywood, para além dos desequilíbrios regionais entre por exemplo os votantes da França e da América Latina, com vantagem para os Europeus.

O streaming pode trazer também uma nova variante pela sua enorme capacidade para promover os filmes internacionalmente — é o caso de “Emilia Pérez”, que é da Netflix — , mas ainda está por explicar o fenómeno “Parasitas”, (2020) do coreano Bong Joon Ho, que levou para casa além do prémio de Melhor Filme, também o de Melhor Filme Internacional, Realizador e Argumento.

Fernanda Torres no corpo a corpo

A filha de Fernanda Montenegro tornou-se na primeira atriz brasileira a conquistar um Golden Globe pela sua interpretação em “Ainda Estou Aqui”. O Brasil já havia concorrido no passado com Sonia Braga, Wagner Moura e com a própria Fernanda Montenegro pela sua extraordinária interpretação no drama  juvenil “Central do Brasil”, em 1999.

Fernanda Torres efetivamente tem passado uma boa parte do seu tempo em viagens e em Los Angeles, fazendo uma verdadeira a campanha ‘corpo a corpo’ que já seduziu os críticos estrangeiros, votantes dos Golden Globes e continua a sua saga para atrair o eleitorado dos Óscares, onde tanto a atriz como o filme “Ainda Estou Aqui” estão apesar de tudo muito bem cotados.

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Os Óscares ter um corpo de votantes completamente diferente dos Golden Globes — entretanto não foi nomeada para os SAG, prémios do Sindicato dos Atores. Este prémio que dedicou à sua mãe, pode ainda ser uma grande ajuda para as nomeações a 23 de janeiro, e pode ser que a consagração plena chegue na cerimónia a 2 de março.

Para a torcida brasileira já ganhou

Embora Fernanda Torres se vá rindo com a ‘torcida brasileira’ e com essa sensação de que ‘eu vou vingar a minha mãe’, ela própria também acha a que a sua nomeação é muito difícil apesar de todo o esforço e dos fortes apoios. Os media especializados são os primeiros a não lhe verem grandes chances.

A imprensa americana em geral, apesar da simpatia que a atriz granjeou, acha aliás muito improvável uma nomeação para Fernanda Torres, embora o seu nome esteja na lista das melhores interpretações do ano. No ranking da Variety a atriz está na sétima posição atrás de Angelina Jolie (“Maria”), Cynthia Erivo (“Wicked”), Karla Sofia Gascón (“Emilia Pérez”) Marianne Jean-Baptiste (“Hard Truths”) Mikey Madison (“Agora”), Nicole Kidman (“Babygirl”); a Hollywood Reporter ainda inclui nessa lista Demi Moore (“A Substância”), a vencedora do Golden Globes de Melhor Actris Musical-Comédia.

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Enquanto há Oscar há esperança para “Ainda Estou Aqui”

De qualquer modo é preciso não esmorecer pois “Ainda Estou Aqui” tem como grandes trunfos além do Prémio de Veneza, o destaque nos cinco melhores filmes da National Board of Review, um importante termómetro dos Oscar, que se vai reflectir certamente na interpretação da atriz que carrega o filme.

De qualquer modo não deixa de ser extraordinário que um filme e uma atriz se tornem numa verdadeira paixão nacional e internacional. É efectivamente um caso raro. Pode ser aliás, um bom exemplo para os filmes portugueses, pois “Ainda Estou Aqui”, tudo leva a crer que pelo menos vai conseguir ultrapassar as habituais desculpas, da barreiras da língua, numa mais que provável nomeação para o Óscar de Melhor Filme Internacional. Por cá com os filmes portugueses, continuamos a marcar passo.

Já tiveste a oportunidade de ver “Ainda Estou Aqui”? O filme estreia hoje em alguns cinemas portugueses e é uma das obras a não perder esta semana.



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