And Just Like That, primeira temporada em análise
“O Sexo e a Cidade” abriu um novo capítulo, 11 anos depois chega-nos “And Just Like That”, será um livro que queremos continuar a ler por mais capítulos? Guardaremos com carinho ao lado da série original? As opiniões dividem-se, o choque e a controvérsia afastam audiência. Basicamente “And Just Like That” continua a ser “O Sexo e a Cidade”.
“And Just Like That”, a 1ª temporada do regresso de uma das mais icónicas séries da televisão chega ao fim. Haverá continuação? Queremos que haja? O que correu bem e o que correu mal?
Estreada a 9 de Dezembro de 2021 na HBO Max, a nível nacional na HBO Portugal, a 1ª temporada terminou a 3 de Fevereiro de 2022, após 10 episódios, em média com 30 minutos de duração. A série de comédia dramática foi desenvolvida por Michael Patrick King e surgiu como um revival da série de televisão da HBO, “O Sexo e a Cidade”. Criada por Darren Star, a série original baseou-se na coluna de jornal de Candace Bushnell e na antologia de livros de 1996 com o mesmo nome.
Situada 11 anos após os eventos do filme “Sex and the City 2”, de 2010, a série é protagonizada por Sarah Jessica Parker, Cynthia Nixon, Kristin Davis, Mario Cantone, David Eigenberg, Willie Garson, Evan Handler e Chris Noth, com o regresso a todos os papéis da série original, e ainda contamos com Sara Ramirez, Nicole Ari Parker, Karen Pittman e Sarita Choudhury como novos personagens.
Como não podia deixar de ser, e que desde a sua génese faz parte da essência de “O Sexo e a Cidade”, o revival trouxe controvérsia. As opiniões dividem-se pelos mais diversos espectros, desde a mais comum de que “ficou aquém da série original”, a também muito ouvida de ser “uma atualização dos tempos, com novas dinâmicas, mas com as mesmas personagens que continuamos a amar”, e a rara, mas não inexistente, de que “a mudança de foco do sexo para problemas mais do dia-a-dia preencheu a série com uma nova importância, superior à do original”.
No final, e independentemente da opinião, “And Just Like That” foi anunciada como tendo a estreia da série mais assistida do serviço até o momento, incluindo os originais da HBO e HBO Max estreados nas plataformas. O revival foi “primeira visualização” mais assistida na história do serviço, o que implica que novos assinantes se alistaram de propósito para assistir à série. Nas conhecidas palavras de Henry B. King, “Falem bem ou falem mal, mas falem de mim!”. À partida era impossível agradar a todos e a produção estava sempre em risco de cair nos perigos de repetição, demasiado conforto ou dissolução das bases da série.

É inegável que os primeiros episódios da temporada tiveram impacto e puseram o mundo inteiro a falar do regresso de Carrie, Miranda e Charlotte. O momento bombástico logo no final do primeiro episódio criou tumultos com muitos a afirmarem que iam desistir de imediato da série. No entanto, a maioria manteve-se até ao final da temporada, e muitos mesmo referindo que não a adoraram, confessam que havendo 2ª temporada continuarão a assistir. Pode ter custado, mas sem aquele primeiro grande acontecimento a série provavelmente não teria pernas para andar.
Apesar de chamar à atenção para o revival, os primeiros episódios foram importantes para criar um abanão que também permitiu a formação de novas dinâmicas e enredos para o resto da temporada. É verdade que a narrativa sofreu um desvio mais para o dramático e pesado – que se tivesse sido mantido ao longo de toda a história teria sido uma completa perda e perversão da essência do original, mas tal não aconteceu pois rapidamente se voltou ao equilíbrio de temas leves e sérios com humor à mistura. No panorama geral, “And Just Like That” continua a ser “O Sexo e a Cidade”, e alma da amada série mantém-se numa forma amadurecida. Carrie, Miranda e Charlotte continuam as mesmas e parece que desde 2010 só passou uma semana desde a última vez que as vimos.

E passando já ao “elefante da sala”, a série funciona ou não sem a Samantha (Kim Cattrall)? Acho que nunca deixará de fazer falta, mas muitas das escolhas para abordar o tema foram acertadas. Não se tentou substituí-la, o que seria um suicídio de forçar algo e uma tarefa impossível de fazer; aproveitou-se para espelhar a realidade do afastamento de grandes amizades, e como a vida segue na mesma; e por fim, algum do espaço reservado para Samantha começou a ser preenchido naturalmente por novas personagens, nomeadamente por Seema de Sarita Choudhury. Quanto à Samantha digital, foi algo que funcionou bem nas primeiras vezes, trouxe uma nostalgia e um preenchimento de que apesar de tudo a personagem continuava a existir e a fazer parte da vida da série, mesmo que de forma mínima. Porém, é uma ferramenta que me parece que já estendeu o seu prazo de validade e começa a ser abusada sem trazer benefícios, de momento dá apenas a impressão de se querer manter uma porta aberta – para o regresso de Cattrall, o que muito provavelmente nunca acontecerá.
Seema Patel, Nya Wallace e Lisa Todd Wexley foram umas das principais novas personagens introduzidas e cada uma à sua maneira trouxe um enriquecimento para a história. Para começar são uma forma de realçar o poder da amizade feminina e onde vemos novas relações a serem criadas e a florescerem diante de nós, fora do trio central. O preencher de Seema como o braço direito de Carrie, o tema da maternidade discutido entre Miranda e Nya e a exploração de um racismo estrutural, espelhado principalmente no jantar de Charlotte com Lisa, são alguns dos exemplos que se destacam como pontos positivos desta temporada.

Chez Diaz, ou o que os mais conservadores designam como “demasiado woke”. “O Sexo e a Cidade” era sobre quatro mulheres solteiras a tentar descobrir quem eram e o que queriam, num lugar onde todos os sonhos são possíveis. Só que a vida andou em frente e a cidade mudou. 10 episódios sobre a vida conjugal e séries no sofá de roupão não seria apelativo para ninguém. E por isso “And Just Like That” optou por seguir com coragem em frente e abordar os temas com que a sociedade se debate atualmente.
Apesar de todo o ódio por Chez, há que aplaudir o trabalho de Sara Ramirez por dar vida à personagem mais irreverente e completa do revival. A série precisava de Chez, o arco de Miranda precisa de Chez e claramente que o público precisa de Chez. Se “O Sexo e a Cidade” não é sobre a abertura para falar de sexualidade e de identidade de género então não é sobre nada. A apresentação e a exposição em panorama real dos paradigmas dos sistemas binários e da exclusão de pessoas não binárias, a identificação em crianças com rótulos que nos são impingidos (observado com a filha de Charlotte, Rose/Rock) ou as relações fora da monogamia são temas de debate “quentes”, onde só se ganha ao serem abordados em séries deste género.

Então funcionou tudo, a série é perfeita e as criticas negativas são infundadas? Não. Apesar dos temas relevantes e da introdução de personagens interessantes algo que manchou a narrativa na generalidade foi o ritmo da história e o tempo dedicado aos vários assuntos. No final percebemos que toda a temporada decorreu no espaço de um ano, mas ao longo dos episódios houve muitas ocasiões em que não havia uma perceção do tempo passado e a ação real foi transmitida de forma instável.
Talvez devido a este compasso inseguro tenha sido descartado um tema tão importante como o alcoolismo de Miranda. Houve o construir de uma trama que depois ficou resolvida em poucos minutos, desvalorizando um marcante problema da nossa sociedade.
A problemática no fluxo narrativo encontrou um foco em Miranda onde para além do alcoolismo, outro assunto que não ficou esclarecido, nem foi aprofundado dignamente, foi a vida amorosa desta personagem. E não foi só o apressar da relação entre Miranda e Chez – penso que ficámos todos à espera de um desenvolvimento mais impactante quando Miranda apanhou o avião para se declarar a Chez, momento que nem nunca chegou a acontecer no ecrã – mas o término com Steve foi no mínimo degradante para ele. A conversa entre Carrie e Steve dá-nos um pequeno olhar ao ponto de vista da outra metade da relação, mas não é o suficiente para pôr um ponto final numa relação que teve tantos altos e baixos.
Cada episódio parecia separado pelo enredo do momento, não havendo uma ligação coesa ao longo da temporada que permitisse uma resolução final e satisfatória dos diferentes eventos.

“And Just Like That” não é o “O Sexo e a Cidade” e nem o deveria, ou alguma vez conseguiria ser, mas é uma digna continuação de uma história que marcou e continua a marcar gerações. Enquanto esperamos a confirmação da renovação para uma 2ª temporada – a HBO parece estar pronta a dar luz verde e tudo está nas mãos do elenco principal e da equipa de produção – “And Just Like That… The Documentary” é uma excelente sugestão para bebermos mais um cocktail com as amigas que não víamos há tanto tempo.
TRAILER | O COMEÇO DE UM NOVO CAPÍTILO…
A favor ou contra uma 2ª temporada?
And Just Like That, primeira temporada em análise

Name: And Just Like That
Description: 11 anos após a última vez que as vimos, este novo capítulo de “Sexo e a Cidade” segue Carrie, Miranda e Charlotte na sua jornada da complicada realidade da vida e da amizade na faixa dos 30 anos para a ainda mais complicada realidade da vida e da amizade na faixa dos 50 anos.
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Emanuel Candeias - 70
CONCLUSÃO
“And Just Like That” não é o “O Sexo e a Cidade” e nem o deveria, ou alguma vez conseguiria ser, mas é uma digna continuação de uma história que marcou e continua a marcar gerações.
Pros
- Carrie, Miranda e Charlotte tal como as conhecemos, apenas mais maduras
- Mr Big…
- Novas personagens: Nicole Ari Parker, Sara Ramirez, Karen Pittman e Sarita Choudhury
- Chez Diaz e todas as temáticas frescas e relevantes
Cons
- Falta de uma clara linha condutora e uma ligação entre os episódios ao longo da temporada
- Ritmo da narrativa instável
- Tempo dedicado a muitos enredos foi insuficiente
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