Aniki-Bóbó regressa aos cinemas nacionais após 83 anos
Um dos mais conhecidos filmes portugueses de sempre – quiçá, o mais apreciado pelo público em geral – está de regresso às salas de cinema. Depois de ter estreado uma nova versão restaurada em 4K nos Festivais de Cinema de Veneza e de Toronto, “Aniki-Bóbó” (1942, Manoel de Oliveira) chega, finalmente, a Portugal.
O grande clássico de Manoel de Oliveira, filmado no seu Porto, é uma história protagonizada por um grupo de crianças onde vemos as suas traquinices.
Qual a narrativa de Aniki-Bóbó?

“Aniki-Bóbó” foi a primeira longa-metragem realizada pelo mestre Manoel de Oliveira, depois de ter realizado várias curtas-metragens das quais se destacou “Douro, Faina Fluvial” (1931). Depois disto, Manoel de Oliveira só voltaria a ter uma nova longa-metragem 21 anos depois com “Acto da Primavera” (1963). Mal saberia ele que ainda iria filmar mais 5 décadas, apesar de já estar com 55 anos em 1963.
Esta primeira longa-metragem do realizador é também a mais conhecida do grande público e que praticamente todos os portugueses já viram, algo que, depois, não acontece com a maioria da sua obra, infelizmente.
“Aniki-Bóbó” é uma história simples contada a partida do ponto de vista de crianças do Porto. Vemo-las na escola mas também nas suas brincadeiras. Carlitos e Eduardinho são os dois principais rapazes do grupo e lutam pelo amor de Teresinha, a única rapariga do grupo. Um é tímido, enquanto o outro é um líder feroz. No entanto, tudo se altera quando Carlitos rouba uma boneca para oferecer a Teresinha em troca do seu amor. A tensão aumenta e o grupo começa a virar-se contra Carlitos.
A longa-metragem de Manoel de Oliveira lançou uma célebre discussão sobre se este é ou não um filme neo-realista. Alguns autores concordam que tem algumas características, enquanto outros não o veem como tal. Certo é que, para ser neo-realista, foi-o antes do tempo. A verdade é que a história com crianças de rua, pobres e em exteriores naturais já trazem algumas características de neo-realismo. O grande senão no meio disto é também “Aniki-Bóbó” ter sido produzido por António Lopes Ribeiro, o eterno realizador do regime do Estado Novo. Isto sem esquecer, claro, que António Lopes Ribeiro foi um dos maiores conhecedores do cinema mundial, incluindo o proibidíssimo cinema soviético.
Quando podes ver o filme?
Depois de algumas passagens por festivais de cinema como Veneza, Toronto ou San Sebastián, “Aniki-Bóbó” vai ser reposto nos cinemas portugueses já no próximo dia 18 de dezembro, com a distribuição da Nitrato Filmes que este ano nos trouxe filmes como “O Agente Secreto” (2025, Kleber Mendonça Filho) ou “Sirât” (2025, Oliver Laxe). Poderá “Aniki-Bóbó” ser o grande filme português deste Natal?
Se nunca viste este clássico do nosso cinema, aproveita agora esta oportunidade única para o veres em sala de cinema numa cópia restaurada em 4K pela Cinemateca Portuguesa no âmbito do projeto FILMar. Este projeto da Cinemateca digitalizou 267 títulos com uma relação com o mar, entre curtas e longas-metragens em formato digital 4K, correspondendo a mais de 10.000 horas de material que puderam ser redescobertos pelo público.
O filme regressa aos cinemas precisamente no dia em que se comemoram 83 anos sobre a sua estreia, já que estreou a 18 de dezembro de 1942 no Cinema Éden em Lisboa. Assim, não percas o regresso deste grande filme e (re)vê-o no grande ecrã!
Por fim, de referir que a encabeçar o elenco de “Aniki-Bóbó” estão Nascimento Fernandes (como lojista) e Vital dos Santos (professor). Do lado das crianças, temos Fernanda Matos (Teresinha), Horácio Silva (Carlitos), António Santos (Eduardinho), António Morais Soares (Pistarim), Feliciano David (Pompa), Manuel Sousa (o “Filósofo”), António Pereira (o “Batatinhas”), Américo Botelho (o “Estrelas”) e Rafael Mota (Rafael).

