Bandas Sonoras | Os cinco nomeados ao Óscares 2015 em análise. Justo vencedor?

 

Em Fevereiro de 2015, mais precisamente na madrugada de 22 para 23 em Portugal, ficaram a conhecer-se os vencedores da 87ª Cerimónia dos Prémios da Academia. Analisando os nomeados para Melhor Banda Sonora Original, chegamos à grande questão – terá sido justo o Óscar para The Grand Budapest Hotel?

Para aqueles que estiveram atentos às Estreias que antecederam os Óscares 2015, não deve ter sido uma grande surpresa no que diz respeito à Categoria de Melhor Banda Sonora Original.

Entre os nomeados, Alexandre Desplat parecia ter vantagem, uma vez que estava nomeado com The Grand Budapest Hotel e The Imitation Game. Hans Zimmer, nomeado com Interstellar, já tinha um Óscar (The Lion King), enquanto Jóhann Jóhannsson (The Theory of Everything) e Gary Gershon (Mr. Turner) foram ambos nomeados pela primeira vez.

Melhor Banda Sonora Original

  • Gary Yershon, Mr. Turner
  • Hans Zimmer, Interstellar
  • Jóhann Jóhannsson, The Theory of Everything
  • Alexandre Desplat, The Grand Budapest Hotel (vencedor)
  • Alexandre Desplat, The Imitation Game

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Grand Budapest Hotel (7)

Alexandre Desplat, compositor francês conhecido pelo seu trabalho em filmes como The King’s Speech (2010), Argo (2012) e The Curious Case of Benjamin Button (2008), já tinha sido nomeado anteriormente seis vezes, sem nunca ter levado a estatueta dourada para casa.

O compositor acabaria por levar o Óscar de Melhor Banda Sonora Original para casa, com o seu trabalho em The Grand Budapest Hotel. No filme é visível o respeito de Wes Anderson pela música no cinema, desencadeando em Desplat o seu lado mais estranho e criativo, comparado com trabalhos anteriores e, claro, dentro da estética que Anderson tanto já nos habitou. A diferença em The Grand Budapest, são os temas com clareza, garantindo uma maior coerência dentro da própria banda sonora. E, enquanto em Fantastic Mr. Fox e Moonrise Kingdom, sentimos como se a banda sonora fossem exercícios de diferentes texturas agradáveis ao ouvido, Grand Budapest leva-nos numa viagem nostálgica e melancólica, capturando toda a história do filme.

O filme pode revelar-se demasiado “leve” para os que estão habituados ao seu trabalho mais sério, mas é inegável que é uma das suas bandas sonoras mais cheias de personalidade, estranhas e surpreendentemente tocantes em igual medida. Ainda mais notável, é que cada tema é imediatamente reconhecível como um tema de Desplat, mostrando a distinção do compositor no mundo das bandas sonoras cinematográficas. Nesse sentido, não há como negar que Desplat capturou as qualidades do filmes em si (podendo ser um indicador da sua relação com Wes Anderson).

Não há dúvidas que Alexandre Desplat é um dos grandes compositores de cinema da era moderna, mas terão nomes como Hans Zimmer e Jóhann Johannsson ter sido justamente deixados para trás?

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  • Título Original: The Grand Budapest Hotel
  • Realização: Wes Anderson
  • Banda Sonora: Alexandre Desplat
  • Ano: 2014

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imitationgame

Em The Imitation Game, é a fusão do lado intelectual e emocional de Desplat que realmente impressiona – o compositor reflecte a habilidade analítica de Turing (Benedict Cumberbatch) e a sua importância como um dos grandes heróis da guerra. Os temas vão construindo um retrato de um indivíduo multi-facetado, enquanto procuram pronunciar a eventual tragédia da história.

Há uma nítida sensação de que Desplat tem que saber o carácter de Turing intimamente – conhecimento que o permitiu retratar os sentimentos de tristezas que pontuam a banda sonora, lado a lado com momentos mais brilhantes com compaixão genuína, compensando com os que são de texturas mais escuras e complexas, remetendo, assim, para o ambiente da própria Segunda Guerra Mundial.

A banda sonora é consistente, envolvente e estimulante, características marcantes de Alexandre Desplat.

 

  • Título Original: The Imitation Game
  • Realização: Morten Tyldum
  • Banda Sonora: Alexandre Desplat
  • Ano: 2014

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mr turner

O compositor Gary Yershon é pouco conhecido no mundo cinematográfico, recebendo a nomeação pelo seu trabalho em Mr. Turner.  A banda sonora é de pequena escala e agradável ao acompanhamento dos planos, focando principalmente a relação das cores com a sonoridade das cordas, com saxofones, clarinetes, flautas e harpas.

Em termos de composição, a pontuação é incomum, havendo contrastes mais escuros, sem foco, como se fossem ecos de si mesmo. Yershon, num nível mais intelectual, tentou captar o que o próprio Turner (Timothy Spall) captou na arte – ao olharmos para as obras de JMW Turner, muitas delas têm um sentimento “deslavado”, como se estivéssemos a olhar para o mundo através de uma janela coberta por água.

Poderá afirmar-se que a sonoridade de Mr. Turner tráz um sentimento indistinto e, se essa era a intenção de Gershon, então terá conseguido capturar o efeito.

  • Título Original: Mr. Turner
  • Realização: Mike Leigh
  • Banda Sonora: Gary Yershon
  • Ano: 2014

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The Theory of Everything

O trabalho de Johann Johannsson em The Theory of Everything captura a maravilha e a dor do (notável) casamento entre Stephen Hawking (Eddie Redmayne) e a sua mulher Jane (Felicity Jones).

A capacidade de Johannsson de fundir sons mais clássicos com outros mais eletrónicos, garantiu-lhe a nomeação ao Óscar. De destacar a sua notável subtileza, a música do compositor caminha de forma brilhante entre o drama, permitindo que a narrativa possa falar por si – a melodia não deixa de ser um tanto contida, mas igualmente dolorosa e melancólica.

Pode afirmar-se que Johann chega a empurrar a banda sonora para uma linha de melodrama exagerado, mas no fundo necessário, de forma a pontuar as emoções do filme de forma envolvente para o espectador, num sentido crescente ao longo da narrativa, permitindo o destaque às atuações dos atores.

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Este filme poderá ser a catapulta de arranque para Johann Johannsson, para a linha da frente de compositores de cinema.

  • Título Original: The Theory of Everything
  • Realização: James Marsh
  • Banda Sonora: Johann Johannsson
  • Ano: 2014

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interstellar

A relação profissional entre Hans Zimmer e o realizador Christopher Nolan tem, na melhor das hipóteses, produzido resultados mistos no passado – com bandas sonoras como a de Batman falhando no resultado de um super-herói icónico, com uma identidade musical memorável, e Inception atingindo reconhecimento apenas em alguns lugares.

Felizmente, a banda sonora de Interstellar é, de longe, o melhor trabalho que o compositor já fez com o realizador. Tal como o filme de Nolan alcança as estrelas, o mesmo acontece com a banda sonora de Zimmer, com níveis dramáticos de sonoridades, lembrando-nos constantemente que esta é, em última instância, uma história sobre o amor, transcendendo o tempo e o espaço.

A sonoridade de Interstellar tem apontamentos de órgãos, que acabam por levar-nos a pensar num ambiente de igreja (talvez fosse isso mesmo que Nolan e Zimmer tinham em mente). Acaba por trazer ao espectador um sentimento de “casa”, de segurança, na imensidão do espaço, quase em comparação com a vida e a morte.

Embora a banda sonora, em alguns momentos do filme, esteja em volume elevado (abafando até alguns diálogos), se olharmos para as músicas como um todo, é mais fácil apreciar a forma como Zimmer acaba por fundir o seu lado inovador, com o seu talento para uma beleza crescente.

E todos sabemos que as bandas sonoras são escritas para os filmes, e talvez seja necessário vermos os filmes para apreciarmos verdadeiramente a banda sonora. Mas será que a música não deveria valer por si, mesmo fora do seu contexto? – Sem imagens, apenas com os seus próprios pensamentos, sentimentos e imaginação?

Talvez seja uma das pequenas falhas de Zimmer em Interstellar – temos a sensação de que o que estamos a ouvir está ligado a alguma coisa. Mas no fundo estará sempre, e talvez seja esse o modo do compositor contar a sua história, voltando-nos constantemente para o que os dois (realizador e compositor) em conjunto, nos dão.

 

  • Título Original: Interstellar
  • Realização: Christopher Nolan
  • Banda Sonora: Hans Zimmer
  • Ano: 2014

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No final, não sabemos se conseguimos responder à questão posta no início – foi realmente justo o Óscar de 2015? A verdade é que talvez não seja essa a questão, mas sim ter em conta que, no mesmo patamar da obra de Desplat, a estatueta dourada poderia facilmente (e melhor, justamente) ter ido para a obra de Zimmer com a sua complexidade de génio, como para Johannsson, com os seus tons clássicos e melancólicos.

 

One thought on “Bandas Sonoras | Os cinco nomeados ao Óscares 2015 em análise. Justo vencedor?

  • Para mim, o vencedor deveria ter sido o Zimmer, sem sombra de dúvida.

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