Berlinale 67 (Dia 3): ‘Wilde Maus’ é um dos nossos!

‘Wilde Maus’, a estreia atrás das câmeras do actor austríaco Josef Hader, criou empatia com a imprensa que cobre o festival.

Wilde Maus
Georg (Josef Hader), chega aos limites.

O actor Josef Hader — vimo-lo recentemente como protagonista de Stefan Zweig: Adeus à Europa — aparece de surpresa como realizador e representante da Áustria nesta Berlinale 67. Wilde Maus foi escrito pelo próprio Hader, e ele é ainda o excelente protagonista desta tragicomédia jornalística, que tem muito de realista nos tempos que correm. O filme funcionou aqui mais ou menos como o efeito Toni Erdmann em Cannes, o ano passado. A crítica presente na Berlinale acabou por se rever, nesta caricata personagem de Georg (Josef Hader).

Vê trailer de: Wilde Maus 

Pois, esta história é uma situação que muita gente teme entre a imprensa especializada, que vai acompanhando o festival: um reconhecido crítico de música erudita, já na casa do 50, é despedido do seu emprego estável num diário vienense, porque as suas colunas já não são rentáveis. É substituído por uma colega mais nova vinda da música pop e que ganha três vezes menos. Além de esconder o seu despedimento da sua jovem esposa (Pia Hierzegger), que quer ter um filho. Georg para sobreviver vai ajudar um velho amigo da escola (Georg Friedrich) e a sua namorada romena, na reabertura de uma velha montanha russa no parque de diversões. Em poucos dias a vida de Georg fica de pernas para o ar.

Wilde Maus
Um homem de mala aviada.

Numa Viena onde os media em geral falam diariamente do drama dos refugiados e do terrorismo jihadista, e de outras questões que afectam actualmente a Europa, o jornalista escusa-se a explicar o seu revés à sua mulher psicóloga, e acaba por destroçar a sua vida procurando antes vingar-se do chefe que o despediu.

Hader vai recheando a sua história com episódios e personagens dessa Europa muito bem-intencionada — mas cínica ao mesmo tempo — que parece saber conviver melhor com os grandes dramas e tragédias colectivas que fazem notícia, do que com os dilemas menores do dia a dia dos seus cidadãos. Milhares de europeus, perto dos cinquenta anos, altamente qualificados em várias áreas, foram atirados para o desemprego, substituídos por mão-de-obra jovem mais barata, apenas porque são velhos demais para continuarem a trabalhar e novos para a reforma. E muitas dessas pessoas em desemprego de longa duração, acabam por várias razões ver a vida a andar para trás, entrando em desespero ou depressão. Ninguém fala disto e esta questão aparece pela primeira vez tratada em Wilde Maus.

O factor empatia com o personagem funciona em Wilde Maus, mais até do que o desenlace ou a expectativa de que o filme venha resolver o incógnito futuro do protagonista, isto é se terá êxito na sua vingança ou servirá de alguma coisa o seu revanchismo.

Wilde Maus
A vingança ou dar a volta á vida.

Wilde Maus é uma tragicomédia que se enche do ego e gira à volta deste herói burguês e erudito, mas sobretudo trata-se de um filme que aborda os muitos problemas de comunicação entre as pessoas na sociedade contemporânea. Passa-os para nós para que nos interrogue-mo e fiquemos presos até ao incerto final. Um filme que decerto vai agradar muito aos espectadores.

JVM em Berlim

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