Cinema Europeu? Sim, Por Favor | Blind

Tal como o bom cinema norueguês nos tem acostumado, Blind (2014) é um harmonioso exercício estético com uma narrativa simultaneamente simples e intrincada.

Conhecido pelos rebuscados argumentos de Reprise, Oslo, 31. August e Louder Than Bombs, o realizador e argumentista Eskil Vogt introduz o espectador a Ingrid (Ellen Dorrit Petersen), uma mulher cega que devido a uma doença degenerativa luta contra a solidão num novo apartamento que não conhece, enquanto o marido Morten (Henrik Rafaelsen) trabalha ao longo do dia, permitindo-lhe várias horas de isolamento extremo.

Seguindo-se pela criatividade e todas as suas astúcias, Ingrid, desesperando por alusões visuais que lhe façam sentido e a remetam de volta à vida palpável e a cores, passa a maior parte do seu tempo a usar a imaginação como refúgio, inventando cenários na sua mente que lhe confiram o mínimo entusiasmo. Acreditando que não lhe importa o que é real, desde que o consiga visualizar, Ingrid apresenta-nos duas outras personagens que consigo partilham a soledade: uma mulher separada e pouco confiante e um voyeur viciado em pornografia.

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À medida que a história evolui, as novas personagens vão-se encaixando na vida de Ingrid e consequentemente na narrativa principal, criando uma perfeita analogia para o perigo da conceção literária e a sua fusão com a vida real. Com o desenvolvimento destas figuras imperfeitas, acaba por encaixá-las no seu dia-a-dia, deixando que se imiscuam nas suas fantasias acerca da ausência física e mental que acredita apoderar-se do seu marido – o seu refúgio ausente. É então que damos conta do grito que Ingrid representa, imersa numa existência que pouco lhe pode oferecer, onde desespera por companhia, por ser vista e saber que o é.

Visualmente cru e imaculado, Blind opta por uma paleta de cores muito sóbria e nítida, onde o cenário e os planos são pensados ao detalhe e a simbologia está permanentemente viva – apontemos, por exemplo, para a mudança de objetos, espaços e géneros ao longo da mesma cena, oriundos da evolução do pensamento e progresso da escrita de Ingrid.

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Chegando ao fim, Blind fica-nos como uma doce imagem difícil de assimilar. Sofremos a dor de não controlar o meio em que nos inserimos e reconhecemos a loucura que deles surge, ao mesmo tempo que somos totalmente afastados da coerência narrativa e da linha que separa o real da fantasia, questionando as regras que regem aquilo que vemos.

 

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