Koi to Uso, em análise | Primeiras Impressões

O universo anime orgulha-se de ter algumas das mais belas séries de romance de sempre. Infelizmente Koi to Uso não fará parte delas.

Não existe um único género que não seja difícil de concretizar. Quer estejamos perante os géneros ação ou drama, comédia ou horror, a verdade é que cada um tem as suas particularidades, desafios, dificuldades.  Desta vez iremos falar sobre o género romance. O que é que torna um filme ou uma série deste género numa boa obra?

Na passada temporada de primavera tivemos o privilégio de ver uma das melhores séries anime de romance lançadas nos últimos anos. Tsuki ga Kirei explora a experiência do primeiro amor na perspectiva de dois jovens do ensino básico. Quem vê a série pode achar que esta ideia não é complicada de desenvolver, e que por isso a série não fez nada de especial. Mas é aí que se enganam. O que acontece é que Tsuki ga Kirei aborda esta temática de uma forma tão brilhante e tão bem estruturada que dá-nos a sensação de que é fácil fazê-lo. Constatamos este facto facilmente quando em seguida vemos outra série de romance que se espalha ao comprido logo no primeiro episódio.

Koi to Uso

 


Vê também: Kakegurui, primeiras impressões


Falamos de uma das novas séries anime da temporada de Verão, Koi to Uso (Love and Lies) do estúdio LIDENFILMS. A ideia inicial da série é muito interessante. O Japão foi afetado por uma queda na taxa de natalidade. Portanto, o governo japonês decide impor um sistema de casamentos arranjados. Quando um jovem japonês faz 16 anos, ele recebe uma notificação do governo indicando com quem ele se irá casar. Qualquer relação amorosa entre pessoas que não foram escolhidas pelo governo para se casarem é estritamente proibida. Surpreendentemente, esta medida consegue estabilizar a população japonesa. Contudo, nem todos são a favor desta lei.

É o caso do nosso protagonista, Nejima Yukari, e do seu interesse amoroso, Takasaki Misaki. Yukari é apaixonado por Misaki desde criança. Mas nunca conseguiu confessar os seus sentimentos. Na véspera de receber a sua notificação do governo, Yukari decide que este é o momento para expressar o que sente a Misaki. Para sua grande surpresa, o sentimento é mútuo. Até aqui, não existe nenhum problema com o romance dos personagens. Na verdade, esta ideia de amor proibido, à Romeu e Julieta, é algo muito explorado no género e costuma ser eficaz na criação de drama e emoção. O problema é quando ganhamos um contexto mais amplo desta relação.


Lê mais: Made in Abyss, primeiras impressões


Koi to Uso

Viajando num flashback pelas memórias de Nejima Yukari, somos conduzidos ao dia em que o protagonista interagiu pela primeira vez com Misaki. Este acontecimento teve lugar há cerca 4 ou 5 anos, quando ambos ainda estudavam na escola primária. Durante uma aula, Yukari apercebe-se que a sua colega não tem uma borracha. Com uma grande hesitação e várias aulas depois, o protagonista ganha coragem para dividir a sua borracha ao meio e oferecer uma metade a Misaki. A jovem agradece-lhe com um sorriso e é neste momento que Yukari fica completa e absolutamente apaixonado por ela. É claro que estamos a falar de crianças. E esta situação não é totalmente impossível ou irreal.


Não percas: Os Estúdios de Anime | Um olhar pela indústria de animação japonesa


Regressando ao presente, percebemos que esta foi a única interação que os personagens tiveram durante todos os anos que entretanto passaram. Pelo menos até ao momento que Yukari aborda Misaki no corredor da escola e que antecede a confissão do jovem. Desde o dia em que o protagonista partilhou a sua borracha, nunca mais falou com Misaki.

Surge então o maior problema de Koi to Uso. Parte da dificuldade em explorar o género romance é fazer o espectador acreditar no sentimento que duas ou mais personagens sentem umas pelas outras. Se a história não convencer o espectador ou não o deixar a torcer pela felicidade dos personagens, acaba por ser tudo em vão. Para que isso aconteça, têm de existir motivos que levem a que o personagem A se interesse pelo personagem B. E se estivermos a falar de um sentimento tão duradouro, que seja capaz de existir durante vários anos, convém que o motivo seja minimamente forte e intenso. Uma simples troca de borrachas e um “obrigado” são motivos quase jocosos. Yukari não sabe nada sobre Misaki. E vice-versa. Como é que é suposto acreditarmos em qualquer sentimento que os personagens partilhem?

Koi to Uso

Isto leva-nos a relembrar novamente a série Tsuki ga Kirei. Porque Koi to Uso é exatamente o oposto desta, e no pior sentido. A primeira série dá tempo para que a história evolua naturalmente. Permite que os personagens possam crescer à medida que ultrapassam as diversas fases de uma relação. Koi to Uso tenta estabelecer a ideia de amor verdadeiro entre dois jovens baseando-se numa única interação que os personagens tiveram há anos. E assim que confessam os seus sentimentos e partilham o primeiro beijo, já fazem juras de amor eterno ou têm falas excessivamente melodramáticas como “Sinto que poderia viver 70 anos apenas com a força da lembrança desta meia hora.

O único aspecto que se torna numa mais valia para a série é a ideia dos casamentos arranjados. O conceito, embora possa parecer ridículo, é intrigante. E possivelmente será explorado em mais personagens para além do protagonista. Mas no que toca ao género romance, a série falha redondamente. Tudo acontece de uma forma demasiado forçada e conveniente.

Trailer | Koi to Uso

 

 

Koi to Uso - Primeiras Impressões
koi to uso

Name: Koi to Uso (Love and Lies)

Description: As mentiras são proibidas e o amor é duplamente proibido. Num futuro próximo, quando os jovens no Japão fazem dezasseis anos, o governo atribui-lhes um parceiro com quem eles se deverão casar. As pessoas não precisam de passar pelo problema de procurar alguém, e todos aceitam que seja o governo a encontrar um parceiro compatível para os fazer felizes. Nejima Yukari tem quinze anos e fará brevemente os dezasseis. Secretamente, ele nutre uma grande paixão pela sua colega Misaki. O que irá acontecer quando ele receber o aviso do governo com o nome da pessoa com quem ele se deve casar?

  • Filipa Machado - 50
50

CONCLUSÃO

O MELHOR: A ideia de um sistema governamental que decide com quem os cidadãos se casam. Pode possibilitar uma abordagem das consequências sociológicas do sistema.

O PIOR: Romance forçado e sem qualquer fundamento entre os protagonistas.

Sending
User Review
2.33 (9 votes)
Comments Rating ( reviews)

3 Comments

  1. Rodolfo Emiliano 20 de Julho de 2017
  2. Filipa Machado 21 de Julho de 2017
  3. Adrian Ferrari 5 de Agosto de 2017

Leave a Reply

Sending