O Último Retrato

O Último Retrato, em análise

“O Último Retrato” acompanha a amizade entre o artista Alberto Giacometti e o escritor James Lord, unidos por uma obra de arte. Explora a complexidade do processo criativo e a constante insatisfação de Giacometti na busca pela perfeição.

Com “O Último Retrato” viajamos até Paris, em 1964, pelos olhos de James Lord (Armie Hammer). Numa rápida visita à cidade, é desafiado a posar para o seu amigo Alberto Giacometti e, aquilo que inicialmente seria uma aventura de uma tarde, acaba por se tornar numa experiência que parece interminável.

O guião deste filme foi escrito tendo como base o livro “Um Retrato de Giacometti”, escrito precisamente por James Lord, onde o mesmo escreve o intenso período em que foi pintado pelo artista. Assim, encaixa na “gaveta” das biografias mas, mais do que uma biografia de Giacometti e mais do que um retrato da amizade entre ambos, este filme acompanha todo o processo criativo na construção de uma obra de arte e a complexa relação do artista com o seu trabalho.

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Giacometti era obcecado pela forma humana e estava constantemente insatisfeito com as suas obras. Assim, a promessa do trabalho de uma tarde facilmente se dissipou, uma vez que o artista estava sempre a “apagar” o que tinha feito até então (passando um pincel com tinta cinzenta e recomeçando novamente a rabiscar os traços do rosto de Lord).

Várias vezes, ao longo do filme, no meio de um praguejar tão frequente que se chega a tornar cómico, Giacometti toca nas suas esculturas, como se se cruzasse com elas por acaso e parasse para as observar e, sem proferir nenhuma palavra, o espectador apercebe-se da sua desilusão. Numa das vezes em que Lord aparece para continuar a posar, o pintor estava a fazer uma escultura e decide largá-la para irem, antes de começarem a sua já habitual sessão, beber um copo de vinho. Depois de secar as mãos, volta atrás para retocar o seu trabalho, claramente também insatisfeito com o que tinha feito e, num rasgo de criatividade frustrada, decide que afinal quer continuar o retrato. Esta intempestividade é facilmente tolerada por James, sempre passivo e pacato, e retrata muito bem o debate interior com que o pintor se depara ininterruptamente, debate esse com que outros artistas certamente também lidam.

O Último Retrato

O toque de comédia, traços do realizador Stanley Tucci, ajuda a dar leveza ao filme. A rotina em que o processo da criação deste retrato se transforma torna-se engraçada e é muito bem conseguida especialmente numa das cenas finais, com planos rápidos de diferentes dias, acompanhados por uma música mais ritmada do que no resto do filme, em que Ford já está exausto e se esconde do pintor e este acaba por encontrá-lo e arrastá-lo de volta para o seu estúdio.

O ambiente frio é quase uma constante neste filme, criado através da pouca saturação das imagens, e encaixa perfeitamente na visão do pintor, que recorria muito pouco à cor. Por vezes, este ambiente é quase poeticamente interrompido por elementos específicos: o casaco da sua mulher Anette e pela Caroline (seja pela sua maquilhagem, cabelo ou pelos locais onde ela se encontra, aliados à sua personalidade efervescente e extrovertida), uma prostituta com a qual o pintor se envolveu durante largos anos e da qual pintou cerca de 30 retratos. Estas opções do realizador ajudam a compreender as diferenças entre as personagens e o seu significado para Giacometti e, essencialmente, ajudam a quebrar a monotonia e a seriedade da insatisfação do pintor.

O Último Retrato
Giacometti e Caroline

O ator Geoffrey Rush foi uma escolha acertada e, na sua versatilidade, ficou bem caracterizado como Giacometti. O próprio estúdio do artista está também muito fiel à realidade: um lugar sombrio, sujo e desorganizado, cujas paredes velhas estavam cobertas de desenhos e rabiscos. Apesar de não fazer sentido que o filme fosse feito sem cumprir com estes requisitos, não deixa de ser notável também a fantástica recriação das esculturas e pinturas do artista.

O cinema é uma das artes que mais facilmente, hoje em dia, consegue ser pedagógica, e este filme é um exemplo disso. O espectador pode não só aprender sobre Giacometti, como também sobre o processo da criação artística e, mais profundamente, o espectador pode refletir, mesmo que brevemente, sobre algumas questões importantes da história da arte: a introdução da fotografia no quotidiano do ser humano e a consequente desvalorização dos retratos e da pintura e a delimitação do mercado da arte.

Assim, sendo uma obra cinematográfica leve e sucinta, “O Último Retrato” é uma ótima opção para aprender mais sobre arte, sob o ponto de vista da complexidade de ser artista, embora possa deixar os mais conhecedores da arte esfomeados por uma maior aprofundação de aspetos mais específicos da área.

Já viste este filme? Diz-nos se gostaste e se concordas connosco!

O Último Retrato

Movie title: O Último Retrato

Director(s): Stanley Tucci

Actor(s): Armie Hammer, Geoffrey Rush, Clémence Poésy, Tony Shalhoub, James Faulkner, Sylvie Testud

Genre: Biografia, Drama

  • Maria João Sá - 70
  • Daniel Rodrigues - 60
  • José Vieira Mendes - 60
63

CONCLUSÃO

“O Último Retrato” explora a complexidade da criação de uma obra de arte e a constante insatisfação de Giacometti como artista.

O MELHOR: A maneira como o filme não se fecha demasiado sobre o artista e sua vida, tornando-se acessível a um vasto número de pessoas, incluindo aquelas que não conheçam o artista.

O PIOR: Alguns dados biográficos que foram incluídos no filme parecem ser colocados como fillers, não sendo essenciais para a construção da história e chegando a quebrar com o ritmo do filme.

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