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Playlist, em análise

A autora de BD e desenhadora Nine Antico assina este ‘Playlist’, uma primeira obra ao mesmo tempo divertida e comovente, que narra as atribulações profissionais e emocionais de Sophie, uma jovem de vinte e poucos anos, como muitas outras da actualidade. Um filme divinal e genuíno!

As bases desta pequena pérola de cinema são em primeiro lugar os mal-entendidos que distorcem profundamente as esperanças, as expectativas e o conteúdo dos relacionamentos românticos, até que as verdades e intenções entre os amantes sejam reveladas. Por outro lado, o filme mostra também a cruel diferença entre os sonhos e a realidade e as muitas dificuldades que os jovens têm de enfrentar, nos dias de hoje. Sophie Legal (a excelente Sara Forestier), a protagonista deste energético ‘Playlist’, é uma rapariga que não desiste de tentar ultrapassar com comovente perseverança questões tão prementes, para todos os jovens, como por exemplo: O que vou fazer para o resto da vida? E do ponto vista pessoal, confronta-se também com questões tão diversas, como: Quem será o amor da sua vida? Quais são os critérios do amor? Devem os amantes terem os mesmos gostos? Ou o casal ter a mesma visão de mundo e ser partilhados entre um casal? Sentimos apenas atração, cumplicidade ou meramente estado enganados pelas primeiras emoções? E assim aos 28 anos, e vinda dos arredores da grande cidade, Sophie vai tentado procurar o seu caminho e mais oportunidades em Paris: profissionalmente é boa desenhadora, mas é já tarde  e caro demais para ingressar numa das grandes escolas de arte parisienses.

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Por isso subsiste como empregada de mesa num restaurante, enquanto partilha um pequeno apartamento com uma outra estudante. O filme vai-nos mostrando um conjunto de situações e abordagens muito representativas de um conjunto de trajetórias individuais que convivem na capital francesa, na fronteira entre a juventude e a passagem para a idade adulta, que nos jovens hoje em dia se faz mais tardiamente. 

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Da sua contratação e desventuras como assistente editorial mal paga na Nomaniak, uma pequena editora de BD (rebatizada precisamente de uma ‘história aos quadrinhos’ que existe na realidade), até aos seus repetidos desapontamentos emocionais e amorosos (com Pierre Lottin e Andranic Manet), Sophie vai suportando com um estoicismo pungente, uma vida que não lhe está fácil; e depois vemos a agressividade da própria cidade de Paris, com os rostos no metro ou os clientes do restaurante, (como flashes de violência contida das grandes cidades), as confidências salvadoras da sua amiga Julia (Laetitia Dosch) nos parques de Paris, a luta secreta de Sophie, contra os percevejos ou os conselhos de uns pais gentis, mas inquietos com o seu futuro (‘Desenhar? Tu sempre desenhas-te muito bem. Mas isso não é um trabalho!’).

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Sophie enfrenta isto tudo com bravura e sempre tentando manter as aparências, embora as não contendo por vezes as lágrimas. Paradoxalmente, estas desventuras iniciáticas desta jovem são apresentadas sob o género clássico do cinema francês, proporcionando também à Nine Antico, a oportunidade ideal de mostrar a riqueza da sua personalidade artística e toda a extensão da sua paleta original de personagens da sua BD. ‘Playlist’ é feito numa estética a preto e branco, com reflexões específicas de um narrador quase filosofal, com momentos de intimidade entre raparigas/mulheres, ousadia gráfica e uma belíssima banda-sonora, como ‘Les Yeux Pour Pleurer’, escrita por Serge Gainsbourg, cantada por Nana Mouskouri; ou ‘True Love Will Find You in the End’, de Daniel Johnston, músicas que se combinam que nem uma luva à narrativa quase em quadradinhos e à evolução da personagem.

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‘Playlist’ é ainda um filme com um aguçado sentido das fronteiras entre a tragicomédia e a arte de abordar temas mais dolorosos e sensíveis (como o aborto), com muito humor e leveza. Enfim esta nova realizadora de cinema, consegue partilhar connosco uma experiência visual muito bem conseguida, com sequências muito ligadas umas nas outras como na BD, criando fragmentos que compõem um retrato rigoroso e universal das facetas paradoxais da vida real, de uma jovem da atualidade, seja em Paris ou aqui em Portugal. No seu conjunto proporciona-nos um filme muito refrescante, que nos faz abrir um sorriso de ternura e compreensão, porque mais ou menos como nos diz Sophie: nunca sabemos o que nos espera, avançamos sem saber e isso não é assim tão mau, porque o futuro acaba sempre por nos surpreender! Maravilhoso

Playlist, em análise
Playlist

Movie title: Playlist

Date published: 28 de June de 2021

Director(s): Nine Antico

Actor(s): Sara Forestier, Laeticia Dosch, Bertrand Belin, Pierre Lottin

Genre: França, Comédia romântica, 86 minutos, 2021

  • José Vieira Mendes - 90
90

CONCLUSÃO:

Sophie (Sara Forestier absolutamente notável na sua interpretação) consegue um emprego numa editora de quadrinhos, apesar de não ser qualificada para a posição. No entanto, sua nova segurança de vida fica ameaçada quando acaba com o namorado, que é o pai da criança, de que está grávida. ‘Playlist’, é uma obra da autora de BD, ilustradora e cartoonista francesa Nine Antico (n.1981) que faz uma brilhante estreia na realização de cinema, com um filme  notável, criativo, realista, feminista e divertido, que traz um ar fresco para um género comédia romântica inteligente ou de ‘mainstream qualificado’.

O MELHOR: Sara Forestier é brilhante em Sophie, a rapariga que nunca desiste de ser feli

O PIOR: Apesar de seus pensamentos esotéricos, o filme de Nine Antico não não oferece uma grande moral ou uma grande lição. Apenas respira vida, e isso é melhor que pior.

JVM

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