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Segurança Nacional, a sexta temporada em análise

Carrie e Quinn trocam amoques para elevar a “Segurança Nacional” ao nível máximo.

Da última vez que estes dois estiveram a menos de um metro de distância, Quinn (Rupert Friend) lutava pela vida numa cama de hospital e Carry Mathison (Claire Danes) martirizava-se por ter evitado um ataque terrorista às custas do seu amigo no leito da morte. Estávamos em Berlim, com a Secreta alemã reunida em conúbio com a Inteligência americana, no encalço de uma fuga de informação confidencial, que podia comprometer as duas agências. Um pretexto que não podia deixar passar em branco a sarcástica palmadinha nas costas a “Snowden“, mas já sabemos como Gansa e Gordon “deliram” com a multiplicidade de cenários especulativos chocantemente plausíveis. Foi assim, que abordaram a questão dos refugiados na Síria e, não é por acaso, que a Segurança do país regressa novamente à base, neste caso, a Nova Iorque, aonde a Presidente Eleita (Elizabeth Marvel) se prepara para dirigir os destinos da nação mais poderosa do mundo. E não deixa de ser no mínimo curioso, como os criadores de “Homeland” imaginaram – também eles – que uma mulher (qual Hillary Clinton) pudesse vir a governar os Estados Unidos da América, fazendo deslizar o habitual machismo diplomático para um palco mais sensível, cauteloso e racional.

Segurança Nacional T6 Corpo
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E é de salutar mais uma adição de peso ao imprescindível ângulo feminino, outrora reservado exclusivamente a Carrie, que aparece aqui mais leve e despojada daquela pressão resultadista infligida pela Agência nos velhos tempos da CIA. Agora, conseguimos finalmente saborear esta Carrie de um calibre mais terreno e mundanal, que abraça a maternidade como uma bênção na sua vida, ao invés de a rejeitar como um empecilho profissional. De facto, temos vindo a assistir, já desde Berlim, a uma espécie de “desmame de espião” com vista à normalização da sua nova condição de civil, que descobre em Brooklin uma fresta de ar limpo ao serviço da Fundação During, na defesa de jovens muçulmanos injustamente acusados de terrorismo. Bem sabemos, como esta última palavra papão tem sido o cavalo de Tróia de “Segurança Nacional”, conhecendo agora em Sekou Bah (J. Mallory McCree) o fio condutor de mais um rastilho islâmico. E enquanto os seus vídeos didáticos sobre os ataques do “Daesh” fazem soar todos os alarmes da segurança doméstica, a futura presidente dos EUA debate-se com a reforma das instituições governamentais de inteligência secreta, ao arrepio do aval de velhas raposas como Dar Adal (F. Murray Abraham) e Saul Berenson (Mandy Patinkin).

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Mas antes de escalpelizarmos os atores e as agendas ocultas neste palco político-diplomático, é premente falarmos de Quinn, que abandona por fim o seu armário de esqueletos para vestir uma daquelas peles tresloucadas de Carrie. E se a relação de ambos já era complicada com aquela insinuante aura de flirt escondida nas missões obscuras, agora ainda se torna mais aguda e disfuncional com a penitência de Carrie pela sobrevivência desta metade de Quinn. Mas este Quinn todo descolado, a cambalear de senilidade, a babar-se pelo canto da boca com uma verbalização retardada é mais Quinn do que alguma vez foi, reabastecendo o drama de espiões com a sua munição mais cara: veneno emocional! E se é um facto irrefutável, que o papelão de Rupert Friend acena vigorosamente ao Emmy, não será de menosprezar que uma Carrie Mathison mais contida não produza “estragos”, sendo que todos os intervenientes gozam aqui de tempo de antena suficiente para oferecerem à trama um “closure” pessoal. Mas mais do que atos consumados, os produtores de “Homeland” conseguem provar que não dependem de uma só protagonista para captar a atenção, elevando todas as participações em qualidade e importância.

Segurança Nacional T6 Corpo
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E essa é, aliás, a premissa principal nesta sexta temporada, em que as múltiplas ramificações do argumento levam o seu tempo a desembrulhar o invólucro, a maturar o timing perfeito para soltar o inferno. Segurança Nacional sempre foi um típico “slow burner”, mas nesta ronda sentimos que vai queimando os seus cartuchos de forma ainda mais cirúrgica, permitindo confirmar ou refutar todo e qualquer conhecimento previamente adquirido das personagens mais rodadas. E enquanto o deformado Quinn vagueia pelas paredes nova-iorquinas como um toxicodependente agarrado ao bichinho de mais uma missão clandestina, Dar Adal – o chefe da SAD (Divisão de Atividades Especiais) – e Saul Berenson (chefe de estação no Médio Oriente) conspiram a existência de um alegado programa nuclear paralelo entre o Iraque e a Coreia do Norte, um remoque capaz de moldar a mente “pacifista” de “Madam President”. Elizabeth, na ficção e na vida real, esta “newcomer”, que vai aquecendo a cadeira do poder com uma graciosidade quase servil e uma desconfiança quase “naïf”, não evita emaranhar-se neste triângulo das Bermudas de pontos divergentes, num tabuleiro periclitante de cordas e esticões. E só o facto de Gansa afirmar, que Elizabeth Keane “é este bocadinho de Hillary, de Trump e Sanders” é, no mínimo, provocador!

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Carrie Mathison surge na moldura fervilhante como conselheira oficiosa da futura presidente, colocando-se à mercê das maquinações estratégicas de Dar em matéria de política externa. E ele fará de tudo para impedir a rotura com o “status quo”, seja por uma simples questão sexista ou por uma noção retorcida de proteção patriótica, mesmo que isso implique recorrer aos métodos mais baixos e coercivos. Mas Saul surge aqui como um contrapeso endógeno, afinal de contas, Carrie sempre fora a menina dos seus olhos. Por esta ínfima amostra, já poderão antever os anticorpos que daqui advêm, com um extremar de posições latente e eminente. Mas é este monstro de monstruosidades interativas que vende tão bem o peixe de “Homeland”, por isso nunca a expressão “mantém os teus amigos por perto, mas o teus inimigos ainda mais perto” fizera tanto sentido. O jogo de espiões atinge assim o seu auge maquiavélico e consequente “turning point”, escondendo as suas jogadas até ao último folgo de cada interveniente.

Segurança Nacional T6 Corpo
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Segurança Nacional é a melhor série dramática de espionagem de sempre e, seguramente, um fortíssimo candidato a levar para casa mais um galardão, lá mais para o final do ano. A coragem e ousadia com que aborda os dossiês mais sensíveis; a nudez e crueza com que simula em tempo real o teatro de operações nos bastidores da máquina estatal americana; a elucidação ficcional deste nosso mundo saído de um manicómio…

Não poderia ser mais urgente e necessário!

P.S. – “The revolution will be live.”

Segurança Nacional - 6 Temporada

Name: Homeland

Description: Depois de um ataque terrorista evitado em Berlim, a temporada seis começa vários meses mais tarde, com Carrie Mathison (Claire Danes) de volta aos EUA e a viver em Brooklyn, Nova Iorque. Carrie começa a trabalhar numa fundação cujo objectivo é ajudar os muçulmanos que vivem nos EUA e as consequências para estes da eleição de um novo presidente. Toda a temporada vai acontecer em período eleitoral e depois das eleições presidenciais, numa altura em que os corredores do Governo se enchem de ansiedade, interesses e conflitos.

  • Miguel Simão - 100
100

CONCLUSÂO

A sexta temporada de “Segurança Nacional” cria novas dinâmicas e eleva outros intervenientes para embrulhar a sua trama numa teia de aranha com inúmeras ramificações e pontos de contacto explosivos. Carrie recua um pouco para deixar respirar quem tem estado na sua sombra, relegando Quinn a figura de proa. Dar Adal também assume mais as rédeas do jogo especulativo e a nova presidente atira mais carisma e “woman power” para cima da mesa. Cheira a Emmys!

Pros

  • Elenco de elevado gabarito
  • Performances de altíssimo nível
  • Rupert Friend (Quinn) é brilhante
  • Enredo competente e eficiente

Cons

  • Toada inicial mais pausada
  • Ter de esperar pela próxima temporada
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