Dragon Ball Super: Super Herói, em análise
É impossível descrever a felicidade tremenda que os fãs sentiram quando “Dragon Ball Super” foi anunciado como continuação do anime – série que melhorou exponencialmente, arco após arco. Depois, eis que surge “Dragon Ball Super: Broly” – de longe, o melhor filme da franchise. Assim, as expetativas estavam altas para “Dragon Ball Super: Super Herói”…
Como alguém nascido em 1994, “Dragon Ball“ foi um dos programas de televisão que me acompanhou durante toda a infância, impactando a minha vida – e a de muitas crianças e adolescentes pelo mundo fora – de uma maneira inesquecível. Nenhum outro conteúdo televisivo chegou aos calcanhares de assistir às aventuras épicas de Goku e companhia. Logo, magoa-me bastante afirmar que saí algo desiludido.
Penso ser óbvio que nenhum fã realmente antecipava uma obra ao nível de “Broly“, principalmente quando a premissa retira totalmente Goku e Vegeta da história, assim como o próprio Broly, Beerus, Whis, entre outros. “Dragon Ball Super: Super Herói” foca-se na relação familiar entre Gohan, Piccolo e Pan, componente narrativa que, de facto, demonstra ser extremamente interessante e guiada por imensa emoção. Goku foi um pai ausente para além de ser o protagonista irresponsável e tonto que é, logo Piccolo sempre foi o verdadeiro pai para Gohan, possuindo uma proximidade emocional muito maior com o Saiyajin que explodiu na Cell Saga – tornando-se numa personagem que todos esperavam que começasse a liderar a saga, mas Akira Toriyama não quis que assim fosse.
Aplaudo a coragem em lançar uma obra com Gohan e Piccolo como protagonistas, especialmente quando se contam pelos dedos de uma mão as vezes que Goku e Vegeta foram colocados de lado nos mais de vinte filmes de “Dragon Ball”. Através do regresso do Red Ribbon Army e de novos andróides para derrotar, “Dragon Ball Super: Super Herói” aproveita a oficialização de Pan – já tinha sido introduzida, mas apenas como bebé – para criar um enredo emotivo, mas não sem antes dedicar tempo aos antagonistas durante uma boa porção da primeira metade do filme. Apesar de apreciar essa alocação de tempo para apresentar e desenvolver os vilões, é uma fase lenta, repetitiva e com bastante exposição desnecessária que não ajuda os espetadores a começarem o filme com o mesmo entusiasmo que entraram no cinema.
Broly possui uma backstory incrivelmente cativante e emocionalmente convincente, ao ponto de colocar o público do seu lado quando a inevitável batalha se desenrola. Em “Dragon Ball Super: Super Herói”, os chefes da organização são meras caricaturas desinteressantes com motivações banais, mas os andróides Gamma 1 e Gamma 2 surpreendem imenso, chegando mesmo a protagonizar uma das cenas mais memoráveis de toda a obra. Dr. Hedo – neto de Dr. Gero – também demonstra ser um antagonista complexo ao invés de um vilão com um plano maquiavélico para dominar o mundo. É, portanto, uma pena que Toriyama não consiga balançar todas estas relações eficientemente.
“Dragon Ball Super: Super Herói” gasta imenso tempo com o Red Ribbon Army e com algumas das suas personagens genéricas, não permitindo que a ligação entre Gohan e Piccolo ou Gohan e Pan cresça ao ponto de justificar o que sucede no terceiro ato. Aqui, poderá ser uma opinião impopular, mas as novas transformações e formas parecem forçadas e guiadas exclusivamente por fan-service. Uma delas grita “fan art” e, de alguma forma, reduz o impacto de transformações do passado que tanto sacrifício e trabalho requereram de outras personagens – parece que passa à frente 2 ou 3 formas sem justificação. Os movimentos de câmara rápidos e cortes abruptos prejudicam ainda mais estes pontos, não permitindo aos espetadores realmente deslumbrarem-se com os novos visuais.
No entanto, o maior problema prende-se com o estilo de animação e a decisão questionável do estúdio em seguir uma nova direção depois do maior sucesso da história da franchise no cinema. “Dragon Ball Super: Super Herói” aplica animação 3D e um uso sem limites de CGI durante toda a sua execução, pormenor que já se sabia mal a obra foi anunciada. Apesar de ser possível um ajuste com o decorrer do tempo, a sensação de parecer um videojogo com gráficos ligeiramente melhores nunca desaparece. As personagens parecem demasiado limpas e “falsas” como se os socos, pontapés e explosões de energia não os afetassem verdadeiramente. Os detalhes que a animação 2D oferece não são possível de alcançar com o 3D, deixando este filme bem longe da qualidade visual de “Broly” ou até do último arco da série.
Não desejo com isto insinuar que “Dragon Ball Super: Super Herói” não possui momentos de deixar o queixo caído ou que a animação 3D só traz problemas. A ação possui uma energia incrível e existem algumas sequências genuinamente fenomenais, nomeadamente uma luta à chuva onde o CGI realmente oferece uma dimensão visual absolutamente deslumbrante. Apesar de nenhuma luta impressionar como qualquer uma no filme anterior, não deixam de carregar imenso entretenimento e referências icónicas a vários episódios das várias séries. O final tem tanto de satisfatório como o contrário, mas prefiro evitar comentar sobre tal, apesar dos trailers spoilarem toda a informação importante.
Termino com o que mais me agradou em “Dragon Ball Super: Super Herói” e até de forma bem surpreendente. O humor de Toriyama nunca funcionou tão bem. As interações entre as várias personagens são tão hilariantes que perdi a conta às gargalhadas. Todos os conteúdos de “Dragon Ball” possuem alguma comédia associada, mas já não me recordava da última vez que me ri assim. Mesmo quando o momentum do filme se encontra baixo, as piadas e referências clássicas da saga levantam o filme da amargura e mantêm o público entretido e envolvido na história. Não é a melhor obra da saga e existem vários filmes superiores, mas continua a ser bastante melhor do que a vasta maioria das adaptações cinematográficas da franchise.
DRAGON BALL SUPER: SUPER HERÓI | DISPONÍVEL NOS CINEMAS A PARTIR DE 18 DE AGOSTO
Dragon Ball Super: Super Herói, em análise
Movie title: Dragon Ball Super: Super Herói
Movie description: O exército Red Ribbon foi destruído por Son Goku... Mas certos indivíduos decidiram levar adiante a sua missão e criaram os androides supremos: Gamma 1 e Gamma 2. Estes dois androides - que se intitulam "super-heróis" - decidem atacar Piccolo e Gohan! Qual será o objetivo do Novo Exército Red Ribbon? Quando o perigo é iminente, é então que desperta o Super-Herói!
Date published: 18 de August de 2022
Country: Japão
Duration: 99'
Director(s): Tetsuro Kodama
Actor(s): Masako Nozawa, Toshio Furukawa, Ryō Horikawa, Yūko Minaguchi, Mayumi Tanaka, Aya Hisakawa, Bin Shimada, Hiroshi Kamiya, Mamoru Miyano, Miyu Irino
Genre: Anime, Animação, Ação, Aventura
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Manuel São Bento - 60
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Emanuel Candeias - 74
CONCLUSÃO
“Dragon Ball Super: Super Herói” oferece aquilo que a maioria dos fãs da saga procuram: ação energética, novas transformações e o humor clássico de Akira Toriyama que funciona brilhantemente nesta obra. O risco e coragem em criar uma narrativa focada em Gohan, Piccolo e Pan acaba por se revelar bem-sucedido devido ao contexto mais intimista, mas fica bastante aquém dos níveis épicos e de satisfação suprema do filme passado. O fan-service exagerado leva a novas formas injustificadas e até algo absurdas. O ritmo e balanço dos vários enredos e relações encontra-se bastante desequilibrado. As sequências de luta possuem bons momentos, mas alguns cortes abruptos retiram algum deslumbramento. E, finalmente, a animação 3D prova ser um declínio em praticamente todos os aspetos comparativamente à mistura ideal usada no conteúdo recente. É uma aventura agradável e leve, mas esperava-se mais. Muito mais.
Pros
- Humor genuinamente hilariante de Akira Toriyama.
- Foco intimista em Gohan, Piccolo e Pan.
- Introdução de Gamma 1 e Gamma 2, assim como Dr. Hedo.
- Alguns momentos de ação, nomeadamente uma luta à chuva.
Cons
- Animação 3D é um declínio de qualidade em praticamente todos os níveis.
- Novas transformações pecam por falta de justificação e excesso de fan service.
- Falta de balanço entre os enredos dos protagonistas e antagonistas.
- Momentos possivelmente épicos são arruinados por cortes abruptos.
- Ritmo sofre com um início muito guiado por exposição.