‘Elis’ em análise

A vida de Elis Regina é contada de uma forma brilhante neste filme musical com um ritmo energético e excitante semelhante de certo modo, para quem a conheceu, ao caráter da cantora. ‘Elis’, é um filme, que está imbuído da alma da cantora, do país e da música que ela afinal tanto amava.

Elis Regina
A actriz Andreia Horta dobra na perfeição a voz da cantora em estúdio.

 

Os génios da música morrem cedo e foi o caso de Elis Regina a cantora brasileira que assinalou a mudança de estilos de Bossa Nova para MPB (música popular brasileira). A ‘pimentinha’, tinha uma personalidade forte e controversa, viveu uma vida profissional e sentimental muito atribulada: ao mesmo tempo que começou a entrar em conflito com a ditadura militar brasileira, terminou a lutar contra os seus próprios demónios pessoais.

‘O filme, (…) narra a sua ascensão meteórica e o seu naufrágio sentimental e pessoal, em pleno sucesso na carreira.’

‘Elis’ procura reconstituir a vida de Elis Regina desde a sua chegada ao Rio de Janeiro com 19 anos, no início da década de 60, vinda de Porto Alegre no Rio Grande do Sul, até à sua morte trágica e prematura aos 36 anos, em 1982. Apesar de todas as dificuldades, o êxito chegou fulminante e a vida de Elis Regina ganhou reconhecimento nacional e internacional. Jovem e de origens humildes Elis torna-se numa das grandes artistas da música brasileira. O filme, dirigido por Hugo Prata, narra a sua ascensão meteórica e o seu naufrágio sentimental e pessoal, em pleno sucesso na carreira.

Elis Regina
Andreia Horta está igualzinha a Elis aqui em foto da época.

 

Andreia Horta, é a protagonista de ‘Elis’ (2016), e veste de uma forma extraordinária a pele da cantora. Horta vem do cinema mas sobretudo da televisão, onde tem feito várias telenovelas — está agora por exemplo em ‘Tempo de Amar’, a nova da Globo, com o genérico musical ‘Amar Pelos Dois’, de Salvador Sobral — e ficou conhecida entre outros papéis por ter sido a brilhante protagonista da série ‘Alice’ (2008), para HBO da América Latina.

VÊ O TRAILER DE ELIS:

Na verdade e quase sempre nos biopic, deve ter sido um grande desafio para realizador e argumentistas, resumir em duas horas a vida e a carreira de uma artista singular e fora de série.

‘…a actriz Andreia Horta, encarna na perfeição a cantora desde a sua chegada como aspirante na animada cena nocturna do Rio de Janeiro…’

‘Elis’, do realizador Hugo Prata, consegue passar esta prova embora com evidentes dificuldades pelo caminho, já que não utiliza sequências retrospectivas e mesmo assim consegue recriar cronologicamente momentos marcantes da vida da cantora. É evidente que o grande mérito deve ser adjudicado principalmente ao protagonismo brindado pela actriz Andreia Horta, quem encarna na perfeição a cantora desde a sua chegada como uma artista aspirante na animada cena nocturna do Rio de Janeiro, naquela época — que aliás é também muito bem retratada, então o Rio era Lindo!— até à sua ascensão e queda.

Elis Regina
Elis Regina chega como aspirante à noite artística do Rio de Janeiro.

 

Elis tornou-se uma das cantoras mais populares do Rio e foi a impulsionadora da chamada música popular brasileira, que contou com artistas como Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil, entre outros. No filme, os seus nomes são cuidadosamente omitidos ou apenas mencionados, para não tirar o foco no percurso de Elis Regina.

De facto o argumento e a realização, — e tem muito mérito por isso — dá  a Andreia Horta todas as possibilidades e ferramentas para retratar Elis Regina na perfeição como intérprete, apresentadora de televisão, amante e mãe de família. Mas a sua interpretação é incrivelmente carregada da energia da cantora. O filme está cheio de cenas musicais e é difícil não seguir o ritmo da música da cantora, que evolui da bossa nova para popularizar obras de mais ritmo e mais próximas da música pop da época. São poucas as cenas em que não aparece Horta e por isso não é de estranhar que a câmera se fixe só nela. Com sorrisos largos de olhos fechados ou ataques de fúria e desolação em discussões com os três homens que fizeram parte da sua vida amorosa (e profissional), a actriz imerge de uma maneira natural na alegria e na desolação de uma jovem que cresceu perante a pressão da fama numa época de grande complexidade política e social no Brasil. Um país que viveu debaixo de uma ditadura militar de 1964 até 1985, que coincide praticamente com o período áureo da carreira profissional de Elis Regina.

‘…o filme tem momentos que prendem o espectador sobretudo à música com temas (…) como ‘Águas de Março’, ‘Madalena’ ou ‘Fascinação’.’

Com magníficas recriações históricas e de um nível cinematográfico estupendo, acrescenta-se-lhe um elenco secundário fabuloso que está à altura da protagonista — Gustavo Machado, Caco Ciocler, Júlio Andrade e o famoso actor uruguaio César Troncoso num papel menor mas bastante carismático — o ritmo narrativo de ‘Elis’ é intenso em seguir a vida da cantora, somando novos relacionamentos, cenários e desafios profissionais e amorosos. Às vezes o ritmo é tão intenso que não deixa espaço para o aparecimento dos demónios pessoais que perseguiram Elis até ao momento da sua morte causada por uma overdose de álcool e cocaína. De qualquer modo são mais que muitos os momentos que prendem o espectador ao desenrolar da trama e sobretudo à música com temas conhecidos e de grande sucesso, como ‘Águas de Março’, ‘Madalena’ ou ‘Fascinação’.

A passagem de Elis Regina pelos bares nocturnos de variedades e a sua tournée europeia, onde se vê emocionada por partilhar o palco com Diana Ross, constituem os momentos mais pitorescos do filme, ao contrário das cenas de estúdio e ensaio onde a actriz dobra na perfeição a voz da verdadeira cantora, e mostra o seu carisma e devoção a Elis.

Elis
Elis Regina

Movie title: Elis

Director(s): Hugo Prata

Actor(s): Andreia Horta, Gustavo Machado, Caco Ciocler, Júlio Andrade

Genre: Drama musical

  • José Vieira Mendes - 80
80

CONCLUSÃO

’Elis’ é um excelente tributo àquela que é sem dúvida a maior cantora brasileira de todos os tempos, brilhantemente interpretada pela actriz Andréia Horta. É recomendado a todos os entusiastas da música popular brasileira, a quem desconheça a vida e obra de Elis Regina e a desejem acrescentar e à sua música a uma play list muito personalizada e de muito bom gosto.

O MELHOR: A interpretação de Andreia Horta roça a perfeição transmitindo a energia de Elis Regina.

O PIOR: O ritmo de casos e conflitos da cantora é tão intenso que fica pouco para os seus demónios interiores.

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