Éramos Jovens, a Crítica | Retrospetiva de Binka Jeliaskova encanta o IndieLisboa
Em 2025 o IndieLisboa continua a destacar-se no campo das retrospetivas, exibindo a primeira revisão completa do trabalho da cineasta búlgara Binka Jeliaskova fora do seu país. Em colaboração com a Cinemateca, tivemos inclusive oportunidade de ouvir as palavras de Svetlana Ganeva, filha de Jeliaskova, ela própria Diretora de Fotografia e versada na obra da mãe. Isto antes da exibição do irrepreensível “Éramos Jovens”.
Com o IndieLisboa e sessões planeadas em conjunto com a Cinemateca, a 2 e 7 de maio de 2025, podemos assistir ao trágico e melodramático “Éramos Jovens”, a primeira longa-metragem da autoria de Binka Jeliaskova.
Jeliaskova é um vulto do cinema búlgaro, com os seus primeiros quatro filmes proibidos pelo regime vigente aquando do seu lançamento inicial. Neste “We Were Young”, trágico (e belo) do título ao seu último plano, e nesta presente edição do IndieLisboa tivemos a oportunidade de assistir à primeira retrospetiva completa do trabalho desta cineasta a ser exibida fora da Bulgária. Neste caso, assistimos à sessão de “Éramos Jovens”, a primeira longa-metragem assinada por Jeliaskova e uma obra que se viria a tornar bastante popular na Bulgária do ponto de vista comercial.
Inclusive, “Éramos Jovens”, um romance histórico e um drama de guerra e espionagem, venceu o primeiro prémio do Festival de Moscovo na altura do seu lançamento, consolidando-se como uma obra com uma força muito própria em vários campos. Além disso, diz-nos o IndieLisboa, esta longa-metragem foi o filme de abertura da importante série documental “Woman Make Film”, da responsabilidade do afamado crítico e estudioso de cinema Mark Cousins. Isto porque “We Were Young” é tida como a primeira longa-metragem de ficção búlgara a ser realizada por uma mulher, um marco histórico e inegável e que reforça a importância do trabalho de Binka Jeliaskova.
Éramos Jovens e a sua relevância histórica no IndieLisboa
Neste primeiro filme de Jeliaskova, lançado no ano de 1961, somos apresentados a um grupo significativo de personagens muito carismáticas. O momento histórico que revisita não é tão pouco muito distante do ano de lançamento do filme, tornando a tensão e dramatismo mais palpáveis e reais. Assim, faz-se sentir como um verdadeiro testemunho histórico. A obra leva-nos de volta aos dias da resistência búlgara à ocupação Nazi durante o período da Segunda Guerra Mundial. Mais especificamente, conhecemos um grupo de rebeldes que, desde o início, sabemos estarem dispostos a morrer pela sua causa, pela libertação da Bulgária, e pela liberdade dos seus camaradas.
Existe um forte e inspirador espírito reivindicativo que atravessa todo o filme, mas a tensão vem também muito do constante oscilar entre os momentos de conspiração, guerra e planos de resistência e o amor que vemos surgir entre dois jovens membros da resistência e que vêem a sua bela paixão condenada pelo contexto perigoso e de limite em que se encontram mergulhados.
O melodrama versátil de We Were Young
Falamos dos carismáticos Dimitar Buynozov como Dimo e Rumyana Karabelova como Veska. Ver o seu amor desabrochar, entre planos de conspiração, perigo de morte e momentos inesperados de beleza, como uma ida ao teatro, recorda-nos de algo fundamental acerca desta pérola de obra. É que a própria cineasta Binka Jeliaskova e o seu esposo fizeram parte da resistência durante a guerra e, por isso, esta luta pela sobrevivência onde há ainda espaço para calor humano nos interstícios torna-se muito mais real, palpável, credível e dessa forma ainda mais fatídica e induzidora de sofrimento.
Mas eis que “We Were Young” tem espaço para humor, para alegria para dar e vender, para risos, para gatinhos bebés e obras fotográficas, para encadernação de livros e para descobertas no teatro. Tem espaço para que a vida não deixe de existir durante um período (muito) conturbado, para que os sonhos não cessem mesmo no mais nefasto dos ambientes. Daí advém a beleza inegável deste filme tão honesto.
“Éramos Jovens”, ou “A byahme mladi” no búlgaro original, uma estreia de inegável qualidade, integra a retrospectiva de Binka Jeliaskova que não deixamos de aconselhar entre a programação do IndieLisboa no ano de 2025.
Éramos Jovens, a Crítica
Movie title: Éramos Jovens
Movie description: Binka Jeliaskova estreia-se na realização a solo com esta história de amor numa Bulgária sob o jugo nazi, inspirada na experiência na resistência partisan da autora, aqui espelhada na convivência com a luta armada em contraste com o desabrochar de um amor.
Date published: 7 de May de 2025
Country: Bulgária
Duration: 110'
Author: Binka Jeliaskova
Director(s): Binka Jeliaskova
Actor(s): Dimitar Buynozov, Rumyana Karabelova, Lyudmila Cheshmedzhieva
Genre: Drama, Guerra,
Conclusão
“Éramos Jovens” tem espaço para humor, para alegria para dar e vender, para risos, para gatinhos bebés e obras fotográficas, para encadernação de livros e para descobertas no teatro. Tem espaço para que a vida não deixe de existir durante um período (muito) conturbado, para que os sonhos não cessem mesmo no mais nefasto dos ambientes. Daí advém a beleza inegável deste melodrama de guerra tão honesto.