Fantasporto 2014 | Pecado Fatal, em análise
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O cinema português sofre de um síndrome de dualidade de carácter que muito dificilmente poderá ser ultrapassado. Habituamo-nos a olhar para o nosso cinema segundo dois tipos de filmes: os muito maus que levam (incompreensivelmente) milhares de espectadores às salas, e os muito bons que são (talvez) bons demais para apelar às massas.
As tentativas, sempre falhadas, de criar o blockbuster português esbarram sempre num paradigma: perante a nossa realidade, juntar o útil ao agradável parece impossível.
Foi com este pensamento que abraçamos a antestreia nacional de “O Pecado Fatal” no Fantasporto. E até tínhamos bons motivos para estarmos optimistas. O filme havia vencido o Prémio de Excelência no Canada Film Festival e tinha sido seleccionado para o Chicago Latino Film Festival (uma presença que sucede a “Florbela” e “Sangue do Meu Sague”, representantes portugueses em anos anteriores). Aliado a isso, estávamos na presença de uma história contemporânea e que, por ser protagonizada por atores jovens (Miguel Meira e a ex-Morangos com Açúcar, Sara Barros Leitão), poderia suscitar o maior interesse do público do Fantasporto.
Depois de duas sessões vespertinas despidas de público, a verdade é que o Rivoli encheu para assistir a este filme ainda inédito em quase todo o mundo. Sara Barros Leitão, antes do início da sessão, ainda brincou com o facto de o seu avô lhe ter pedido para esta não cair enquanto se dirigia ao palco e a verdade é que não caiu. Não caiu ela, nem caiu o filme, perante aquela multidão.
Ainda muito longe do modelo ideal do ‘blockbuster português’ que referíamos atrás, mas muito mais próximo do Cinema português com selo de qualidade, este “Pecado Fatal” acabou por fazer jus ao seu background e assumiu-se como um favorito à secção competitiva da Semana dos Realizadores. Acabou por não ganhar o prémio, mas poderia naturalmente tê-lo ganho.
Ainda não estreou em solo nacional, mas tem data anunciada para abril deste ano e já promete, através do seu marketing, reconciliar os portugueses com o Cinema português. De facto, não diríamos melhor.
A atualidade dos seus temas (o amor, a vida, as relações que criamos) e a combinação equilibrada entre drama, romance e comédia são trunfos evidentes que deverão captar o público nacional, pese embora o seu título que carece de originalidade e que é potencialmente nocivo para as suas pretensões comerciais.
Sustentado por sólidas interpretações de Miguel Meira e Sara Barros Leitão, “Pecado Fatal” beneficia também de uma realização cuidadosa de Luís Diogo que sabe explorar com sucesso os silêncios e envolver o espectador nos diálogos surpreendentemente bem escritos, tirando partido de uma vibrante fotografia e uma banda sonora subtil mas eficaz.
E se é verdade que a certo momento tudo se torna excessivamente previsível, formulaico e por vezes até forçado, é verdade também que a frescura narrativa faz-nos facilmente esquecer todos mais os pontos negativos.
DR
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