Festa do Cinema Francês ’25 | Le Roi Soleil – Análise
Encontrámos, na secção competitiva da Festa do Cinema Francês em 2025, a obra de Vincent Maël Cardona “Le Roi Soleil”. Este drama criminal teve direito a duas sessões no festival – a primeira apresentada pelo próprio realizador e a segunda introduzida pela afamada atriz portuguesa Maria de Medeiros.
A ganância escala em Le Roi Soleil
A trama de “Le Roi Soleil”, protagonizada por nomes como Pio Marmaï, Lucie Zhang, Sofiane Zermani e Maria de Medeiros, desenrola-se num café desterrado nos arredores de Paris, onde um bilhete premiado da lotaria instala a discordia total e leva a uma chacina situada algures entre o drama e a comédia negra.
Encontramo-nos nas primeiras horas da manhã, com o sol ainda a surgir no horizonte, e eis que um idoso entra no bafiento bar “Le Roi Soleil” apenas para descobrir que venceu perto de 300 milhões de euros na lotaria, com um bilhete vendido nesse mesmo bar. Mas quando um outro cliente reage com galopante violência armada, o bilhete acaba por ficar sem dono e assim se instalam várias narrativas paralelas.
Um jogo de “E se’s” é iniciado em “The Roi Soleil”, um filme que faz das tripas coração para ter uma evolução narrativa fora da norma. Temos muitos avanços e recuos no tempo e instalam-se várias perspectivas do mesmo evento. Algumas das perspectivas apresentadas são reais, outras são imaginadas, efabulações que resultam da vontade de reclamar o prémio para os sobreviventes, sem que a polícia seja capaz de compreender o que transpareceu para lá daquelas quatro paredes insuspeitas.
Demasiadas perspectivas nesta Festa do Cinema Francês
Mas eis que o grande problema de “The Roi Soleil” é precisamente a sua estrutura invulgar, que se torna cansativa em menos de nada. Embora esta seja uma história interessante e um thriller relativamente bem conseguido, um desespero por quebrar o molde torna tudo excessivo nesta trama. Precisávamos mesmo de repetir, ad eternum, as mesmas cenas a partir de pontos de vista ligeiramente distintos? Não, porque esta repetição não traz nada de fresco e torna-se apenas cansativa.
O tema é bastante interessante, como comentário sob a forma como a promessa de dinheiro corrompe, levando a discórdia, desespero e desumanização. Mas a execução não honra ou eleva a premissa inicial, muito pelo contrário. Há muito ruído e uma tentativa de ser mais profundo e lírico do que alguma vez o filme consegue na realidade ser.
Lotaria: imposto dos pobres?
A ganância é a principal moeda de troca neste thriller negro e com laivos de comédia, à medida que os funcionários, a dona e os clientes do Roi Soleil se digladiam para ter a última palavra a dizer acerca deste grande prémio. A obra começa com um flasback para o passado longínquo, até ao momento em que a corte do Rei Sol criou a lotaria como uma espécie de “imposto dos pobres” que se auto-alimenta. Esta perspectiva não costuma ser muito explorada, e por isso, sem dúvida, o ponto de partida é o momento mais interessante desta obra.
Falta, contudo, uma execução vitoriosa e que nos encha as medidas. A temática cativante está lá, até a própria conclusão não é de todo infeliz. O pior aqui mesmo é a jornada e uma vontade, da parte da realização, de apresentar o argumento da forma mais criativa e distinta possível. Tão manipulada é a ação que se torna pouco natural, cansativa, inclusive repetitiva. É uma pena!
A Festa do Cinema Francês terminou a sua passagem por Lisboa e pelo Porto mas ainda passará por muitas outras cidades de norte a sul do país. Consulta toda a informação no website oficial, localidade a localidade.
Le Roi Soleil - Análise
Conclusão
- “Le Roi Soleil” é uma proposta interessante, com um ponto de vista distinto e uma premissa cativante. Todavia, a obra perde-se na execução e na sua vontade de quebrar o molde.
Overall
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