Figura de Estilo: Golpada Americana

 

Este não é o golpe do baú. É o golpe do guarda-roupa.

 

Mark Wilkinson, o homem cujo currículo inclui títulos como “Homem de Aço”, “Tron: O Legado” e “Amanhecer, Parte 2” sai da sua zona de conforto para entrar no sonho de qualquer figurinista: um filme de época, dirigido por David O. Russel, um elenco de luxo e acesso aos arquivos de casas como Halson, Gucci e Diane von Fürstenberg, “os” nomes que lideraram a moda dos anos 70. E apesar de, regra geral, todo o humor da película ser um dos melhores do ano, é preciso desconstruí-lo para perceber a genialidade que o faz ser mais do que um adereço: é um personagem.

 

A bipolar
Jennifer Lawrence. A dona de casa dos subúrbios que alterna entre caftans largos em casa e peças exageradamente justas quando sai, tentando desesperadamente provocar ciúmes no marido. Sem sentido de estilo, sem conhecimentos de Moda, Rosalyn Rosenfeld atira-se por completo ao seu jogo psicótico passivo-agressivo e usa o aborrecimento quotidiano em vestidos largos e a frustração em jumpsuits de padrão leopardo um número abaixo do seu ou no (já considerado icónico) vestido branco feito à medida por Wilkinson.

 

O agente do FBI
Vamos falar da permanente de Bradley Cooper? Sim, por favor. Num dos piores clichés dos anos 70, Richie DiMaso passava as noites de rolos no cabelo e os dias com caracóis exageradamente apertados. Começou a película com o conservadorismo de um agente da autoridade que não dá qualquer importância ao que veste e limita-se a repetir os mesmos fatos de poliéster e gravatas ridículas. Mas quando se introduz no mundo sedutor que contorna a lei – e subsequentemente aos conselhos de estilo de Sydney -, começamos a vê-lo com fatos de três peças, camisas em seda, lenços com padrão, óculos de sol estilizados, casacos em pelo ou em pele. E embora o objetivo seja transparecer uma autoridade sofisticada, o resultado é um homem que está a tentar demasiado.

 

O burlão
É o centro da ação é a personagem fisicamente menos atraente dos 138 minutos que consegue ser, simultaneamente, a mais interessante. E Irving Rosenfeld (Christian Bale) sabe disso. Vende-se como alguém culto, fiável, um homem das artes e das finanças, e fá-lo combinando riscas com cornucópias, seda com veludo, colares com anéis no dedo mindinho. Vamos ignorar o cabelo e fixar-nos no seu look de assinatura: gravata ascot, colete e fato, em cores contrastantes e nunca no espetro do aborrecido.

 

A femme fatale
Saída do Studio 54 ou de uma ode à sensualidade, Amy Adams atinge em “Golpada Americana” o clímax de uma sexualidade que o cinema não lhe conhecia. A recusa das estruturas que apoiavam o armário de outras épocas deram aos anos 70 a total liberdade na escolha do uso da roupa interior (parece-nos muito claro de que lado Sydney Prosser se posiciona nesta questão), bem como um novo movimento e fluidez às peças. Os wrap dresses inventados por Diane von Fürstenberg, os vestidos Halston, os acessórios Gucci, os óculos Christian Dior: silhuetas femininas, tecidos sofisticados, decotes infinitos, casacos em pelo e um profundo bom gosto fazem de Adams a personagem inequivocamente mais atraente– o que não é fácil num filme com Lawrence -, com uma frescura sensível e confiante que alterna entre mulher fatal e uma vulnerabilidade frágil. Talvez sejam precisos alguns anos e uma certa perspetiva, mas pomos as mãos no fogo em como Adams não acaba de se tornar um ícone no guarda-roupa cinematográfico.

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