Fora de Série | House of Cards T03E11
Fora de Série: episódio 62 | House of Cards 3×11: “Chapter 37”
“Don’t do no calling a man out like that. It’s like – blaming a snake for having fangs.”
O facto de por vezes torcermos pelos vilões no ecrã, e depois, de cabeça enfiada na almofada, nos questionarmos acerca daquilo que realmente valemos e quem queremos ver a suceder neste mundo, é algo que muito deve a tendências. E na manhã seguinte já mal podemos esperar para assistir à próxima desventura do protagonista que corta cabeças e diz palavras más. É a hipocrisia. E House of Cards é o auge.
Com a política mundial como está, as bocas são lançadas aos Governos dos países com uma facilidade que parece que se anda a comer pão com lubrificador. Mas depois, à noite, torcemos por Frank Underwood. Mas a maré talvez esteja a mudar de direção.
O episódio “Chapter 27” viaja até ao debate presidencial entre Dunbar, Underwood e Sharp. Até lá temos duas coisas a encher chouriços que são as preparações para o debate, Jackie a propor a Heather Dunbar uma aliança, mas sem sucesso pois não recebe nada em troca e a volta forçosa do drama “Rachel”, com Galvin a contactar Douglas e a desmascarar a mentira, oferecendo-lhe a localização da mulher em troca de ajuda a um dos seus amigos hackers. Totalmente escusado, resume-se a mais momentos em que quase vemos a sobriedade de Douglas a ser quebrada, mas a partir do momento em que tal aconteceu pela primeira vez, deixou de ter piada.
Senhoras e senhores, o debate.
Sharp estava receosa de usar a riqueza de Dunbar e o facto de ela ter posto os filhos numa escola particular contra ela, já que os filhos do seu marido também estão numa. Mas duas pitadas de Underwood e lá foi convencida.
O Presidente ataca principalmente a grande concorrente, apontando a falta de experiência, enfatizando a sua ambição com a AmericaWorks e todos os frutos que não trouxe neste mandato, mas trará no próximo ao povo americano. Dunbar chama-lhe visão errada e experiência horrenda, defendendo a sua paixão e fidelidade à Constituição Americana. Sharp anda ali aos tombos, como uma miudinha numa luta de grandes, a tentar atirar bolas de papel a Dunbar, chegando ao ponto de ser até infantil.
Dunbar estava a ser atacada de duas frentes, mas esteve à altura. O pragmatismo esteve no seu discurso, enquanto Underwood era mais vago, usando a sua empatia e conforto para, por vezes, lançar algumas piadas. Mas Dunbar não estava para brincadeiras, e em certos momentos demonstrou a vontade de voltar a reavivar assuntos pelos quais tinha sido criticada, mostrando que não tinha nada a esconder. Jackie segue o plano à risca, depois de Dunbar lhe ter negado qualquer cargo em troca do seu suporte no debate, usando os trunfos todos. Contudo, o acordo entre Sharp e Underwood não é, obviamente, mútuo. Ela vai sangrar, sacrificando-se pelo Presidente. Talvez lá andem com falta de um oftalmologista, mas deste lado do ecrã sabe-se de que material são feitos os homens, e não tardou muito até Frank Underwood apontar o dedo a Jackie, fazendo referência aos filhos do seu marido, também numa escola particular, deixando a aliada sem palavras.
Quando as coisas pareciam começar a correr a favor do Presidente, é então que Sharp vira o seu apoio para Dunbar, depois da “pequena traição” em frente das câmaras. Rémy segue o exemplo e sai pela porta fora. Pelo menos ainda tem o Grayson… e o Meechum. As reticências deviam ser usadas depois deste último.
Nos entretantos, Claire desabafa enquanto doa sangue, meio apagada, com Thomas. Fala de, de sete em sete anos, pensar em “afastar-se”, descreve-se numa “ponte”, sentir que quer “saltar”. Não é preciso ser um génio para ver que a coisa vai descambar lá em casa, e Yates vai-se ver no meio da maior história que alguma vez poderia ter pensado em escrever. Saiu-lhe a sorte grande, é uma questão de tempo.
Faltam dois episódios para o fim da terceira temporada de House of Cards, enquanto já se espera pela quarta. Underwood teve uma ideia com uma visão (usando o termo adotado) incidente num dos principais aspetos que requer mais atenção e dá mais votos a qualquer candidato à Presidência mas, até agora, tudo tem sido mal executado. Esta temporada foi feita para o ver cair. E apesar de nas outras temporadas torcer pelo homem, aqui vejo-me a esperar pelo bem, a apoiar Dunbar e a querer vê-lo abatido. Sou menos hipócrita.
In APS Portugal