A Força da Verdade, em análise

 

Will Smith reafirma os seus talentos no drama, mesmo num filme que peca pela falta de testemunhos sobre a doença que vitima inúmeros jogadores de futebol americano. 

 

FICHA TÉCNICA

A Força da Verdade

Título Original: Concussion
Realizador:  Peter Landesman
Elenco: Will Smith, Alec Baldwin, Gugu Mbatha-Raw e Albert Brooks Género: Drama, Biografia, Desporto
Big Picture | 2015 | 123 min[starreviewmulti id=18 tpl=20 style=’oxygen_gif’ average_stars=’oxygen_gif’] 

 

Chegou finalmente às salas de cinema o filme pelo qual Will Smith poderia ter sido nomeado ao Óscar. Poderia, mas não foi. Mesmo assim, o seu papel não fica nem abaixo nem muito acima das expetativas que qualquer um de nós pode criar. A Força da Verdade é apenas mais um exemplo de que existem bons filmes sobre histórias verídicas, que não foram nomeados à estatueta dourada porque, e tendo em conta o riquíssimo ano de 2015, já não cabiam mais atores no lote dos nomeados, algo que Smith terá de aprender a superar.

A Força da Verdade, ou Concussion (traumatismo) no título original, versa sobre os meandros do futebol americano, porém não se trata de perceber as técnicas de uma ou outra equipa mais desajeitada ou perfecionista. Na verdade, o seu enredo baseia-se nos efeitos a longo prazo que este jogo tem sobre os seus atletas, e para tal recorre a uma história verídica, a do Dr. Bennet Omalu (Will Smith), um patologista nigeriano que reside nos Estados Unidos.

Nesta profissão que exige alguma preparação psicológica, temos literalmente a luta acesa de um homem contra as grandes entidades desportistas, nomeadamente a National Football League (NFL), no sentido de confirmar a possível causa de uma doença. Este caso que só ganhou atenção do público aquando da intervenção dos mass media, resultou da descoberta de uma encefalopatia traumática crónica (CTE), doença degenerativa que afeta essencialmente indivíduos com histórico de lesões agravadas na cabeça e que leva ainda a depressões, alucinações e, eventualmente, ao suicídio. Ora, se o Dr. Omalu pensava que retiraria o expoente máximo de entretenimento dos cidadãos americanos  estava muito enganado, mas pelo menos tentou denunciar um facto e um certo abuso de poder por parte da cooperação.

Will Smith, Dr. Bennet Omalu e o realizador Peter Landesman no set
Will Smith, Dr. Bennet Omalu e o realizador Peter Landesman no set

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É essa força de vontade que, de facto, Will Smith consegue transmitir e sem ele o filme não teria talvez o mesmo impacto. É porventura favorável ver um ator negro (ponto que só introduzimos pelo facto da diversidade ser um assunto tão comentado entre os produtores das indústrias de Hollywood) a ser tão versátil – esqueçamos aquele filme que fez de M. Night Shyamalan. O ator fica sempre bem, tanto no drama (Em Busca da Felicidade; Sete Vidas) como nos filmes de ação/ficção científica que conseguem tornar-se blockbusters (Eu, Robot; Homens de Negro; Eu sou a Lenda), uma vez que é realmente expressivo, característica que também se nota em Concussion, sobretudo na forma como pronuncia as palavras, com um sotaque próprio mas subtil. Outro ponto positivo da trama é a excecional capacidade de levantar questões sociais que tocam a América nestes dias, seja o racismo ou as típicas ameaças dos americanos mais arrogantes quando querem expulsar alguém que não é do seu país (xenofobia). A procura de uma confirmação da verdade pelo Dr. Bennett Omalu passou por tornar um país mais justo, que se defende à priori como tal, mas que num fundo tem defeitos, questões que não deveria de todo esconder. Ora aí o cinema assume um papel denunciante como acontece com O Caso Spotlight, agora vencedor do Óscar da Academia. Em ambos, há uma necessidade intrínseca da indústria institucionalizada de Hollywood entender as suas histórias aos “podres” da nação.

Will Smith, Alec Baldwin e Arliss Howard numa das conversas mais tensas do filme
Will Smith, Alec Baldwin e Arliss Howard numa das conversas mais tensas do filme

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Apesar disso, não não vamos distrair-nos em comparações de cabeça quente. Enquanto o último dá tanto destaque aos jornalistas como às suas vítimas, aqui há uma menor preocupação de trabalhar as sequelas sobre as famílias que quase nada revelam a sua perda. Os momentos que supostamente deveriam ser mais intensos tornam os jogadores demasiado violentos, às vezes até parece que temos um género de Hulk diante do ecrã. Muito lamentavelmente, Concussion foca-se nos colegas de Omalu e fica-se por aí. Temos Alec Baldwin como médico de uma das equipa que ajuda o protagonista e arrepende-se do seu passado, bem como Albert Brooks como Cyril Wecht, o chefe de Omalu e o único capaz de aligeirar de alguma forma a trama e de trazer alguma comédia nos seus comentários sarcásticos. Devemos ainda uma destaque para a única estrela feminina, Gugu Mbatha-Raw como Prema Mutiso, uma jovem que incentiva ao romance na vida de Omalu e que pelo que temos visto é certamente uma bela atriz a ter em conta no futuro próximo.

Gugu Mbatha-Raw e Will Smith
Gugu Mbatha-Raw e Will Smith

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No plano mais técnico, a banda-sonora de James Newton Howard não ajuda particularmente a performance do filme, uma vez que torna as coisas muito mais cliché e não se encaixa em algumas cenas pelos seus ritmos mais intensos. É pena também assistir a um compositor interessante com um currículo mais recente focado em histórias medíocres. No entanto, atenção para a capacidade do filme utilizar as tecnologias digitais, no sentido de compor imagens microscópicas e relacionadas com a medicina.

No fim, o dinheiro do bilhete não será, de todo, mal gasto. Este é um filme extremamente calmo, o qual exigirá alguma paciência dos espectadores, mas que o deixará a pensar em todas as questões polémicas e naquilo que nos define enquanto sociedade. Will Smith não foi nomeado ao Óscar mas a melhor lição que nos deixa é mesmo a da sua personagem: nem sempre deveremos ser tão pessimistas porque o futuro poderá guardar-nos dias melhores.

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