Golden Globes 2026 — Análise das Nomeações | Surpresas, desilusões e confirmações
É um ano de guerras santas, favoritos milionários e espectadores incrédulos nos Golden Globes 2026: Hollywood continua a ser a maior telenovela do planeta e nós adoramos assistir ao enredo destes prémios da imprensa, mesmo quando já quase sabemos como acabam. Uma análise mais a frio….das nomeações e dos excluídos.
Os Golden Globes 2026 anunciaram hoje as suas nomeações e, como sempre, foi aquela mistura improvável entre bingo de réveillon e assembleia-geral de accionistas, agora representada por uma renovada Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, que até tem membros residentes em Portugal. Para o efeito, o lugar de residência pouco importa: têm uma espécie de estatuto de Residentes Não Habituais, mas só para efeitos de votação nos Golden Globes e à distância, claro, porque o Trump não quer nada com imigrantes, muito menos críticos de cinema. Bom, há obviamente surpresas nas nomeações aos Golden Globes 2026 que parecem piadas internas, desilusões dignas de carta aberta no X-Twitter e confirmações tão óbvias que quase mereciam categoria própria: “Melhor Nomeação Que Já Se Sabia Há Mais de Três Meses”. A cerimónia será no dia 11 de janeiro de 2026, num daqueles domingos em que Hollywood — ou melhor a “crítica de Hollywood” e não a indústria — finge que continua a mandar no mundo enquanto nós fingimos que acreditamos. É um equilíbrio artístico.

Favoritos claros, polémicas inevitáveis
O grande dominador dos Golden Globes 2026, sem espaço para polémica, é “Batalha Atrás de Batalha”, de Paul Thomas Anderson: nove nomeações, uma colecção de elogios críticos e a promessa de que o filme será simultaneamente um triunfo artístico e um desastre financeiro, aliás, como a Variety já comentou. Anderson pode sair desta temporada consagrado, mas os estúdios sairão com os cofres a arder. No lado das séries, “The White Lotus” volta a provar que a sátira rica-em-crise continua a ser o desporto preferido da televisão americana, com seis nomeações, seguida de “Adolescência”, com cinco. As categorias de Cinema mostram um ano esquizofrénico, dividido entre a nostalgia do grande drama monumental — “Sentimental Value”, “Hamnet”, “Frankenstein” — e o caos delirante do musical e da comédia, onde “Bugonia”, “Nouvelle Vague”, “Blue Moon”, — os dois últimos realizados por Richard Linklater — “Marty Supreme” e o inevitável “Batalha Atrás de Batalha” competem como se fossem cinco estados emocionais diferentes do mesmo realizador indie. Na verdade há dois que são.

A ironia desta edição 83 dos Golden Globes 2026 — a primeira realizou-se em 1944 — chega talvez com a recém-criada categoria Acontecimento Cinemático e de Bilheteira, que junta no mesmo saco filmes que ainda não estrearam, como “Avatar: Fogo e Cinzas” — cuja projecção de imprensa em Portugal é daqui a pouco —, com outros que estrearam mal, como “Missão: Impossível – O Ajuste de Contas Final”. Hollywood é esse sítio onde o box office vale tudo… excepto quando não vale, sobretudo visto pelo olhar da imprensa e da crítica. As omissões também já começaram a incendiar a internet: Kathryn Bigelow fica de fora com “Prestes a Explodir”, apesar do hype crítico; Bradley Cooper não entra na corrida com “Is This Thing On?”, sinal de que o entusiasmo pós-“Maestro” já passou a validade; “Wicked: Pelo Bem”, apesar do fervor do fandom, não conseguiu vaga em Melhor Filme Musical ou Comédia; “Jay Kelly”, a sensação do streaming com George Clooney nomeado, aparece também Adam Sandler como uma nomeação a ator secundário de comédia que, justiça seja feita, era esperado, mas é sempre motivo suficiente para nos alegrar a noite, porque ele merece.

Actores, ressurreições e guerras internacionais
Nas categorias de Interpretações (Melhor Actor, Actriz) dos Golden Globes 2026, há um equilíbrio fascinante entre lendas recicladas e novos brinquedos da indústria: Julia Roberts, apesar do desastre de bilheteira, ressuscita com a nomeação em “Depois da Caçada”; Renate Reinsve volta a ser a favorita da crítica com “Sentimental Value”; e Wagner Moura confirma que “O Agente Secreto” está oficialmente na corrida internacional. A provável batalha final será entre o Brasil e o Irão (ou melhor, a França, que foi quem inscreveu o filme de Jafar Panahi). Entre os homens, o festival é variado: Oscar Isaac destrói monstros em “Frankenstein”, Michael B. Jordan lidera “Pecadores” como quem lidera um culto religioso, Dwayne Johnson distribui porrada metafísica em “Coração de Lutador”, e Jeremy Allen White continua a tendência 2025-2026: ser nomeado para tudo o que respira, desta vez por “Springsteen: Deliver Me From Nowhere”. E sim, Timothée Chalamet volta a ser nomeado no ping-pong frenético de “Marty Supreme”. A natureza cura, as marés sobem e descem, e Chalamet é candidato aos Globos, assim se mantém a ordem do universo, fora do planeta Arrakis.

Televisão: neurótipos, sátiras e luxos que ainda não foram taxados
Nas séries, “The White Lotus” e “Adolescência” lideram as nomeações para os Golden Globes 2026, enquanto “Severance”, “Homicídios ao Domicílio”, “The Diplomat” e “Hacks” mostram que a televisão vive menos de efeitos especiais e mais de neurose performativa. O mundo pode estar em crise, mas a comédia continua óptima, talvez porque rir é o único luxo que ainda ninguém teve coragem de taxar. A sensação geral? Os Globos continuam a ser o mesmo barómetro imperfeito mas fascinante: um prémio que adora surpreender só para ser levado a sério, e adora confirmar tendências só para garantir convites para os Óscares. Hollywood continua a ser uma festa ritmada a champanhe, polémica e listas de nomeados e nós continuamos, com gosto, a entrar na festa, mesmo sem ser convidados.
JVM

