Denzel Washington em “Highest 2 Lowest”, de Spike Lee (Fora de Competição).©Festival de Cannes/Divulgação

Em “Highest 2 Lowest” Spike Lee reinventa Kurosawa com Denzel Washington em estado puro | Diário do Festival de Cannes 2025 (Dia 8)

Em “Highest 2 Lowest”, Spike Lee reinventa o clássico de Kurosawa com Denzel Washington no centro de um thriller urbano carregado de crítica social, muita música e mais um bilhete postal de Nova Iorque. Apesar de fora da Competição já e um dos momentos altos do Festival de Cannes 2025, com a homenagem a Denzel Washington, que recebeu antes da projeção Oficial, uma surpreendente para todos, Palma de Ouro Honorária e se comoveu muito.

Num Festival de Cannes 2025 repleto de surpresas, Spike Lee voltou a provar que sabe bem como se faz barulho — não só com palavras, mas com cinema que pulsa, vibra, incomoda e diverte. “Highest 2 Lowest”, apresentado fora de competição, é mais do que uma reinterpretação de “High and Low” (“Céu e Inferno”) o clássico de Akira Kurosawa: é um grito contemporâneo sobre moralidade, desigualdade e as zonas cinzentas do poder — tudo filmado com a urgência de quem ainda acredita no cinema como arma política.

Festival de Cannes 2025
“Highest 2 Lowest”, um thriller intenso com Denzel Washington em plena forma. ©Festival de Cannes/Divulgação

De Kurosawa a Campari: Spike Lee ao ataque

Inspirado no filme de 1963, mas firmemente enraizado na Nova Iorque de hoje, “Highest 2 Lowest” apresenta Denzel Washington como David King, um lendário produtor musical, apanhado entre o som do passado e os ruídos de um presente tumultuoso. Quando um jovem próximo da família é raptado, King vê-se perante um dilema ético: pagar o resgate e trair os seus princípios, ou manter a integridade e arriscar-se a perder tudo. Acompanhado por um elenco onde se destacam Jeffrey Wright, Ilfenesh Hadera, Dean Winters, John Douglas Thompson, e as estreias cinematográficas de A$AP Rocky e Ice Spice, “Highest 2 Lowest” reúne gerações e vozes distintas. Com o Bronx a ferver e os ecos de James Brown a incendiar o ecrã ao som de “The Big Payback”, Spike Lee monta um extraordário thriller neo-noir com coração de denúncia social e estrutura de clássico moralista.

VÊ TRAILER DE  “HIGHEST 2 LOWEST”

Uma Palma inesperada e uma colaboração de peso

Antes mesmo da exibição de “Highest 2 Lowest” Cannes parou para aplaudir Denzel Washington, homenageado com uma Palma de Ouro Honorária entregue por Thierry Frémaux e pelo próprio Spike Lee. Foi um momento emotivo, carregado de simbolismo: o reencontro de dois mestres, quase duas décadas depois de “Inside Man”, celebrando uma parceria artística marcada por coragem e autenticidade. Denzel, numa performance contida e devastadora, carrega o filme com a mesma intensidade que trouxe a “Malcolm X” ou “Fences”. Ao seu lado, um elenco surpreendente: A$AP Rocky como o provocador Yung Felon, Jeffrey Wright, o amigo da família e quase um irmão, a emprestar gravidade, Ice Spice numa estreia promissora e Dean Winters a pontuar as cenas com acidez.

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Highest 2 Lowest
A estreias cinematográficas do rapper A$AP Rocky. ©A24

Estilo, ritmo e crítica social: a assinatura de Spike Lee

A direção de fotografia de “Highest 2 Lowest” é de Matthew Libatique (“Cisne Negro”) imprime tensão visual a cada plano, enquanto a banda sonora de Howard Drossin embala a descida do protagonista ao submundo da cidade e dos seus próprios valores. Lee sabe que filmar Nova Iorque é filmar um campo de batalha: entre ricos e pobres, fama e queda, ruído e silêncio. Mas o que distingue “Highest 2 Lowest” não é a fidelidade ao original de Kurosawa, mas a maneira como o reinventa — através de um olhar negro, urbano, norte-americano, que problematiza o poder através da música e da memória. Spike Lee não faz remakes. Faz reescritas históricas.

Spike Lee
Spike Lee nua animada conferência de imprensa. ©José Vieira Mendes

Um brinde à liberdade criativa

Na véspera da estreia de “Highest 2 Lowest”, aqui em Cannes, a festa na Hyde Beach by Campari deu o tom: copos no ar, música alta e um realizador rodeado por cúmplices criativos e veteranos da sua filmografia. O actor norte-americano Wendell Pierce resumiu o sentimento do momento ao dizer: “Quanto mais específico um artista é, mais universal se torna a sua mensagem.” Lee volta a provar isso — com um filme que, sendo profundamente enraizado no presente americano, ressoa no mundo inteiro.

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