Homem Irracional, em análise

 

“Homem Irracional” é uma interessante e desconcertante exploração do género de mistério que, no entanto, não chega para nos encher as medidas.

 

homem irracional

 FICHA TÉCNICA

Título Original: Irrational Man
Realizador: Woody Allen
Elenco: Joaquin Phoenix, Emma Stone, Parker Posey
Género: Comédia, Drama, Mistério
Pris | 2015 | 95 min

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Woody Allen é um dos cineastas mais prolíferos, peculiares e talentosos da história do Cinema e habituou-nos a uma saudável dose anual de um dos seus caracteristicamente palavrosos e intelectualmente estimulantes filmes.

E há um certo jogo duplo em todo este processo. Entre a condescendência e a admiração pelo engenho de um maestro, sabemos que o que lá vem é a marca de um génio, mas também mais uma variação de algo que já vimos, onde o fator surpresa se reduz a pouco mais que nada.

Aprendemos a esperar que dele não venham filmes maus – afinal, Woody Allen é um resoluto exemplo de que não se desaprende a andar de bicicleta – no entanto, sabemos que algumas das suas incursões são boas, outras menos boas, mas há ainda uma assombrosa quantidade de resolutas obras-de-arte.

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Patinando algures entre a primeira e segunda categoria, “Homem Irracional” não é uma obra-de-arte.

Seguimos então a história de Abe Lucas, um torturado e fatalista professor de filosofia que se envolve com uma aluna curiosa e fascinada pela sua carismática figura e uma outra professora de meia-idade descontente com as parcas ofertas da vida familiar tradicional. Um dia, um único ato existencial muda tudo – em Abe e em todas as relações que mantém.

Como uma série de outras obras da filmografia de Woody Allen, “Homem Irracional” equilibra motivos sombrios na destreza de uma leviandade aparente. Repescando temas de “Crimes e Escapadelas” e mesmo “Match Point”, Allen encontra ainda em Dostoyevsky uma inesgotável fonte de inspiração – aqui também em sentido literal, já que o filme é levemente inspirado em “Crime e Castigo” do autor russo.

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Baseado no choque entre a teoria e a prática, o argumento, repleto de niilismo e moralismo na zona cinzenta, retalha-se numa ironia afiada sobre a vida e as suas dores. O problema surge quando o conteúdo filosófico e intelectual não consegue relacionar-se com substância emocional suficiente que nos invista.

É possível que este seja um dos filmes mais focados de Woody Allen, mas é talvez também esta arrumação pouco neurótica que contribui para a sensação de estarmos a ver um simulacro em vez de uma história.

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Nas interpretações, Joaquin Phoenix encaixa tão bem em Abe quanto oreos com um copo de leite. Por outro lado, Emma Stone contribui para a construção da jovem Jill com um charme inocente de alguém que procura resposta às questões mais profundas da vida.

Ainda no panorama técnico, vale a pena fazer uma melódica nota à banda sonora dominada por Bach e Ramsey Lewis Trio e ainda à fotografia leve e vibrante e Darius Khondji que entra em saudoso choque com o macabro do enredo, tornado o filme uma iguaria positivamente enganosa.

Como acontece com a generalidade do cinema de Woody Allen, este não é para todos os gostos – afinal, é tudo muito engraçado e honesto e relacionável com as nossas contendas emocionais e morais quotidianas, mas é evidente que este universo populado por intelectuais ligeiramente verborreicos que pensam que percebem a vida mas são péssimos a vivê-la não é para todos.

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Num sinuoso currículo de dezenas de filmes, “Homem Irracional” não tem estaleca suficiente para ir além de um lugar mediano na tabela.

Não é, de todo, irracional desejar que o próximo filme de Woody Allen seja um deleite irrefutável.

 

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