Manuela Maria e Ruy de Carvalho homenageados na 100ª representação de As Árvores Morrem de Pé

Dois dos grandes atores de Portugal foram homenageados no Teatro Politeama este sábado, na noite da 100ª representação da peça As Árvores Morrem de Pé. A Magazine.HD esteve presente no evento e conta-vos tudo…

Os célebres atores de teatro e televisão Manuela Maria e Ruy de Carvalho foram os protagonistas da noite deste sábado, 3 de dezembro, devido à 100ª representação da peça As Árvores Morrem de Pé, onde ambos participam. Depois de terem subido mais uma vez ao palco para interpretarem os seus papéis, o encenador da peça, Filipe La Féria, homenageou-os ao inaugurar uma placa com os seus nomes numa parede do andar superior do Teatro Politeama. Houve também direito a um enorme bolo, cortado pelo próprio Ruy de Carvalho.

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A entrega e a paixão transmitida por estes atores seniores durante a peça foi bastante notória. Bastou Manuela Maria e Ruy de Carvalho, de 81 e 89 anos respetivamente, entrarem em cena para toda a sala se encher de calorosos e entusiásticos aplausos. Quando questionado sobre a energia que tem ainda para trabalhar, Ruy de Carvalho respondeu:

“É esquecer-me que já estou velho. Tenho um miúdo com 18 anos que gosta de trabalhar, não quero morrer antes. Temos uma coisa que se chama vida para viver. Se nós abandonamos a vida e nos entregamos à morte antes dela vir, não vale a pena andar por cá. Portanto, vamos viver a vida, vamos sorrir para a vida, vamos ajudar os outros a viver melhor a vida. É o que nós tentamos fazer no espetáculo, o que um ator tem de fazer.”

Manuela Maria também mostrou o seu lado mais juvenil e não demonstrou qualquer cansaço: “Não, nada, nada. O público é outro. Portanto, para mim é sempre estreia”. A atriz explicou o receio inicial que teve em participar na peça, e chegou a recusar o convite de Filipe La Féria:

“Esta peça traz uma grande carga, porque foi representada e reposta várias vezes… era uma companhia do Teatro Nacional. Esta personagem era representada pela senhora dona Palmira Bastos [em 1966], e ainda hoje aqui em público algumas senhoras dizem ‘Eu vi com a Palmira Bastos’. E para nós é uma grande satisfação, porque elas dizem que gostaram muito. Mas quando o Filipe [La Féria] me disse para fazer a peça eu reagi dizendo que não, porque tinha na minha memória… eu também vi a peça com a senhora dona Palmira Bastos e adorei. Foi uma grande atriz, e isso assustava-me um bocado. Mas o Filipe insistiu muito, insistiu muito”.

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No que respeita a homenagens, ambos acham-nas simpáticas, mas o que os faz continuar é o público:

“É simpático, é muito simpático… mas eu não trabalho por homenagens (risos). O público para nós, atores, é tudo. É isso que nos faz continuar, os que cá estão. O Ruy, eu, o João D’Ávila… é isso que nos faz continuar. Já estamos todos reformados (risos)“, explicou Manuela Maria.

“Eu levo beijos muito saborosos, muito amigos. Pessoas que gostam de mim, que me tratam muito bem, dão-me muito carinho. É uma família… o público para mim é uma família, e eu considero-os como tal e trabalho como tal para eles”, revelou Ruy de Carvalho.

Para Filipe La Féria, trabalhar com os dois atores já não é uma novidade, e é sempre “uma maravilha”:

“Eu já trabalho há muitos anos com o Ruy de Carvalho, já fiz muitas peças com a Manuela Maria também. Eles há 25 anos estrearam este teatro com a minha peça Maldita Cocaína, foi a minha estreia neste teatro [Politeama]. São grandes amigos, já tiveram grandes interpretações, como em A Casa do Lago. São dois atores únicos, monstros sagrados do teatro português, e também toda a companhia, com o Carlos Paulo, o João D’Ávila… Todos sem exceção. As Árvores Morrem de Pé é uma peça que está aqui há cinco meses, já 100 representações, e está todos os dias esgotada.”

NOITE DE HOMENAGEM A MANUELA MARIA E RUY DE CARVALHO

As Árvores Morrem de Pé
Homenagem a Ruy de Carvalho e Manuela Maria
As Árvores Morrem de Pé
Parte do elenco de As Árvores Morrem de Pé com o encenador
As Árvores Morrem de Pé
Ruy de Carvalho cortou o bolo do evento

 

Entre os convidados estavam algumas caras conhecidas do público, como Júlio Isidro:

“Eu vi a estreia, e vi agora 100 sessões depois. Está ainda melhor, está mais solta, os tempos são extraordinários e a peça é um clássico. Esta peça já foi estreada em 1966, portanto tem 50 anos. Eu vi a peça com o anterior elenco e este elenco não lhe fica atrás, é uma recriação brilhante”. Em relação a Manuela Maria Ruy de Carvalho, o apresentador da RTP1 não tem dúvidas: “Posso só dizer que estamos na presença de dois dos maiores atores portugueses dos últimos 50 anos, pelo menos”.

A atriz Ana Brito e Cunha recorda também a grande figura do teatro que foi Fernando Cortez, falecido marido de Manuela Maria:

“O mais emocionante para mim hoje foi ver a Manuela Maria em palco, e o prazer de ver o Ruy, claro e toda esta companhia. Gostei imenso, os cenários estão lindos, o figurino está lindo… mas foi maravilhoso ver a Manuela Maria em cena. Tudo o que sou, aprendi com a Manuela e com o Armando Cortez. Portanto, isto para mim hoje teve um significado muito especial, parecia que eu sentia que o Armando estava sentado na plateia a vê-la trabalhar, e tocou-me imenso.”

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Também as atrizes Helena Isabel Sofia Arruda não ficaram indiferente às atuações:

“Acho que a adaptação foi muito boa. Eu vi a primeira versão na televisão, mas o Filipe [La Féria] conseguiu modernizar a peça, e depois tem a maravilhosa interpretação da Manuela Maria“, disse Helena Isabel.

“Gostei muito, é sempre um prazer ver o meu querido Ruy de Carvalho, que é muito amigo da minha família, é amigo pessoal. Além de ter sido a primeira pessoa com quem contracenei em televisão, foi o meu padrinho da representação. A Manuela é uma excelente atriz, o Ruy é um ótimo ator, portanto eu acho que eles fazem um casal maravilhoso. Toda a gente quer uns avós assim. O mesmo profissionalismo, a verdade com que eles estão ali em cima do palco, duas sessões por noite, como se viu… é maravilhoso”, explicou Sofia Arruda.

SINOPSE DA PEÇA AS ÁRVORES MORREM DE PÉ

“Morta por dentro, mas de pé como as árvores” é a frase mais célebre desta peça, dita por Manuela Maria e que pertence ao clássico texto de Alejandro Casona. Tudo começa quando uma organização, que pretende tornar as pessoas mais felizes com poesia e criatividade, decide aceitar o pedido de um senhor: o seu neto tornou-se um perigoso delinquente, mas ele quer esconder a verdade à sua mulher.

Durante vários anos enganou-a escrevendo-lhe cartas fictícias, supostamente do neto, criando a imagem de um famoso arquitecto que vivia no estrangeiro. Mas um dia, o verdadeiro neto envia um telegrama onde anuncia a sua chegada. Porém, o navio em que viajava sofre um naufrágio e todos os passageiros morrem. O senhor propõe à organização que coloque em sua casa um casal fingindo ser o neto e a sua mulher para tornar real a ilusão da avó. Mas algo inesperado acaba por lhes estragar os planos…

Além de Manuela Maria Ruy de Carvalho, fazem parte do elenco Carlos Paulo, Maria João Abreu, João D’Ávila, Hugo Rendas, Ricardo Castro, Paula Fonseca, Rosa Areia, João Duarte Costa, Patrícia Resende e os jovens atores João Sá Coelho, Pedro Goulão e Francisco Magalhães.

As Árvores Morrem de Pé encontra-se em cena até dia 1 de janeiro de 2017.

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