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Joaquim de Almeida regressa após 45 anos em Hollywood

Nem todos os caminhos levam a Roma. O de Joaquim de Almeida levou-o até Hollywood e depois, num último ato inesperado, de volta a casa.

Joaquim de Almeida não é apenas um nome na lista de créditos de um filme. É uma lenda viva, um dos raros atores lusos que conseguiu infiltrar-se no imaginário global sem perder o sotaque, a postura ou aquela ironia tipicamente portuguesa que o torna tão carismático. Agora, depois de 45 anos a conquistar Hollywood, o homem que interpretou vilões memoráveis, políticos sinistros e até o ocasional herói romântico decidiu que está na hora de voltar. Mas não como um epílogo melancólico—antes como um capítulo novo, escrito à sua maneira.

A sua carreira é um catálogo da história recente do cinema: desde os tempos em que os filmes ainda eram gravados em película até à era do streaming, das greves de Hollywood e das polémicas políticas que ameaçam a própria indústria. E agora, num gesto que parece saído de um dos seus próprios filmes, Joaquim de Almeida trocou Los Angeles por Lisboa. Mas porquê? E o que significa este regresso?

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Um final americano, um novo começo português

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Joaquim de Almeirda © Tinseltown via Shutterstock, ID 331916138

A notícia chegou sem alarde, como quem não quer fazer cerimónia: Joaquim de Almeida está de volta a Portugal, encerrando um ciclo de quase cinco décadas nos Estados Unidos. Não se trata de uma despedida—o ator mantém-se formalmente “reformado” do sindicato de atores americano, mas deixa a porta aberta para projetos que o desafiem. A diferença? Desta vez, será a partir de solo português.

A sua partida para os EUA, aos 19 anos, foi um salto no escuro. Na época, Portugal ainda vivia os ecos da Revolução dos Cravos, e o cinema nacional não oferecia as oportunidades que um jovem ambicioso como ele procurava. Formou-se em teatro e, contra todas as expectativas, conseguiu o que muitos considerariam impossível: tornar-se um rosto reconhecido no ecrã global. Trabalhou com Harrison Ford em “Perigo Imediato” (1994), contracenou com os maiores nomes da indústria e, em mais de 150 filmes, provou que um português podia ser mais do que o “bandido estrangeiro de serviço”.

Mas o mundo mudou. A indústria que ele conheceu já não é a mesma. Entre greves, pandemias e até ameaças políticas—como a proposta de Donald Trump de taxar filmes estrangeiros a 100%—, Joaquim de Almeida parece ter escolhido o momento certo para recuar. “O Donald Trump agora diz que quer aplicar tarifas de 100% a filmes feitos fora dos Estados Unidos. Quer dizer, isto é uma loucura total… deixa-se de fazer cinema”, comentou, de acordo com a SIC Noticias, com a franqueza que sempre o caracterizou.

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O legado e o futuro de Joaquim de Almeida

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Joaquim de Almeida em “Rainha do Sul” | © 2017 USA Network Media, LLC

O seu regresso não é um adeus ao cinema, mas sim uma redefinição. Joaquim de Almeida nunca foi um homem de meias-medidas: ou se comprometia totalmente a um projeto ou recusava-o. Essa mesma intensidade é o que o mantém relevante, mesmo agora, quando muitos da sua geração já se retiraram. A questão que se coloca é: o que pode Portugal oferecer-lhe? E, mais importante, o que pode ele oferecer a Portugal?

A resposta pode estar inegavelmente na própria evolução do cinema português. Assim, nos últimos anos, produções como “Variações” provam que há espaço para histórias universais contadas com sotaque luso. Joaquim de Almeida, com a sua experiência internacional, poderia ser a ponte perfeita entre os dois mundos—se assim o desejar. Ele próprio admite que não está fechado a novas oportunidades, desde que o desafio seja estimulante.

E, no entanto, há algo de poético neste regresso. Um homem que partiu em busca de um sonho e o realizou para lá de todas as expectativas, só para descobrir que, no fim, o que mais importa não são os Óscares ou os elogios da crítica, mas sim o sítio a que se chama casa.

Será que o cinema nacional está preparado para receber Joaquim de Almeida? Ou será que, desta vez, ele vem para nos ensinar algo novo? Deixe a tua opinião nos comentários.



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