Top 10 cinema italiano | 10. Ladrões de Bicicletas

Em Ladrões de Bicicletas, Vittorio De Sicca cristalizou o momento cinematográfico que foi o neorrealismo italiano, concebendo, em simultâneo, um retrato de dolorosa miséria humana.

 

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Título Original: Ladri di biciclette
Realizador:  Vittorio de Sicca
Elenco:  Lamberto Maggiorani, Enzo Staiola, Lianella Carell
1948 | 89 min


 

Talvez seja erróneo chamar ao neorrealismo italiano um movimente artístico, sendo mais adequado denominá-lo como um momento ou um poderoso pensamento coletivo. Vittorio De Sicca não foi o realizador que primeiro germinou os códigos e intenções que iriam definir este dito momento, nem mesmo o realizador que o popularizou e aperfeiçoou pois essas honras pertencem a Luchino Visconti e Roberto Rossellini. O que De Sicca realmente fez, especialmente neste filme, foi conceber o suprassumo exemplo do neorrealismo na sua mais pura e rarefeita forma.

Ladrões de Bicicleta

Ladrões de Bicicletas foca-se num dia na vida de Antonio, um pobre membro do miserável proletariado italiano na Roma do pós-guerra. Depois de a sua bicicleta ser roubada no início do filme, ele e seu filho passam o resto do dia em busca desse veículo essencial para o trabalho e subsistência do protagonista e sua família. A partir desta premissa narrativa, o filme constrói uma imperdoável visão da vida na capital italiana de então, capturando um mundo de injustiça social e institucional, uma pintura de miséria e desespero que culmina numa tentativa de roubo que abala o filme como uma explosão nuclear, pondo em causa a integridade e dignidade do seu protagonista adulto e quase despedaçando a frágil inocência infantil, que De Sicca utiliza como uma luz para iluminar e salientar a negrura da realidade abordada nesta obra. Este é efetivamente um drama do quotidiano, uma simples observação que, na sua casualidade e evasão de usuais dramatismos, sugere uma banal existência em que injustiças são lugares infelizmente comuns.

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Este é um filme neorrealista, pelo que existe uma certa crueza que se estende do uso de não-atores até à falta de iluminação atraente em cenas interiores. No entanto, o génio de Vittorio De Sicca está no seu magistral controlo do pincel que é a câmara, não explorando a miséria da vida urbana com uma inapropriada frieza clinica ou lúgubre fascínio. Há uma eloquência poética no modo como o realizador permite que o tempo se estenda naturalmente, serenamente enchendo o filme de silêncios e pausas na ação que, longe de caírem no poço do aborrecimento mortal, concebem uma empática e gentil representação do ritmo de uma vida humana. Para além de tudo o mais, de um ponto de vista histórico, Ladrões de Bicicletas é provavelmente um dos mais importantes artefactos a retratar a vida na Europa no imediato rescaldo da 2ª Guerra Mundial e as consequências sociais e económicas de tal calamidade, algo que não deveria ser menosprezado.

De um filme com quase 70 anos, que já adquiriu o estatuto de indiscutível importância histórica, seguimos para um filme que nem uma década tem, e cuja receção original variou grandemente entre apatia, hostilidade ou, ocasionalmente, apaixonado jubilo critico.

 

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