O Lobo Atrás da Porta, em análise
Num subúrbio do Rio de Janeiro, um triângulo amoroso alimentado pela mentira, desejo e perversidade, vai culminar numa tragédia em que a vítima é uma inocente.
O LOBO ATRÁS DA PORTA | UMA TRAGÉDIA CARIOCA
Grande Prémio do Cinema Brasileiro 2015 e considerado pela crítica, um dos melhores filmes brasileiros da actualidade, esta primeira obra conta com excelentes actores, dois deles conhecidos por cá pelas telenovelas da Globo: Leandra Leal e Juliano Cazarré.
A estreia nas longas-metragem do realizador paulista Fernando Coimbra, desvenda nos subúrbios do Rio de Janeiro um crime verídico, as histórias contraditórias dos seus protagonistas nos depoimentos policiais, que começam por justificar o sequestro de uma criança: Sylvia (Fabíula Nascimento) vai buscar a sua filha de seis anos ao jardim-escola e descobre que uma desconhecida antes dela levou a criança. O delegado da polícia (Juliano Cazarré) começa por chamar Bernardo (Milhem Cortaz), o pai da garota, para depor.
O homem confessa ao delegado o seu caso com a bela Rosa (Leandra Leal). Pouco a pouco, os depoimentos de Bernardo, Sylvia, e depois de Rosa vão desenvolvendo uma história de atracção fatal, onde se jogam sentimentos de amor passional, obsessão, traição e vingança. Tomando como ponto de partida o processo-crime e os depoimentos policiais, da histórica verídica passada na década de 60, agora transposta para os dias de hoje, Fernando Coimbra construiu um ‘filme direto’, com longos planos-sequência quase sem cortes, como se fosse rodado em tempo real e em jeito de inquérito-policial.
A história vai-se desenvolvendo em grandes planos e close ups, introduzindo mistério, intimidade (e ao mesmo tempo claustrofobia) e permitindo que o triângulo amoroso Sylvia-Bernardo-Rosa, expresse naturalismo e densidade dramática. No filme, todos falam muito, sobretudo nos depoimentos, mas acabam por ser os silêncios, que explicam tudo, denunciando a falta de comunicação dos protagonistas (inclusive na família de Rosa), que parecem agir sem pensar.
O argumento é complexo porque é sustentado pelos flashback, repetições e cruzamentos de cenas dos depoimentos na delegacia de polícia. Mas ganha no suspense, permitindo ao espectador ir desvendando aos poucos com a alternância de pontos de vista, a narrativa, e sobretudo a estranheza das personagens. Para analisar em pleno ‘O Lobo Atrás da Porta’ é fundamental realçar a interpretação dos actores, sobretudo de Leandra Leal (a Cristina da telenovela ‘Império’, da SIC), numa construção perfeita de uma personagem que vai da beleza e aparente serenidade, ao pior do género humano (e dos lobos). A direcção de fotografia de Lula Carvalho, retrata maravilhosamente as cores fortes e um tanto sombrias dos arredores cariocas.
Ver Trailer: O Lobo Atrás Da Porta
Consulta Também: Guia das Estreias de Cinema | Novembro 2015
JVM